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terça-feira, 24 de julho de 2012

AS MARIAS DE TEÓFILO OTONI

Conheci muitas Marias em Teófilo Otoni, minha terra natal. Ali pelas bandas da Vila Verônica tinha tanta Maria que o lugar poderia ser conhecido por Vila das Marias.
Minha avó, uma imigrante polonesa, gritava para mim: " Vá na casa da Maria de Joaquim e leve estas quitandas". Outro dia era minha mãe que mandava buscar raiz de capim cidreira na casa de comadre Maria de Zezito. Assim, acabei acostumando e gostando das Marias. Para completar, acabei casando com uma Maria, a das Dores.
Mas, eu gostava mesmo era de uma menininha de cabelinho preto que ia todo domingo na missa da igrejinha  que se chamava Neusa Maria( filha de Dona Davina e sr. Ioiô) e de uma tal de Maria rabo de galo que morava no antigo rabicho. Isto mesmo, era o nome do lugar que Maria rabo de galo, filha do saudoso sr. Girau, morava com sua mãe e vários irmãos. O apelido de Maria rabo de galo, segundo os antigos, era devido ela gostar de uma mistura de vinho com cachaça e que naquela região chamavam de "rabo de galo". Mas, os maldosos da língua afiada diziam que o "rabo" de Maria eram "outros quinhentos".
Maria rabo de galo ou "outros quinhentos" sempre foi para mim uma jovem criança, um amor de pessoa . O que me fascinava era seu sorriso e carinho para com todas as crianças da Vila Verônica. Ela só vivia sorrindo, tinha os dentes alvos e lábios carnudos parecidos com os das lavadeiras do Rio Santo Marcolino que ficava ali atrás da Igrejinha Nossa Senhora dos Pobres.
Só uma vez eu a vi chorando. Foi quando o velho pai Girau veio a falecer. O corpo foi levado ao cemitério por vários jovens atiradores do antigo Tiro de Guerra (Exército), tendo em vista que seu irmão André, o famoso Lambreta, era soldado naquela época.
Com minhas andanças pelo mundo, fiquei muito tempo sem ver Maria rabo de galo. A vida é assim e muitas vezes deixamos para trás amores, paixões e amigos que amávamos. O tempo pode até passar, mas, creio que as boas lembranças sempre retornam daqueles que fizeram e ainda fazem parte das nossas vidas.
Alguns anos depois, encontrei com Maria rabo de galo. Ela trabalhava num bar em plena zona boêmia de Teófilo Otoni. Pedi uma cachaça misturada com vinho. Ela sorriu e disse que eu era um bom amigo. Não tinha esquecido dela ao pedir um "rabo de galo". Pois é, coisas da vida...


Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado a todas as Marias que fizeram e fazem parte da minha vida. Em 24/07/2012

quarta-feira, 18 de julho de 2012

TIM GARROCHO, O POLÍTICO QUE COLHIA FLORES

Estive escutando uma música com Nelson Gonçalves. Em um verso a canção diz que " Naquela mesa está faltando ele e a saudade dele doeu em mim". Lembrei de Tim que sempre foi apaixonado por política. Assim, cheguei á conclusão que o "velho" Tim Garrocho está fazendo falta naquela mesa de elaboração de leis em benefício do povo da cidade do amor fraterno.
Confesso que convivi muito com Tim, o político que gostava de plantar flores. Certa vez, eu até "roubei" uma rosa vermelha para deixar na porta do caminho da liberdade após as doze prisões que a ditadura militar o levou para longe de nós seus filhos e milhares de amigos que sempre admiraram sua postura em prol dos mais pobres e excluídos do contexto social.
Desde rapaz, Tim, o político que colhia flores, foi perseguido. jamais se dobrou ou curvou perante os autoritários e eventuais donos do poder. Sua voz sempre bradou forte em prol dos menos favorecidos e incomodou muita gente amante deste horrível sistema capitalista que adora prepotência e sente grande vaidade de ego em ver o mundo inteiro de "chapéu na mão" a implorar migalhas.
Tim, o político que colhia flores ainda vive. Tive notícias que ele ainda respira na cidade do amor fraterno. A Comissão da Verdade, a imprensa, a liberdade de expressão que ele tanto sonhou e em especial o povo de Teófilo Otoni estão trazendo vida ao Tim que colhia flores.
Quando penso em Tim, penso e relembro uma frase de Che Guevara: "Os poderosos podem matar uma, duas ou até três rosas, mas jamais poderão deter a primavera". Assim, o político Tim Garrocho que colhia flores está voltando justamente numa época em que as flores, assim como o povo, ficam mais felizes sonhando com uma cidade mais fraterna, humana e igualitária. Para nossa alegria, para alegria das flores e da democracia, TIM VEM AI!!!


Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado ao melhor povo do mundo, o povo de Teófilo Otoni, minha terra natal. Em 18/07/2012

CABO ELEITORAL EM TEÓFILO OTONI

Não gosto de farmácia. Quando passo perto costumo nem olhar. Detesto remédio e posso garantir que tenho raiva de doença. Penso que a minha doença é ficar remoendo torturas da ditadura militar não ter um pouco de recursos financeiros para aprimorar minha cultura. Gostaria de falar espanhol, inglês, italiano, francês e ler bons livros. Felizmente, inventaram a Internet e assim consigo melhorar meus parcos conhecimentos. Minha mulher e meus filhos sempre questionam o meu não comparecimento a consultórios médicos, hospitais, postos de saúde, farmácias,etc.
Outro dia, quando visitei minha terra natal, tive a grata alegria de encontrar com meu velho amigo Arnô do "fumo". Arnô chegou a ser vereador em Teófilo Otoni, representando os feirantes e concessionários de bancas no tradicional mercado municipal. Arnô vendia fumo de rolo muito apreciado pelas bandas dos Vales do Mucuri e Jequitinhonha.
Dizem os médicos, a ciência, os estudiosos do assunto, que o fumo mata. Tive um tio que morreu com noventa anos e fumava desde os 12 anos. O Arnô do fumo vendia fumo e nunca fumou. Dizem que ele anda muito adoentado. Como entender?
Arnô do fumo era cabo eleitoral de Dr. Petrônio Mendes. Um médico muito humano que foi prefeito de Teófilo Otoni. Dr. Petrônio foi perseguido e preso pela ditadura militar. Seu "crime" era ser popular, gostar de pobres e humildes, além de nunca cobrar consultas médicas. Para a ditadura militar, gente como Dr. Petrônio Mendes e meu pai Tim Garrocho, eram velhos comunistas.
Mas ai, como não tenho doença e você já deve estar questionando onde quero chegar com este texto meio doido, lembrei de outro cabo eleitoral de nome Pedro Paulo ou Pedrinho Jacaré. Ele fazia questão que o chamassem de PJ. Segundo ele, era codinome para despistar os órgãos de repressão. PJ chegou a ser candidato a deputado estadual. Isto mesmo, deputado!
Àquela época, diziam as más línguas que tanto Arnô do fumo e Pedrinho Jacaré não "batiam bem da cabeça". Eram dois "doentes" por política. Se eram, nunca me falaram...ou precisava?
Assim, na semana que vem, seguindo conselhos da minha esposa e meus filhos, vou entrar em contato com uma amiga minha que é psiquiatra. Já estou imaginando eu fixando meus "bagos" de olhos arregalados nela e ouvindo uma clássica pergunta: "Tudo em paz com você Téo?". Veremos...


Autor:Walter Teófilo Rocha Garrocho- Texto dedicado ao meu amigo e bom médico psiquiatra Walcir Costa( irmão de Barracão) em Teófilo Otoni-MG- Em 18/07/2012

terça-feira, 17 de julho de 2012

GETÚLIO NEIVA, UM BOM CORAÇÃO

Conheço Getúlio Neiva desde a época em que ele cantava junto com um conjunto musical em Teófilo Otoni. Realmente, ele cantava muito bem e até hoje tem uma boa oratória. Eu nunca admirei Getúlio Neiva pelo seu jeito de cantar. Eu comecei a admirar Getúlio Neiva quando ele se formou em jornalismo e passou a criticar e combater a ditadura militar em âmbito nacional e local. Foi ai que descobri que nós não estávamos sós no Vale do Mucuri.
Quando digo nós, refiro-me ao povo sofrendo retaliações do regime opressor e companheiros que foram perseguidos, presos e torturados pela ditadura. Em Teófilo Otoni foram muitos e cito como exemplo meu pai Tim Garrocho, Dr. Petrônio Mendes, Nestor Medina, Oldack Miranda, Dalton Godinho, Sadoque, Mauro Esquerdo, Precioso dos Correios, Davi "Boca de Mula", Edson Soares e muitos outros aguerridos companheiros.
Lá pelos idos de 1972, quando criaram aquela famosa " Caravana da Esperança", eu, precocemente politizado, sentia que aquele jovem de cabelos longos, seria a esperança de que um dia Teófilo Otoni iria mudar para melhor. Quero deixar bem claro que nunca acompanhei aquela tal caravana e nunca acompanhei ou votei em Getúlio Neiva. Meus ideais estavam "mais á esquerda" de muitos que faziam parte daquela caravana. Mas, confesso que sempre admirei Getúlio Neiva pelo seu jeito de expressar suas idéias com austeridade. Assim passei a respeitar o político Getúlio Neiva.
O tempo passou. Getúlio Neiva foi prefeito, deputado, etc. Penso que Deus,o arquiteto do universo, só nos proporciona o que merecemos e o que é justo. O pai de Getúlio Neiva, senhor Agnaldo Neiva, era muito amigo do meu pai Tim Garrocho. Quando ele visitava meu pai no nosso velho casarão e vendo meu pai passar por sérias dificuldades, ele falava: "Não desespere meu amigo Tim, Deus é justo e perfeito". Hoje, após tanto sofrimento que nossa família passou, relembramos as palavras do senhor Agnaldo Neiva  e acreditamos firmemente que Deus é bom, justo e perfeito.
Quando penso em justiça, lembro de uma obra feita por Getúlio Neiva que nunca esqueci. Aquelas escadarias nos morros e favelas de Teófilo Otoni. Toda vez que vou a Teófilo Otoni e ando pelos lugares mais humildes, imagino ser Getúlio Neiva possuidor de um coração bom e justo. Que o justo Deus, arquiteto do universo, ilumine sempre os caminhos de Getúlio Neiva, um bom coração!!!


Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado a Getúlio Afonso Porto Neiva, filho  
do saudoso Agnaldo Neiva em Teófilo Otoni. Em 17/07/2012- Barbacena-MG.

O HOMEM QUE CUSPIA FOGO EM TEÓFILO OTONI

Naquele cruzamento entre a Rua João Antonio e Frei Gonzaga, encontrei com meu velho amigo Serafim dos Anjos. Eu e Serafim fomos colegas no antigo Orfanato Coração de Jesus, onde hoje funciona uma Faculdade em Teófilo Otoni. Serafim era muito falador da vida alheia e muita gente dizia que quando ele abria a boca, "cuspia fogo".
Serafim deve ter a mesma idade minha, ou seja, deve estar chegando aos sessenta anos. Observo que Serafim parece sofrer com depressão. Olhar triste, muitas rugas no rosto, magro e cabisbaixo. Muitos amigos meus sofrem com depressão. Alguns já me confessaram ter essa tal depressão. Geralmente, aqueles banquinhos de praças públicas são ideais para confissões do sofrimento humano.
Não sou psiquiatra, mas, fico na minha simplicidade de intelecto, matutando o que leva o sujeito a sofrer tanto. Existem religiosos que dizem "ser o desejo material, a razão do sofrimento humano", outros dizem ser falta de Deus e outros mais dizem ser obra do maligno, rabudo, chifrudo e por ai vai.
Serafim, sentado ao meu lado, naquelas velhas escadarias da Rua Frei Gonzaga, diz que chegou á conclusão que "é um fracassado". Diz ainda que "não tem capital, perdeu a mulher para outro e sua única alegria é uma filha que se casou com um pedrista comprador e vendedor de esmeralda, uma pedra preciosa caríssima". Segundo ele, a filha ajuda-o com uma pequena mesada de cinquenta reais. " Dá para comprar cem gramas de fumo de rolo e um litro de pinga". Ele diz que bebe socialmente, uma antes do almoço e uma á noite para relaxar.
Confesso que achei uma miséria a mesada que recebe da filha. É bem provável que o genro pedrista forte não esteja sabendo da "mão de vaca" da sua esposa. Serafim diz que "está conformado" e é o "destino", "estava escrito", " foi Deus quem quis" e ponto final. Ele não quer  mais polêmica com ninguém. Diz que "sua língua cansou".
Ali, nos despedimos e cada um seguiu seu caminho. Ao passar em frente á Praça Tiradentes, avistei uma multidão que batia palmas, muitas palmas para um artista popular de rua que "cuspia fogo de verdade pela boca". A língua cansada de Serafim de tanto caluniar as pessoas, deve ter tido ciúmes...


Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado ao meu amigo José Alfredo Brandão, grande poeta e escritor de Teófilo Otoni-MG- Em 17/07/2012, Barbacena-MG.