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segunda-feira, 27 de setembro de 2010

A CORRUPÇÃO É ANTIGA

Meu pai sempre gostou de política lá pelas bandas do Vale do Mucuri. Chegou a ser vereador por três mandatos. Dizem que foi honesto e transparente com as coisas públicas. Meu pai era do tempo em que fio de bigode era fator de compromisso.
Sempre que vou a Teófilo Otoni, escuto centenas de pessoas que elogiam meu pai e sua vida pública. Confesso que me deixa feliz neste tão triste cenário político brasileiro em que vivemos atualmente.
Meu pai sempre conta o caso de um vereador que ganhou uma casa prometida por um antigo prefeito que pretendendo aprovar um projeto, precisava de mais um voto na câmara municipal. O prefeito mandou chamar o vereador que se mostrava contrário ao tal projeto do executivo.
Resumindo, o vereador exigiu uma casa em troca do voto para aprovação do projeto. O prefeito prometeu. Sendo assim, o vereador exigiu que o prefeito assinasse uma carta compromisso da promessa da casa. O projeto foi a plenário, votado e aprovado.
Algum tempo depois, o vereador foi ao gabinete do prefeito(velha raposa da antiga política mineira) e exigiu a prometida casa. O prefeito disse então que a casa já estava pronta e pediu ao vereador que a pegasse atrás da porta. Surpreso, o vereador olhou atrás da porta onde estava uma linda casa de João de Barro.
Protestos em vão. A carta compromisso só contemplava a doação de uma casa e não especificava o tipo de casa. Relembro o fato para refletirmos sobre corrupção. Coisa nojenta e antiga como a da casa civil de Erenice Guerra. Ou será casa da mãe Joana?


Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Barbacena(MG) em 27/09/2010

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

CATADOR DE PEDRINHAS NO VALE DO MUCURI

Eu fui um catador de pedrinhas
no Vale do Mucuri.
Catei pedrinhas no Rio Mucuri,
catei pedrinhas no Rio Todos os Santos,
catei pedrinhas, muitas pedrinhas...

Eu fui um catador de pedrinhas
alegre, sonhador, esperançoso
eram tantas as pedrinhas que
eu era assim...feliz...feliz...

Tinha pedrinha branca
que eu chamava de paz,
tinha pedrinha verde
que eu chamava de esperança,
as amarelas eu chamava de prosperidade...

Um dia pisaram na minha mão,
senti dor, protegi as pedrinhas,
pisaram com mais força, a dor aumentou
protegi as pedrinhas e senti muita dor...

O tempo passou, guardei as pedrinhas,
a dor tem passado, mas a cicatriz ficou.
Volto ao Vale do Mucuri das minhas pedrinhas
de paz, de esperança, de prosperidade,
volto para continuar catando pedrinhas...


Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Barbacena(MG) em 24/09/2010

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

DESCONTROLE

Meu quarto ficou velho, triste e solitário.
As cobertas ficam jogadas,
a cama sempre desarrumada, assim como os sapatos e os chinelos...


Durmo tarde e pouco.
A insônia me persegue
acompanhada de lembranças
que feriram minha alma.

Passo a mão pelo corpo esquelético.
Conto as costelas que são visíveis,
lembram-me grades da minha prisão espiritual...


Até quando esta tortura?
Mesmo que tentem, que me incentivem,
que me apóiem, que me dêem amor e carinho,
minha alma é só tortura,
parecendo não ter cura...


Vou indo pelos cantos do quarto e da vida.
Desarrumado, vou indo pela vida.
Meio aloucado e agitado interiormente.
Tudo está confuso, nem mesmo as janelas são abertas.


Tenho pavor do mundo e das perseguições dos
fantasmas imaginários...
Até quando esta tortura?


Pelo espelho pequeno e velho,
encaro-me e sinto tristeza.
Envelheci precocemente ou envelheceram
meu espírito?


São muitos questionamentos e não encontro resposta...


Outro dia me falaram, escutei que estou ficando louco.
Meu passado(filho de ex-preso político, ativista social, comunista, subversivo) me compromete.
perdoa-lhes, pai, eles não sabem o que dizem...



Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho). Barbacena(MG), 22/09/2010.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

SOB A BATINA DO PADRE

Na modesta Vila Verônica de Teófilo Otoni, que meu pai tinha o costume de dizer "ser um bairro diferente pelo fato de ali partir toda resistência à opressão dos mais pobres", havia naquela época uma escola para seminaristas. Vinham jovens de várias regiões para estudar e se tornarem padres.
O seminário ficava perto do nosso velho casarão e hoje é residência do conhecido Padre Giovani Lisa. O Padre Otaviano Magalhães dirigia esse seminário e era muito amigo do meu pai e nossa família. Eu costumava jogar futebol para o time dos seminaristas, a pedido do Padre Otaviano. A minha turma da Vila Verônica não gostava quando eu jogava para os "capões", apelido dado aos jovens seminaristas. Segundo Padre Otaviano Magalhães," eu valia por dois dos jogadores dele". Muitas lembranças daquele padre me vêm à mente e, sabendo que vários segmentos da Igreja Católica apoiaram o golpe e o regime militar, as ações de Padre Otaviano Magalhães muito me impressionavam e surpreendiam a todos nós.
Como amigo do nosso pai e da família, ele sabia de todos os movimentos do meu pai. Mesmo nos momentos em que meu pai era muito procurado pelos órgãos de repressão, ele sabia onde o mesmo estava, mas não o entregou aos seus perseguidores. Preferiu calar-se e, no fundo, talvez quisesse até participar junto com meu pai daquelas lutas sociais que tinham um único objetivo: defender os interesses dos mais fracos e oprimidos, dos sem vez e sem voz da região de Teófilo Otoni e Nordeste mineiro. No fundo, ele sabia que a luta do meu pai era válida para que tivéssemos uma pátria mais justa, mais humana, mais fraterna.
Altas horas da madrugada, ele batia à porta do nosso velho casarão e falava com nossa mãe que era preciso tirar as crianças naquele momento. Até parece que ele já sabia do perigo que todos nós corríamos à véspera do golpe militar e, muitas vezes nas madrugadas frias, eu e meus irmãos saíamos quase debaixo da velha batina do Padre Otaviano Magalhães, e íamos dormir no seminário para nos esconder da Ditadura Militar.


Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho). Texto do livro Retalhos da Tortura, do autor, páginas 53,54 e editado em 2006.