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sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Os vendedores de fumo

Vivemos num país sem memória. Alguém já disse e cada dia acredito mais. Há muitos anos atrás em Teófilo Otoni, mais precisamente no mercado municipal que existe até hoje, tinhamos vários vendedores de fumo. Isso mesmo. Vendiam o melhor fumo da região e eram procurados pelos mais exigentes adeptos do tabagismo que "viam" e sentiam naquelas "preciosidades" um certo clima de status e prazer.

Os vendedores de fumo vinham de todas as regiões vizinhas e colocavam suas banquinhas em certo ponto do mercado. Curioso como sempre fui e amante das tradições da minha terra, eu ficava ali de olho naquela movimentação do vendedor e comprador. Sempre, em volta das banquinhas, rolava um papo agradável acompanhado de tragadas profundas e exclamações de euforia:"êta fuminho bão sô!".

Vinha fumo de todo lugar. Fumo de Novo Cruzeiro, fumo de Araçuaí, fumo de Carlos Chagas e por ai vai. Todos eram de ótima qualidade e tinham compradores certos. Fiado ou não, tudo era contabilizado pelos educados e simples vendedores.

Vendedor de fumo tinha uma certa arte no trato com o cliente. Primeiro mandava o comprador experimentar um cigarrinho e "vêr" se o fumo era bom mesmo. Após a ciência do preparo com muita paciência, aquele negócio de amassar o fumo na mão, preparar a palha e enrolar, vinha o experimento. O isqueiro era antigo e movido a querosene. Era chamado de "Binga", tinha um cordão vermelho que pegava fogo e acendia o "paieiro".

Após algumas baforadas e reflexões íntimas do viciado, vinha a confirmação:" esse é bão, vou levar 100 gramas" para satisfação dos dois, consumidor e vendedor. O fumo era enrolado em um papel e colocado numa sacola de pano que eles chamavam de "bornal".

Vendedor de fumo era unido. Todos se conheciam naquela época em Teófilo Otoni. Um deles candidatou a vereador e ganhou. Ficou conhecido como " o vereador Arnô do fumo". Dizem os mais antigos que o vereador Arnô do "fumo" não enrolava como os politicos da atualidade.


Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo)* Autor do livro: Retalhos da Tortura, publicado em 2006. Membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni-MG.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Os Ebionitas

" Afaste-se do mal, do vício, da mentira, da injustiça e da iniquidade. Pratique a caridade e a justiça, ame a verdade e a virtude. Deposite sempre confiança e esperança na providência e tenha fé no porvir da humanidade. A religião não consiste sómente em cumprir os dogmas e os sacrifícios, mas somente em amar e obedecer a Deus; praticar a caridade e a justiça; ter piedade do desgraçado; socorrer o pobre; proteger o órfão; defender a viúva; amar o estrangeiro. Estes atos são os que agradam a Deus, tanto ou mais que qualquer outra cerimônia do culto.

A faculdade de discernir e o conhecimento das coisas foram dadas ao homem para que possa separar o que é bom e útil do que é mal e prejudicial, para que saiba o que lhe é necessário, o que deve desejar e odiar a fim de alcançar o que lhe foi destinado, isto é, chegar a ser perfeito e feliz. O homem não foi dotado somente para pensar, mas sim para trabalhar, porque todo pensamento e todo conhecimento não são mais que meios, pois a ação é o fim.

A vida do homem é uma longa agonia. Sómente suas aflições ficam, seus prazeres são efêmeros e quase sempre de consequências nefastas. A vida não é mais que um sofrimento perpétuo: sofrimento do nascimento, sofrimento dos dias maus, sofrimento do fracasso e da irrealização dos nossos desejos e ilusões, sofrimento da velhice pela amarga decepção da vida e sofrimento final da morte.

Não há mais que um único meio de suavizar a miséria de viver, de tornar a vida mais tolerável: a prática da virtude. O único consolo consiste na posse de uma consciência sem mancha e um coração justo".



Extraido do livro: "Breve história do povo judeu" do autor Isac s. Algazi. * Os ebionitas judeus surgiram no século IX(A.C) até o século II(D.C), criada pelo profeta Samuel como "Humildes" e integrada pela "elite" intelectual da juventude de então e cujo principal objetivo era ensinar mediante a prédica, a propaganda e o exemplo. Dali surgiram profetas como Isaias, Oséas, Miqueas, Habacuc, Amós, astros luminosos que aclararam e honraram os Ebionitas.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

" Mudando de pau prá cavaco "

Ditado popular pode causar polêmica. Não é que um porteiro perdeu o emprêgo porque escreveu no diário da portaria: " Mudando de pau prá cavaco, o plantão foi normal".
Após voltar ao trabalho no outro dia, lá estava a síndica a esperá-lo e com o diário nas mãos questionou: " O senhor pode me explicar o que significa isso?"

Modestamente, o porteiro tentou explicar que "Mudando de pau prá cavaco" poderia significar "mudando de assunto". Mesmo assim, a síndica achou que " o pau e o cavaco " não estava bem explicado.

O porteiro, senhor da terceira idade, argumentou que aquele ditado popular era comum na sua esquecida terra do Vale do Jequitinhonha em Minas Gerais. Não houve acordo. O porteiro não aguentou a pressão do "Pau com cavaco" e foi embora.

Mudando de assunto, o porteiro não levou a firma "no pau" e recebeu um mísero "cavaco" de indenização. Dito e feito, aconteceu em Barbacena, mais precisamente nas Minas Gerais onde dizem ser "terra da liberdade".


Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho-(Téo Garrocho)- Membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni-MG.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

A partida de Sodito

Imagine que você está à beira do mar e vê um navio partindo.

Você fica olhando, enquanto ele vai se afastando e afastando, cada vez mais longe, até que finalmente parece um ponto no horizonte, lá onde o mar e o céu se encontram.

E você diz: " Pronto, ele se foi".

Foi aonde?

Foi a um lugar que sua vista não mais alcança, só isso.

Ele continua tão grande, tão bonito e tão importante como era quando estava perto de você.

A dimensão diminuida está em você, e não nele.

E, naquele exato momento, em que você está dizendo que ele se foi, há outros olhos vendo-o aproximar-se e outras vozes exclamando com júbilo: " Ele está chegando!"


Autor: Rabino Henry Sobel- Extraido do Livro: " Fé, Esperança e Amor- Nossos pais, nossa herança". História de Expedito Tomaz Cabral ( Sodito) e Nely Ferreira Rezende, uma homenagem dos filhos aos pais- Livro editado por EDIÇÕES SUBIACO- Juiz de Fora-MG-Ano de 2007.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Palavras do "Coração"

Quando eu era menino em Teófilo Otoni, eu queria mesmo era ser palhaço. Nos meus sonhos de criança, pensava que seria feliz e faria as pessoas felizes. Mais tarde, na minha juventude, pensava em ser jornalista. Levaria conhecimento ás pessoas.

Os anos passaram e houve um tempo ditatorial na nossa pátria em que me fizeram de palhaço. Um palhaço triste que não conseguia fazer as pessoas felizes e se tivesse sido jornalista, ficaria impedido de levar conhecimento ás pessoas e de expressar meus sentimentos de liberdade. Um tempo que me fazia lembrar Dante:"Entrai, eis aqui o inferno".

Como sempre amei e amo a liberdade, resolvi andar e conheci grande parte do Brasil. Nas minhas andanças aprendi a gostar dos livros e descobri que " a leitura é um ato de liberdade ". Assim, passei a ser um amante da leitura e fortaleci meus sentimentos de liberdade, estendendo-os em todos os lugares em que vivi nas minhas andanças.

Minhas senhoras, meus senhores: este meu ingresso na Academia de Letras de Teófilo Otoni tem um significado muito grande na minha vida. "Abro meu coração" e relembro os tempos de repressão na minha pátria. Confesso a todos vocês que muitas vezes estive caido nas sarjetas de becos e ruas da minha querida Teófilo Otoni. A falta de lucidez mental oriunda das sequelas da Ditadura Militar em mim, na minha mãe e irmãos, as lembranças do meu pai sendo torturado nos porões da Ditadura, não permitia naqueles momentos difíceis que eu enxergasse ou tivesse esperança em novos horizontes.

Abatido, voltava para casa e ali sempre encontrava a mão amiga dos meus queridos pais Laura Júlia e Tim Garrocho. Apesar da tristeza no olhar dos meus pais, eu sentia que o coração deles me dizia: " Amanhã será um novo dia meu filho, Deus é justo e perfeito ". É verdade, acreditei no amanhã, acreditei na resistência, acreditei nas palavras de Rui Barbosa que disse:" A pátria somos todos nós". Acreditei na liberdade, ainda que vinte anos tardia.

Assim, dedico meu ingresso como membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni aos meus queridos pais e irmãos. Estendo aos meus amigos de infância e juventude, aos meus bons e antigos professores, aos poetas e escritores, aos jornalistas e radialistas, aos historiadores, aos músicos, aos intelectuais e a todos os amantes da liberdade na minha pátria Brasil e em minha querida Teófilo Otoni, nossa terra natal.



Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho- (Téo Garrocho)-Palavras ao público. Posse na Academia de Letras de Teófilo Otoni-MG em 25-09-2009.