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sábado, 31 de agosto de 2013

JUCA, O MINEIRO QUE VIU O MAR PELA PRIMEIRA VEZ

Quando conheceu o mar pela primeira vez, o mineiro Juca levou um susto. A primeira impressão gravada em sua mente foi aquele "tantão" de água, a grandeza do oceano e aquele "encontro" lá no "fim" do mar com o céu. E Juca, entre mil pensamentos, ficava ali pensativo e admirando aquela criação de Deus.
Chovia fino e ventava. Juca nem ligava. As pessoas dali tinham o costume de dizer que se alguém fosse para a praia com aquele tempo, só podia ser mineiro. Abismado, Juca não tirava os "zoio" daquele mundão de água que parecia não ter fim e como num efeito de mágica hipnotizava aquele simples caipira do interior de Minas Gerais.
E foi então que Juca com "zoios" arregalados no "trem grande" ou no "bicho", voltou seu pensamento ao interior de Minas e lembrou do pequeno rio que passava nos fundos da fazendinha dos seus pais que ficava entre as muitas montanhas de Minas. Talvez ai a explicação de sua timidez, do seu jeito caipira ou do seu ar de desconfiança, adjetivos muito comuns nos mineiros.
Juca brincava com tanta areia. Imaginava até que poderia levar um monte para sua terra. Um siri passa em disparada e assusta Juca. Fosse uma vaca um cavalo arisco não teria assustado tanto o caipira acostumado á labuta da fazendinha. E Juca começa a catar conchinhas. Cata uma, duas, três. As conchinhas ele imagina que são as pedrinhas do mar, assim como também no pequeno rio tem muitas pedrinhas que ele junta em um bornal.
Juca encontra um palito de picolé e começa a escrever seu  nome na areia. A onda vem e desmancha. Juca escreve de novo e novamente a onda apaga. Juca então sobe um pouco mais e escreve. A onda não consegue mais apagar seu nome. Juca então lembra que uma vez escutou um poeta dizer que "voa e vê melhor quem voa mais alto" e assim Juca não mais parou de escrever. A inspiração vinha do alto e no alto.
O "bicho" mar encanta Juca e quando a moça bonita passa, seu rosto fica vermelho aumentando sua timidez de homem das montanhas. Juca olha de mansinho o "trem bão" e pensa nas moças da sua terra que tem o costume de fazer biscoito de goma nos fornos a lenha no quintal da fazendinha. Juca pensa que o "trem" daqui é bom, mas o "trem bão" de lenço na cabeça e vestido de flores amarelas é mais bonito. E Juca sente saudade.
E Juca resolve entrar na água para se banhar. Entra de mansinho sem fazer alarde. Antes, se benze. Dizem que todo mineiro faz este gesto antes de entrar na água do mar. Juca pensa: "Vai que tem uma pedra ou um tubarão" e "Eu num sou besta não sô". E falando em tubarão, Juca lembra de suas pescarias de pequenos lambaris que são preparados e fritos pelas moças de lenços nas cabeças e vestidos de flores amarelinhas.
Como tudo tem volta, amanhã Juca vai voltar para Minas Gerais. Uma cigana passa pela praia e pede a mão de Juca para ler. Juca não acredita muito, mas vai que ela fala uma coisa boa. .. A cigana disse que " Juca vai morrer com 98 anos". E a felicidade?, pergunta Juca. A cigana disse que " a felicidade de Juca está lá no interior de Minas Gerais onde tem uma fazendinha onde corre um pequeno rio no fundo do quintal e onde também tem uma moça de lenço na cabeça e vestido de flores amarelas fazendo biscoito de goma". Juca pensa: "Mas môço, num é que a danada da cigana acertou!". "Ô trem bão sô, grita alegremente Juca correndo para a estação. Afinal, mineiro nunca perde o trem...


Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho (Téo Garrocho)- Texto dedicado ao meu amigo de infância e juventude Walter Fernandes (Waltinho "Melancia"), filho do saudoso ex. ferroviário Sebastião Fernandes, em Teófilo Otoni-MG- 31/08/2013, Barbacena-MG.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

FAMÍLIAS EM BRIGA EM TEÓFILO OTONI

Virgulino, mais conhecido por Lino é meu companheiro de banco. Não, não sou bancário e nem banqueiro. Como a maioria do povo brasileiro, não possuo conta bancária. Eu e o velho Lino somos companheiros de banco de praça.
Tenho o costume de sentar em banco de praça desde menino, depois rapaz e agora velho, aliás, idoso. O banco de praça sempre me encantou. Fica ali à disposição para você sentar, relaxar, trocar dedinho de prosa, apreciar o movimento das pessoas, curtir a pracinha e você não paga nada, além da vantagem de não ter filas, como nos bancos privados ou do governo.
Pois bem, semana passada eu e o Lino ficamos ali sentados num daqueles bancos da Praça Tiradentes e conversa vai, conversa vem, o Lino confessou estar chateado com o síndico do prédio onde mora atualmente. Conheço o prédio que fica num bairro onde grande parte dos moradores tem uma vida mais confortável em se comparando com outros bairros de Teófilo Otoni. Sem esperar que eu perguntasse o motivo, Lino adiantou e disse que o síndico proibiu sua mulher de estender roupas na cobertura ou terraço do prédio.
"Vê se pode amigo Téo, o que ele pensa que é? Qual o problema da Terezinha estender umas roupinhas no terraço? Esbravejava o amigo Lino com evidente sintoma de raiva, tendo em vista que cuspiu de leve no meus rosto e babava pelos cantos da boca. Pela experiência em babar, já que muitos da minha família tem o costume de babar até quando dormem, fiquei ali em silêncio escutando o desabafo do velho Lino. Sempre gostei de escutar meus amigos e até mesmo pessoas que muitas vezes vejo uma vez só em pontos de ônibus e nas esquinas das ruas. Minha avó Verônica, uma imigrante polonesa, dizia sempre: "Escuta muito e fala pouco. Quando falar, fala o que te sai do coração". Assim, muitas vezes me tornei até um conselheiro para muitas pessoas. Mas, pode acreditar que nunca fui nenhum santo e já passei por muitos momentos de tensão e raiva. Mas, raiva mesmo!!!
Meu amigo Lino se despede e fiquei ali pensativo e solitário no banco da praça olhando meio absorto para o " tempo" e cochilei envolvido em sonho de que " eu morava no Bairro Ipiranga em uma belíssima mansão com muitos quartos, jardim com gramado imenso e belas plantas, uma bela piscina para meu lazer e amigos íntimos. Com o calor intenso de Teófilo Otoni, resolvo dar um mergulho na piscina ao lado da minha amada Dadazinha e bebericando um Whisky tipo cowboy. Afinal, eu mereço. Sempre tive uma vida de luxo conquistada com muita maracutaia em cargos políticos ao longo dos meus mais de sessenta anos "sem fazer nada", ou seja, só mamando nas tetas do governo, ou seja, do povo".
Nem dei o primeiro mergulho e a mequetrefe da minha colaboradora Soninha veio avisar que tinha um senhor insistindo em falar comigo. Para minha surpresa e minha chateação era o vizinho Lino que implorava meu gramado para sua esposa Terezinha estender roupas".
Foi ai que o guarda Vasenildo que trabalha na Prefeitura de Teófilo Otoni me acordou e pedi a ele que não me prendesse. Assim como na música de Marrone, eu também dormi na praça. Cruz credo, ainda bem que foi tudo um sonho!!!

Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado á Professora Izabel Onofre, esposa do meu bom amigo e primo Amadeu Antonio Onofre (Dedeu) em Teófilo Otoni-MG, em 30/08/2013- Barbacena-MG.

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

CLAMANDO POR DEUS EM TEÓFILO OTONI

Raramente escrevo sobre Deus. Hoje resolvi falar um pouco sobre Deus ou questionar sobre Deus. Afinal, quem é Deus? Negro, branco, mulher, homem? Existe Deus com fome? Existe Deus com território marcado? Existe Deus que mata crianças? Existe Deus que discrimina? Existe Deus que tortura? Existe Deus mais rico ou pobre?
Afinal, quem é Deus? Será Deus o mesmo que habita nas favelas dos oprimidos o mesmo Deus que habita nos prédios e mansões da luxuosa Dubai? Será Deus o mesmo que habita nas mansões de alguns religiosos o mesmo Deus que habita nos trapos humanos que sobrevivem embaixo dos viadutos? Afinal, quem é Deus? Será Deus a nossa consciência ou nossa indiferença? Será Deus um sírio impiedoso ou uma ditadura egípcia que faz tremer Moisés no túmulo?
Será Deus o mesmo Deus que clama o nordestino brasileiro do sertão pobre e sem água o mesmo Deus que habita nas mansões da maioria dos políticos brasileiros? Será Deus o mesmo Deus que habita no coração do Gay justo e piedoso o mesmo Deus que habita no coração do discriminatório e puritano deputado pastor Marcos Feliciano? Afinal, quem é Deus? Será Deus o mesmo Deus que criou o Coronel militar da Polícia Militar de Minas Gerais, Klinger Sobreira de Almeida, que torturou barbaramente meu pai nos porões da ditadura militar, o mesmo Deus que habitou sempre no coração do meu pai ao ponto dele dividir seus bens materiais com os mais pobres? Será Deus o mesmo Deus que faz morada na casa branca de Obama o mesmo Deus que manda torturar presos na prisão de Guantânamo?
Afinal, que é Deus? Será Deus o mesmo Deus que fez o poeta Castro Alves escrever: "Deus, Deus, onde estás que não me respondes? ou será Deus o mesmo Deus que o ajudante de pedreiro Amarildo também implorou nas mãos malditas e torturadoras dos seus algozes?
Afinal, quem é Deus? o mesmo que está simbolizado pregado num crucifixo de madeira comum nos casebres brasileiros da pátria de todos(?) ou será Deus aquele pregado em crucifixos de madeira de lei nos gabinetes luxuosos da maioria dos políticos corruptos da pátria Brasil ? Afinal, Quem é Deus???

Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado ao meu irmão Ismar Napoleão Garrocho, residente em Azambuja-Portugal-Europa, um justo cristão. Em 28/08/2013, Barbacena-MG.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

O MUNDO É ASSIM

Sim, o mundo é assim. Pensava o aposentado Malaquias debruçado na janela do seu barraco, enquanto lá fora chovia sem parar. Toda vez que chovia forte sem parar, Malaquias tinha costume de debruçar sobre a janela e pensar. E Malaquias pensava, pensava, pensava...
Enquanto Malaquias pensava, vez ou outra, passava alguém na rua. Um barro vermelho já preocupava, tendo em vista que toda vez que chovia muito, as pessoas que estavam em cima do morro não desciam e as que estavam em baixo não subiam. Ora, pensava Malaquias, se naquela região chovesse durante um mês, os de baixo não subiriam tão cedo e os de cima não desceriam tão cedo. Assim, aquela região sofreria situações complicadas e acabou acontecendo.
Na região de baixo moravam pessoas mais estáveis financeiramente que tinham de tudo materialmente, mas ,segundo elas, viviam muito solitárias, além de dependerem das pessoas de cima que segundo elas viviam felizes apesar das carências materiais. Os de baixo tinham contas correntes milionárias e até cofres camuflados em paredes com segredos que só eles sabiam. Da turma de cima só Deus sabia. Só Deus...
E Malaquias ficou ali um mês pensando. Em cima ninguém descia e em baixo ninguém subia até que a chuva deu uma trégua e parou. Assim também Malaquias parou de pensar. Então, um passarinho passou voando, o galo de dona Efigênia voltou a cantar, o cachorro do senhor Zequinha voltou a latir e dona Candinha tentava andar pelos cantos da rua barrenta de cor vermelha.
Malaquias foi até a sala e contou para Tuninha que o mundo é assim: "Um depende do outro e ninguém consegue viver só. Os estáveis financeiramente também sofrem e se igualam aos menos estáveis financeiramente. Na dor os opostos se juntam, se unem. Na dor, sofre mais quem vive só e para saber o segredo de tudo só Deus, que sabe até o segredo do cofre. O cofre da sabedoria!!!".
Assim, Malaquias que ficou ali um mês pensando, alisa a cabeça do seu velho cachorro Bobi Ringo enquanto calça um velho sapato preto e resolve sair. Antes, passa na cozinha, come duas bananas caturra e bebe um copo com café e leite. A mulher Tuninha que tricotava uma touca de lã, ao vê-lo saindo, avisa em voz alta: " Cuidado meu velho para você não se perder no mundo".
O pensador Malaquias já está aprendendo a senha do segredo do cofre da sabedoria onde está escrito que o princípio de tudo é o temor a Deus, um ser superior. Feliz com tudo, o amigo cachorro Bobi Ringo abana o cabo e se despede de Malaquias que desce o morro pelos cantos da rua barrenta de cor vermelha, assim como dona Candinha e vai ao encontro da turma de baixo que ainda sofre por não conhecer o segredo da verdadeira sabedoria.


Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho (Téo Garrocho)- Texto dedicado ao meu amigo Magno Siqueira(Maguinho), empresário e fazendeiro em Araçuaí-MG. Em 26/08/2013, Barbacena-MG.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

ANALISTA POLÍTICO EM TEÓFILO OTONI

O senhor Juvenal trabalha há muitos anos na função de porteiro em um condomínio em Teófilo Otoni. Juvenal está próximo da sua aposentadoria e confessa que já não tem ânimo e o mesmo vigor de antes para o trabalho que executa no horário noturno. Juvenal confessa que de uns tempos para cá, "a saudade da cama à noite tem se tornado incontrolável". A verdade é que Juvenal precisa aposentar e segundo ele "tá na hora de pendurar as chuteiras" e oferecer a vaga para um mais novo. Juvenal acredita que tudo na vida precisa se renovar e " A vida é assim mesmo, Deus trabalhou seis dias e descansou no sétimo", completa Juvenal meio abatido como se fosse um boi a caminho do matadouro ou um moribundo visualizando entre nuvens a porta do Laborum Meta ou cemitério como queiram.
Sempre que passo ali pelas bandas do Bairro Marajoara, gosto de trocar um dedinho de prosa com senhor Juvenal que ficou meu amigo a partir do momento que dei atenção a ele com seus mais de sessenta anos e em silêncio escuto suas estórias e histórias de vida. Senhor Juvenal diz que gostou de mim a a partir do momento em que dei atenção a um idoso. Segundo ele, " O idoso é muito esquecido no Brasil e precisa ser olhado com mais carinho". Tenho convicção que o Juvenal porteiro é mesmo um filósofo, um observador nato de todos os movimentos da vida com uma ética de fazer inveja a muito homem diplomado em Universidade. Admirado com meu novo amigo, passo pela portaria do prédio onde trabalha e faço questão de escutá-lo. Assim aprendo um pouco mais sobre a sabedoria popular e seus inúmeros tipos que tanto engrandecem a cultura no Brasil.
Certa noite, ele convidou-me a conhecer seu ambiente de trabalho. Ele disse que são raros os que ele deixa adentrar ali. Segundo ele, "por motivo de segurança". " Não importa se ganho pouco ou muito. Preciso cumprir minha obrigação com meu patrão que tem sido justo comigo e...quem é honesto no pouco é honesto no muito", completa Juvenal que me encanta com sua tão decantada honestidade e transparência em uma pátria de inúmeros políticos que roubam o dinheiro publico.
O ambiente de trabalho é simples assim como o ocupante do horário noturno. Senhor Juvenal tem um pequeno rádio portátil e uma televisão. Segundo ele, os dois aparelhos trazem muita informação para que ele possa saber o que está acontecendo no mundo atual. Segundo Juvenal, ele gosta muito de documentários que falam de história passadas. Segundo ele, são maravilhosas as histórias dos Incas, Maias, Astecas, além das histórias de outros países milenares. Ele gosta de falar sobre a Revolução Francesa e sente emocionado quando escuta o hino francês que em certo momento diz: "Vamos filhos da pátria, o dia de glória chegou...".
Senhor Juvenal possui um rico vocabulário que às vezes se mistura com um linguajar simples de homem do semiárido mineiro. Pode-se afirmar que o mesmo é um autodidata. Pelas palavras e argumentos conclui-se que o Senhor Juvenal "entende superficialmente" da teoria de Marx e analisa em sua simplicidade de entendimento as vantagens e desvantagens do Capitalismo, Socialismo, Monarquia, Parlamentarismo, Comunismo e muitos outros "ismos".
Em relação a Teófilo Otoni, ele em sua simplicidade de análise, diz que a mesmice na política é muito visível e "é bem provável que o ciclo da mesmice esteja no final". "Deus permita e o povo conscientize que já passou da hora de mudar a mentalidade e criar novas lideranças numa terra onde é comum escutar que "fulano rouba, mas faz". Ou a famosa e antiga citação que em Teófilo Otoni "tem cabeça de burro enterrada e nada vai para frente".
Assim como o senhor Juvenal, eu também observo a política de Teófilo Otoni e da minha pátria. Confesso que sinto vergonha de ver que em Teófilo Otoni e em minha pátria existem políticos que são profissionais no engôdo ao povo. Este mesmo povo a exemplo de Juvenal porteiro que põe a cabeça no travesseiro e pensa: "será que minha cabeça é de burro e foi enterrada lá na praça Tiradentes de Teófilo Otoni?". Então, está na hora de acordar após décadas de desmandos e enganação. Que tal o povo da cidade do amor fraterno mandar a turma de mequetrefes corruptos fazer figuração no programa Zorra Total onde tem um "esperto" (como em Teófilo Otoni) em política com p minúsculo que fala: "Meu negócio é por trás". Cruz credo, cruz credo...
Qualquer noite vou visitar o senhor Juvenal. Tenho sentido sua falta. Quero analisar junto com ele os movimentos sociais que estão acontecendo na tão falada pátria de todos. Até os velhos estilingues e bolinhas de gude voltaram a ser referência e vendidos nos atos de protesto. Lembro que já participei de passeata contra a ditadura militar e soltei um saco daquelas bolinhas de gude nas ruas. Tarefa cumprida e não me arrependo. Afinal, ditadura e corrupção só se combate com povo nas ruas. Espero e acredito que o porteiro Juvenal participará dos protestos que virão em breve. Não foi a toa que observei um velho estilingue preso ao seu velho cinto e matar passarinho ele nunca matou, sempre foi um amante da natureza, da terra, da pátria.


Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho( Téo Garrocho)- Texto dedicado á  jovem Wilmeia Garrocho Noronha, minha querida sobrinha e professora em Teófilo Otoni-MG- Em 23/08/2013, Barbacena-MG.

JOVEM GUARDA DE 70 EM TEÓFILO OTONI

Eu sempre fui chegado a um dedinho de prosa com alguns amigos e amigas que marcaram minha vida em Teófilo Otoni. Até um certo tempo morei ali e após 1974 fui andar pelo Brasil onde conheci povos maravilhosos e aprendi a aprimorar minha vida em convívio com diferentes culturas.
Mas, as raízes não esquecemos e quando posso retornar à minha terra natal, fico sentado na pracinha com alguns daqueles amigos ou amigas que a gente não consegue esquecer e o assunto não poderia ser outro: Lembrar de fatos passados que marcaram de alguma forma nossa convivência em Teófilo Otoni. Para ser sincero e sem muita delonga, nossa turma era irreverente para os padrões da época. Havia gente que comentava sermos nós um povo "pinel". Havia sempre, naquela turma, uma roupa diferente, sapato diferente, pulseiras de couro, cabelos longos, músicas tipo rock ou Wandré, forma de pensar diferente numa época de ditadura militar, onde os direitos individuais e liberdade de expressão foram banidos do contexto da sociedade.
Para se juntar á nossa turma, o cara tinha que assumir a irreverência e suportar as línguas afiadas de uma sociedade conservadora que, por vários motivos, ainda não estava preparada para entender aquela forma de pensamento onde o importante para nós era a contestação a grande parte de conceitos, muitos arcaicos, que tentavam nos impor nas escolas, igrejas e nas ruas.
Lembrando daqui e dali, nunca vou esquecer do meu inteligente amigo "Barracão", irmão de Dr. Walcir Costa, que fez um aparelho de rádio transmissor. Eu e Barracão sintonizávamos o aparelho na onda da rádio local e o povo da Vila Verônica só escutava o que a gente transmitia ao vivo. Meu Deus, aquilo quase deu "um bode do diabo". Teve muita gente da turma dedo duro da ditadura militar tentando nos enquadrar na famigerada e arcaica Lei de Segurança Nacional. Quanto atraso, quanto atraso...
Os cabeludos, como eu, eram muitos e uma certa vez tive que correr muito de um pessoal  dali do morro da Copasa que, de pedras em punho gritavam em coro: "Olha a cabeleira do Zezé, será que ele é...será que ele é...". Cruz credo, cruz credo. Mas, depois veio o cabeludo Dida, o cabeludo Petrônio de Jupiro, Peixe Cobra, Rossine, Tadeu Franco, Paulinho e Aécio Dantas, Jadir Barbosa, Nuno Melgaço, Zé Ramiro Geoking, Jorginho Maravilha, Omar Garrocho, Fernando Taipina, Artur Guedes( Tusa). Jorge Gomes, Mauricio "Negão" e muitos outros.
Para terminar a lembrança daquela turma de "doido" para a época, nunca vou esquecer das inúmeras boites que existiam em Teófilo Otoni e algumas fascinavam nossos olhos e desejos com aquelas luzes negras, a exemplo da Boite Pilão, Boite Obaluaê, Itaoca e muitas outras. Para terminar noites de irreverência, a gente dava um pulinho ali pelas bandas do Chico Sá, a maior zona boêmia do Nordeste de Minas Gerais. Quem conheceu não esquecerá jamais. Assim como o velho trem a lenha da antiga Estrada de Ferro Bahia Minas, tudo ficou mesmo na saudade." Velhos tempos, velhos sonhos.."


Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho (Téo Garrocho)- Texto dedicado a todos aqueles que preservam a história da nossa terra natal, Teófilo Otoni. Em 23/08/2013-Barbacena-MG.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

OS IRMÃOS DO PEDREIRO AMARILDO EM TEÓFILO OTONI

Zé pereba e Pedro piolho são irmãos e fincaram na entrada da favela do subaco fedendo em Teófilo Otoni, uma placa de papelão com os seguintes dizeres: " Peroba e Piolho, fazemos bicos". Na verdade, tanto Piolho quanto Pereba são nada mais que dois trabalhadores desempregados e sem nenhuma qualificação que procuram desesperadamente uma oportunidade para ganhar alguns trocados na luta pela sobrevivência na tão falada pátria de todos.
Pereba diz que ultimamente tem sentido fome de uns tempos para cá. Sem trabalho fica difícil e "roubar não sei e nem quero". Já o irmão Piolho diz que "é triste viver nessa situação e tem dia que a gente até come talos de colonhão". Para quem não conhece, colonhão é um tipo de capim vistoso muito apreciado pelas vacas, bezerros e garrotes. Piolho diz que até lembra da música de Zé Ramalho intitulada de Vida de gado.
Pereba comenta que entende de tudo, ou seja, conserta ferro elétrico, chuveiro, panela de pressão, pia entupida e muito mais. O irmão Piolho entende de cuidar de jardins, limpa e roça quintal, lava carros, engraxa sapatos. Tudo indica que os dois irmãos são mesmo entendidos na arte de fazer bicos, coisa comum nos brasileiros tão criativos. Mas, não estão conseguindo clientes.
Dona Maricota, beata fervorosa da igreja de Roma, sempre que pode, leva umas coisinhas de comer para os dois irmãos que perderam os pais muito cedo. Segundo Dona Maricota, os pais morreram devido ao vício da malvada cachaça. "Conheci os pais dos dois. Bebiam cachaça de dia, de tarde e de noite. Morreram dormindo que nem passarinho", lamenta a Bondosa Dona Maricota segurando o livro sagrado por baixo do subaco ou axilas como queiram. 
Diferente de Dona Maricota, o autoritário guarda municipal Tim que é mais conhecido por Tim "sapo" e tem um imenso bigode de dar inveja ao mais tradicional gaúcho, alfineta: " Não passam de dois vagabundos. Comem e dormem o dia todo". Segundo o povo da comunidade o guarda Tim "sapo" não passa de um metido a rico só porque trabalha para a prefeitura, sinônimo de "superioridade" na favela.
Lurdinha, uma ativista social e contrária ao pensamento do guarda municipal, diz que o guarda "pensa que é polícia e quer mandar na gente. Ah! coitado, foi-se o tempo da ditadura no Brasil ". Esbraveja levantando o punho esquerdo e beijando o símbolo do MIP,( Movimento Independente Progressista). Movimento este, criado por um ex. Vereador comunista muito querido em tempos passados.
Vagabundos ou não, os irmãos Pereba e Piolho são na verdade seres humanos excluídos do contexto social vivendo ali na favela do subaco fedendo. Amparados sempre quando possível por bons corações a exemplo de Dona Maricota e defendidos por algum ativista social a exemplo de Lurdinha do MIP, eles ainda terão que suportar sempre o autoritarismo, prepotência e discriminação do guarda Tim"sapo" que é metido a polícia, em pleno século XXI. a querer mandar no povo, torturar o povo e matar o povo se possível.
Assim como Pereba e Piolho, o irmão operário Amarildo, ajudante de pedreiro da favela da rocinha são cópias fieis da pátria de todos(?) chamada Brasil. Até Quando???


Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado ao meu amigo de militância política em Araçuaí-MG, Dr. Eustáquio Azevedo Rocha, o popular Tute Advogado. Em 16/08/2013, Barbacena-MG. 



segunda-feira, 12 de agosto de 2013

FUTEBOL ANTIGO EM TEÓFILO OTONI

Quando a gente pensa que já viu ou sabe de tudo na vida, aparece sempre alguma coisa nova para justificar que somos realmente eternos aprendizes. Não sei explicar o dom ou doença, mas tenho o costume ou mania de não esquecer de fatos passados. Eu tinha um tio de nome Silvio que era carinhosamente chamado pelo apelido de "Tussa" e comparado com ele sou um iniciante na arte de relembrar fatos passados. Tussa sabia de tudo e inclusive em dia de finados ele ficava no cemitério falando detalhadamente como sicrano ou beltrano havia falecido, etc.etc.
Mas, voltando á minha memória, uma certa vez ao acompanhar um candidato a deputado em visita a um pequeno povoado onde trabalhei e residi por alguns anos e já no veículo em que estávamos, comecei a falar do lugar citando nome e apelidos de quase todos os moradores como é de costume em pequenas Vilas e povoados de Minas Gerais.
Num certo momento, o então candidato perguntou-me há quanto tempo eu tinha partido daquele lugar e quando respondi, ele disse: "Olha rapaz, você está de parabéns. Sua memória é impressionante. Se fosse eu, já teria esquecido de quase todos". Acostumado ao esquecimento de políticos, nem questionei o tal cidadão.
Assim, vez ou outra, fico lubrificando a máquina da memória que me trás coisas simples, coisas alegres e a maioria coisas tristes que já presencie neste mundo tão carente de amor e fraternidade. Assim, escrevo para minha satisfação e penso, para poucos leitores e amigos que me honram com as leituras dos meus simples escritos. Confesso que não tenho pretensão de ser conhecido pelos escritos ou pelo que penso. Sou avesso a honrarias, mídia, sucesso e por ai vai. Tive tantas decepções na minha vida que não me preocupo com vaidade de ego, coisa comum em alguns seres humanos.
Gosto da escrita simples como simples fui e sou. Gosto de escrever aos simples que foram maioria na minha convivência pessoal. Gosto de escrever aos que ficam em silêncio lendo "meu coração", até porque sempre fui um carente de ombros amigos, principalmente na minha infância e juventude. E, nem preciso explicar o motivo de tanta carência...
Lubrificando daqui e dali a minha memória, lembrei de um amigo em Teófilo Otoni que se chamava Mário e tinha o apelido de Mário "Cavaquinho". Ele, assim como eu, gostava de futebol. Certa vez, o Mário cavaquinho trouxe um cara para jogar no nosso time. Tudo bem. Só que olhei para o cara e observei que o cara era "caôlho" e cheguei até o Mário e falei: "Cavaquinho, o cara é cego de um olho". E, Mário respondeu: " Olha aqui Téo, em terra de cego, quem tem um olho é rei".
Cego ou não, o tal sujeito jogava bem futebol e não gostava de ser chamado pelo nome correto. Ele jurava de pés juntos que "os pelos arrepiavam" quando a torcida feminina gritava em coro: " Vai caôi, faz mais um gol prá gente ver".
Pois bem, para encerrar lembranças de deficiência visual, comentei o caso do jogador Caôlho com meu vizinho José que mudou-se de São Paulo e reside próximo á minha casa. Sujeito de quase setenta anos, sério, boa índole e que sempre me convida para acompanhá-lo em cultos de uma igrejinha de fé distante uns 10 quilômetros via BR asfaltada e com muito movimento de tráfego de veículos.
Muito religioso, José, ao escutar meus comentários dentro do veículo, diz que "essas manifestações são coisas de Deus e quando Deus quer, até um cego dirige um carro". Confesso que senti um frio na espinha dorsal quando meu amigo José completou seu raciocínio: "Veja você Téo, eu sou cego de um olho e dirijo tranquilamente. Coisa de Deus".
Como sempre fui avesso a andar de carro, é bem provável que eu não aceite mais o convite do amigo José para acompanhá-lo. Vou continuar sendo mais um cego em terra de rei com um olho só. Cruz credo, cruz credo!!!

Autor:Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado ao meu grande e bom  amigo de juventude, Marivaldo Aragão ( Maroto), um grande jogador de futebol em Teófilo Otoni. Em 12/08/2013, Barbacena-MG.




sexta-feira, 9 de agosto de 2013

TIO CHICO EM TEÓFILO OTONI

Residia na Vila Jacaré nesta cidade nos idos da década de 50, um senhor com cerca de 90 anos de idade chamado por todos de "Tio Chico".
Quando mais moço teria trabalhado de carteiro levando correspondências a algumas localidades da região, em malotes de couro cru, na maioria das vezes nos próprios ombros e mais léguas a pé.
Quando o conheci, ele morava em companhia de Dona "Maria de Salvador", uma afrodescendente que herdou o apelido nominal do marido português do seu primeiro matrimônio. Ela era poucos anos mais jovem que ele e ambos moravam em uma casinha simples como muitos.
Andava escorado em sua bengala que usava para espantar cães raivosos e defender-se de meninos maldosos. Porém, a garotada mais comportada era premiada com balas, doces e pirulitos. Era uma festa quando aquele senhor aparecia na comunidade. A meninada ficava eufórica e logo gritavam: "Lá vem Ti Chico...lá vem Ti Chico!..."
Era característica daquele idoso uma indumentária em desuso: terno escuro, calça e sapatos também muito gastos pelos anos de uso. Era um senhor que a todos cativava com seus conselhos e experiências de vida. Gostava de sair andando pela vila. Parecia que só Deus e o passar dos anos é que pudessem trazer obstáculos aos seus passos.
Um senhor muito brincalhão, batendo delicadamente com sua bengala na cabeça das pessoas. Dona Maria, sua esposa, trabalhou na Fazenda do capitão Leonardo.
Fontes confiáveis afirmam que o senhor Francisco Morais, o nosso "Tio Chico" teria nascido em 20 de janeiro de 1860 e falecido em 1975, aos 115 anos de idade.


Autor: Leuson Francisco da Cunha,  amigo e Membro titular da Academia de Letras de Teófilo Otoni. Texto da Revista Literária Café-com-Letras da Academia de Letras de Teófilo Otoni. Outubro de 2010, página 31. Em tempo: peço licença ao nobre, bom e justo amigo Leuson, para dedicar este seu texto maravilhoso a todos os avôs de Teófilo Otoni e do mundo. Em 09/08/2013.

A TERCEIRA É A MELHOR

Até os anos 70 do século anterior, havia pouca preocupação com a forma pela qual se intitulavam as pessoas em cada faixa de idade. Nascia-se criança, passava-se pela adolescência e juventude, considerava-se sério quem chegava aos 30 e em determinada fase aparecia a meia idade. Pejorativa era a denominação de "coroa" (para os dois sexos), até que, após os 50 anos, estava carimbado: é um ancião.
É claro que muitos fatores sinalizavam a presença da velhice. Como desagradavam, por exemplo, ás mulheres, as rugas, as manchas na pele, a mudança da cor do cabelo da cor natural para um branco não muito conveniente. Outras dificuldades não tinham preferência de sexo: podia ser a osteoporose, a diminuição da capacidade visual e/ ou auditiva para alguns, a perda de habilidades, a lentidão, o raciocínio, a memória menos ativa, o mal de Alzhmeir ou a famigerada incontinência urinária.
Por orientação médica, passou-se a ter a devida cautela a partir de uma determinada idade. Não foi muito fácil. Tanto os homens quanto as mulheres mostravam-se arredios á necessidade de comparecer a uma consulta médica, mesmo sabendo que essa seria a melhor forma de se acautelar contra alguns tipos de doença que, atuantes após uma determinada faixa de idade, podem ser neutralizadas quando detectadas em tempo hábil.
É possível que tenha demorado algum tempo, mas hoje a história pode ser contada, felizmente, de outra forma. Ao chegar aso 40 anos, todos estão se preocupando com as visitas aos consultórios e clínicas médicas. A resposta foi imediata: a longevidade foi alcançada e os antes "velhos" modificaram alguns vocábulos dos nosso dicionário: tanto poderia ser a "maior idade", quanto a "sobriedade" e, ao ultrapassar os 60, veio a "melhor idade".
E uma série de benesses passou a fazer parte do cotidiano daqueles que, depois de terem dado sua contribuição efetiva para a formação de sua família e transmitido lições de cidadania para aqueles que lhes foram próximos, não necessitam suportar longas filas para atendimento em situações diversas, tem direito a passe livre em coletivos, pagam apenas meia entrada em cinemas e outras casas de espetáculos, a preferência é deles para os leitos hospitalares, além de contar com a boa vontade dos órgãos públicos e entidades assistenciais, preocupadas em incentivar atividades que possam tornar mais felizes aqueles que chegam á "melhor idade".
Estou quase na ultrapassagem dos 60- o meu velocímetro já encosta nos 70-, com a ventura de ter a alegria de ser pai de três filhos(dois homens e uma mulher) maravilhosos e avô de sete lindos netinhos. Viver é muito bom! Agradeço a Deus, á minha esposa Geralda, a meus familiares e a meus amigos, conquistados nas diversas áreas em que atuei profissionalmente, pela efetiva contribuição que me foi concedida para a insofismável prova de que a terceira idade realmente é a melhor.


Autor: Arnaldo Pinto Júnior, Jornalista e professor de Matemática- Texto da Revista Literária Café-com-Letras da Academia de Letras de Teófilo Otoni, páginas 58 e 59, número 8- Outubro de 2010. Em tempo: "com licença do meu bom bom e justo amigo professor Arnaldo Pinto Júnior, dedico o seu maravilhoso texto a todos os pais e avós no seu dia". Em 10/08/2013, Barbacena-MG.

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

AMARILDO, UM HERÓI BRASILEIRO QUE SUMIU

Sim, Amarildo é o novo herói brasileiro. Um herói como milhares de trabalhadores que levantam cedo e vão em situação precária para o árduo trabalho na luta pela sobrevivência nesta pátria de tantas desigualdades sociais. Pobre Amarildo, não nasceu em berço de ouro, não morou em palácios, não participou do mensalão e não teve advogados milionários para defendê-lo, não teve um enterro...
Amarildo? apenas um ajudante de pedreiro. Amarildo? apenas um trabalhador assalariado. Amarildo? apenas mais uma fotografia amarelada pendurada no varal da pátria que os políticos dizem ser de todos. Amarildo? ora bolas, ninguém vai se preocupar com o sumiço dele, assim devem ter pensado o ou os miseráveis que torturaram ou mataram  Amarildo.
E foi pensando em Amarildo que relembrei cenas de miseráveis torturadores que, em "nome da lei", ( Torturar é lei?) quebram portas de humildes casebres nas favelas brasileiras. Foi pensando em Amarildo que relembrei a invasão da nossa casa pela ditadura militar com seus algozes quebrando tudo e dando tapas e chutes na nossa família. Assim como Amarildo, muita gente já morreu ou sofreu nas mãos malditas de torturadores e assassinos que costumam ganhar louvores de alguns superiores pela valentia e dedicação. É verdade, tem muito valente covarde mesmo entre quatro paredes dos porões de tortura nesta pátria. Não podemos esquecer nunca que quem bate esquece e quem é torturado carrega sequelas irreversíveis para a vida toda. Não adianta fazer UPP enquanto o ranço da ditadura continuar atrasando a consolidação da democracia.
Onde está Amarildo? onde está Rubens Paiva? onde estão os corpos dos mortos e desaparecidos da Guerrilha do Araguaia? porque mataram o jornalista Herzog? porque mataram Lamarca? porque mataram Marighella? porque torturaram e mataram Stuart Angel, o filho de Zuzu Angel? Que pátria é esta onde a gente não conhece a verdadeira história? A quem interessa esconder tanta mentira? Até quando os menos desfavorecidos vão ser humilhados com tapas nos rostos por gente (?) fardada pagas com o dinheiro suado do trabalhador?
O que teria acontecido se Amarildo fosse o filho do Mega empresário Eike Batista? O que teria acontecido se Amarildo fosse filho de um comandante da Policia Militar? O que teria acontecido se Amarildo fosse filho de um General do Exército? O que teria acontecido se Amarildo fosse filho de um Ministro  da Justiça? Mas, ledo engano nesta pátria de aparências. Na verdade, Amarildo sou eu, é você peão que bate cartão para trabalhar. é você gari e faxineiro que limpa as ruas e os banheiros fétidos de repartições públicas de Brasília ocupadas por políticos que vivem mamando nas tetas há séculos. Amarildo é você bancário explorado pelo banqueiros, Amarildo é você Professor tão explorado e mal pago, Amarildo é você jovem do vale do Jequitinhonha que ainda em pleno século XXI, tem que sair da sua terra em Minas Gerais para cortar cana em São Paulo.
Enfim, Amarildo é mesmo mais uma fotografia amarelada pendurada no varal da pátria. Amarildo, somos todos nós clamando por justiça. Até quando? 


Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado ao ajudante de pedreiro Amarildo da Favela da Rocinha no Rio de Janeiro que foi preso pela Polícia Militar de uma UPP, "prestou depoimentos" e sumiu, ou seja, nunca mais voltou para casa. Texto escrito em 07/08/2013, Barbacena-MG.




domingo, 4 de agosto de 2013

ZÉJÚLIO E GEGÊ, PREFEITOS ALMAS GÊMEAS?

Tem um novo jargão futebolístico muito usado nas Minas Gerais que diz: "Caiu no horto, tá morto". O referido jargão fez com que eu lembrasse de uma certa cidade onde o prefeito atual tem sido um retrato obsoleto do autoritarismo. Conhecido por seu ego vaidoso e unhas polidas, Gegê, segundo as más línguas, espalhava rumores e zumzumzum que se "caísse de novo na prefeitura, fulano ou sicrano tava morto". Como Gegê já havia passado por lá em algumas gestões, o receio que o mesmo voltasse era motivo de temor pela maioria. Mas, ele voltou embalado pela mídia tendenciosa e ovacionado em praça pública pelos, com licença da palavra, baba ovos de plantão.
Segundo especialistas ou cientistas da política, o prefeito Gegê pode ser comparado a caudilhos e ditadores do passado que nunca aceitaram dialogar com o povo e muito menos a participação popular nas decisões administrativas. Assim, Gegê paixão, aparelhado por entusiastas e saltitantes assessores, neófitos da política deslumbrados com o poder eventual, vem fazendo uma administração ao seu velho estilo: "Aqui quem manda sou eu", " Aqui sou o poder, coloco quem quero e tiro quem quero". Para justificar o linguajar comum e autoritário de Gegê, seus alegres e saltitantes assessores comentam em praças públicas: " Gegê não tem defeitos", "Gegê pode até roubar, mas Gegê faz". Nem é preciso explicar aos amantes da democracia o tipo de assessores que aparelham o caudilho que há muito tempo tem mamado nas tetas do poder público. É lamentável que nós os trabalhadores ao colocarmos nossas cabeças para descansarmos depois de um sofrido dia de trabalho, lembrarmos de que quem paga o salário deste tipo de picareta político e seus assessores, somos nós.
Ouvi dizer que recentemente Gegê paixão, acuado pelo alto índice de rejeição e baixa popularidade (se é que já teve), resolveu convidar um grupo para reunião em seu fechado gabinete. Segundo as más línguas ou boas línguas, muita gente do grupo convidado vinha se sentindo "esquecido" por Gegê e como estão ávidos para mamar também nas tetas da prefeitura (afinal 4 anos passa rápido), foram ao encontro do cacique para traçar planos administrativos em benefício do povo. Alguns dos convidados se sentiram á vontade tendo em vista que também já passaram pela experiência de mamar nas tetas da prefeitura e gostaram tanto que voltaram "nos braços do povo". Os mais novos iniciam, inspirados na vida pública de Gegê, a nojenta corrupção tão combatida nas recentes manifestações em todo o país. Como diz o Boris, "isto é uma vergonha". 
Estou escrevendo este texto para retratar o modo nojento de fazer política neste país. Este texto é dedicado aos amantes da liberdade de expressão, aos que entendem que a democracia vem do povo, pelo povo e para o povo e nunca é demasiadamente tarde lembrar ao povo que somente com nosso voto consciente poderemos acabar de vez com essa raça de políticos corruptos que vem mamando há muitos anos nas tetas do poder público e pagos seus salários com o suor do nosso rosto. 
Você que neste momento lê este texto, deve estar pensando que detesto política ou políticos. Pelo contrário, sempre fui e serei um entusiasta da politica com P maiúsculo. P de patriotismo, P de personalidade, P de pudor, P de princípios que tanto enobrece o caráter de homens do bem e mulheres do bem. Infelizmente, vivemos em uma pátria onde temos que aturar, com raríssimas exceções, mequetrefes no cenário político a nível municipal, estadual e federal.
O prefeito Gegê paixão e milhares ao seu estilo estão com os dias contados. Gegê, assim como muitos, não passará de um mequetrefe político esquecido. Quem viver verá...


Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo garrocho)- Texto dedicado a todos que amam a liberdade e repudiam corrupção, tirania, prepotência, ditadura, servilidade. Em 4/08/2013, Barbacena-MG.

sábado, 3 de agosto de 2013

CARTA DE LORA, A PROSTITUTA POLITIZADA DE TEÓFILO OTONI

Há muito tempo que não recebia noticias de Lora. Até cheguei a pensar que a mesma havia falecido. Ela deve estar com sessenta anos. Penso que Lora ainda continua lúcida tendo em vista que seus escritos e lembranças do passado continuam vivos em seus pensamentos. Lora questiona o meu isolamento de alguns movimentos sociais e diz que estou fazendo falta. Segundo ela, eu tinha um carisma muito grande junto ás massas populares e de uma hora para outra larguei tudo, ou seja, arriei a bandeira da justiça social. Estou tentando uma resposta para Lora, vou dar tempo ao tempo. O sagrado diz que "tudo na vida tem um tempo" e assim, vou andando com fé.
Na carta, Lora diz: " Téo, sinto saudade de quando morava na roça. Sinto saudade do tempo em que subia nos pés de goiaba e ficava ali pensando mil e uma coisas. Eu comia goiaba com bicho e tudo. Hoje descobri que aquele bicho não me fazia mal. O bicho que me faz mal é o mundo em que vivo. Se eu ficar, o bicho come, se correr o bicho pega. Na roça eu tinha o dia com sol radiante e as noites estreladas igual pipoca na panela. Aqui, nunca mais olhei para as estrelas que na minha imaginação parecem ter viajado para outros corações menos sofrido que o meu. Toda vez que eu fico sentada na soleira do meu barraco, dá uma saudade danada dos banhos de rio que passava no fundo da roça. Eu ficava tremendo e as minhas mãos tão pequenas e inocentes pareciam estar rezando. Hoje, minhas mãos tremem devido ao alcoolismo e nem rezando elas param de tremer".
Analisando o início da carta, lembrei que muitos rios secaram ou secam na região do Vale do Jequitinhonha e aquela seca constatante e falta de água sempre foi uma eterna "bandeira" dos políticos que só vão ali de quatro em quatro anos e "prometem" acabar com a sequidão, "prometem" poços, barragens, etc. etc. Continuando a carta, Lora diz mais: " Téo, eu penso que o pobre só será feliz quando morrer. Tem uns religiosos que falam para mim que se eu aceitar Jesus, serei salva e vou ter morada no céu quando partir deste mundo. O que não entendo, Téo, é que desde menininha eu amo Jesus e nunca tive a riqueza que tem os religiosos que comandam certas igrejas. Eu gosto de ir em velório de pobre. Para mim o velório do pobre é menos rápido ao contrário do rico que é enterrado em caixão luxuoso e depois fica quase todo mundo da família brigando pela herança do defunto. No velório do pobre não tem muita tristeza. As pessoas falam para entregar a Deus o caminho do defunto e pronto. Todos se cumprimentam, contam piadas, falam bem do defunto e da família que serve cachaça e comida para o povo
Continuando, Lora diz que fica feliz quando morre um pobre na favela em que mora. "assim, acaba o sofrimento daquele que nunca teve assistência médica dos poderes públicos. Acaba o sofrimento da família para enfrentar fila de madrugada para pegar ficha do SUS, acaba o sofrimento de ter que pedir ajuda para comprar os remédios e acaba o sofrimento também de pedir ajuda para enterrar o falecido. "Pagamos para nascer e pagamos pra morrer", escreve Lora em letras garrafais.
Segundo Lora, " quando ela vê um pobre chorar, as lágrimas parecem pérolas caríssimas que eles nunca possuíram ou sonharam em possuir. Assim, segundo Lora, "as pérolas das lágrimas dos pobres são levadas pelo espírito até Deus. Lora diz que há muitos anos não chora e compara seus olhos secos como os rios do Vale do Jequitinhonha.
Em certo trecho da carta, Lora pergunta se tenho frequentado igrejas e diz : " Olha Téo, aqui todo domingo ainda tem missa na igrejinha, mas eu não vou mais. Até um certo tempo eu ia. Depois fui entendendo um pouco das coisas do mundo e parei de ir. Quando eu era mais nova e vendia o meu corpo, as minhas roupas eram melhores, cheirava bem usando perfumes caros e quando entrava na igreja sentia olhos invejosos sobre mim. Tinha muito homem que não sabia se rezava ou olhava para mim, inclusive o padre. Mas, o tempo passou, as rugas chegaram, as pernas afinaram e o perfume caro deu lugar ao bafo da cachaça. Foi ai que comecei a sentar no último banco da igreja e ...sozinha. Então pensei que não valia a pena voltar e dar satisfação ao mundo da minha fé. Descobri, lendo o livro sagrado, que " quando quiser falar com Deus, entra em teu quarto e ora com fé. Deus haverá de escutar, com certeza suas orações". Assim, diz Lora, tive mais alegria com Deus e os "anjos de luz". Tive mais paz e serenidade nas orações solitárias.
Finalizando sua carta, Lora pergunta se lembro do Élbio Pechir, o radialista dos humildes em Teófilo Otoni. Segundo Lora, o Élbio continua simples e ajudando muito pobre na cidade, inclusive ela. Lora diz que liga o rádio todos os dias pela manhã no Programa do Élbio na Rádio Téofilo Otoni. Ela diz que quem escuta rádio fica muito inteligente. Segundo Lora, sua avó dizia que todo alfaiate, sapateiro, cozinheira, barbeiro,, taxistas e outros motoristas são pessoas muito inteligentes devido serem bem informados através do Rádio, "desde que não sejam tendenciosos politicamente e socialmente", reitera Lora com sua sabedoria ímpar.
Pensando bem, vou responder a carta da minha amada dos anos 70. Afinal, ela continua tocando na minha alma tão carente, como a dela. Vou, numa noite de muitas estrelas, tentar lembrar dela que falava  para mim na década de 70: " Não pare Téo. Mas, se parar, olhe para o céu e você verá que as estrelas brilham. Enquanto elas brilharem haverá esperança na vida. Pense em mim, em Deus, e olhe de vez em quando as estrelas".


Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado ao meu bondoso e justo amigo Élbio Pechir da Rádio Teófilo Otoni-MG- Élbio Pechir, o Radialista dos Humildes. Em 03/08/2013, Barbacena-MG.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

BELÔ, O CURANDEIRO DE ARAÇUAÍ

Tinha fama de benzedor e curandeiro. Naquela região era Deus no céu e belarmino na terra. Ganhou fama com apelido de Belô curandeiro. Nasceu e foi criado no meio de miseráveis de espirito e matéria abandonados á própria sorte pelos mais abastados. Belô, como a maioria, era caboclo comedor de torresmo, pirão e canjiquinha. Belô, que tinha raízes no Vale do Jequitinhonha, tinha fama também de roedor de pequi. Dizia sempre que adorava beber pinga. Dizia também que não bebia socialmente. Achava o termo muito elitizado e usado pelos bacanas da vida para disfarçar o vício.da manguaça.
O apelido Belô ganhou dos avós Nica e Fulô. Irreverente, Belô usava roupas extravagantes para o cotidiano da região, alem de vários penduricalhos pelo pescoço e tórax. Medalhinhas desde a santa de Aparecida ao neófito santo Frei Galvão. Para todos os santos de sua fé, Belô tinha uma história para contar ao povo de sua terra. Segundo ele, em suas orações o novo santo Frei Galvão havia curado um menino que pegou inflamação e febre após a retirada de 22 bichos de pé ou porco lá pelas bandas de Ribeirão das Almas, pequeno povoado entre Novo Cruzeiro e Araçuaí.
Segundo Belô, " a febre só baixou após uma semana de reza do terço e pedidos ao Frei Galvão". Assim, Belô criou prestígio. Até mesmo o velho padre Curió evitava criticar ou atacar as crendices do curandeiro. Afinal, Belô não atrapalhava a igreja do padre Curió que tinha o hábito de estar sempre alisando a vasta barba branca com manchas de nicotina, tendo em vista que padre Curió era chegado a um fumo de rolo muito apreciado naquela região.
Tudo ia dando certo até a chegada de um tal pastor Josias que fincou bandeira e doutrina no chamado território de Belô e padre Curió. Ai, Belô começou a "comer o pão que o diabo amassou" nas garras afiadas da língua do pastor Josias que a pretexto de converter o rebanho, espalhou que Belô tinha parte com o peludo e vermelho Demo, ou rabudo como queiram.
Acuado, Belô pediu proteção a todos os santos. Desde os mais requisitados até os menos invocados pelos fieis da igreja católica. Não faltaram promessas a São Benedito, São Cristovão, São João, São Pedro até chegar aos mais novos como Frei Galvão e a beata Inhá Chica.Experiente no trato com as massas populares, Belô foi mais longe e após uma viagem de romaria a Aparecida do Norte, trouxe centenas de medalhinhas, crucifixos, escapulários. Inspirado pela fé católica, construiu no terreiro da sua modesta moradia, uma pequena gruta de orações. Todos que ali passavam se benziam e pediam proteção de todos os santos, além de ganhar do velho Belô uma medalhinha milagrosa e um sonoro "vai com Deus e Nossa Senhora".
Foi ai que, para alegria do padre Curió e Belô, o pastor Josias sentiu que seus planos começaram a fracassar e "sua" doutrina perdeu terreno. Seus dizimistas já não contribuíam com os dez por cento e os bancos da sua igreja foram ficando vazios. "Um gato pingado alí, outro acolá..", comentava padre Curió em visita á casa de Belô, onde não faltava boa pinguinha da roça e o bom fumo de rolo de Araçuaí que padre Curió baforava meditando.
Pois bem, pastor Josias arrumou "as malas parecidas com ele" e foi pregar "sua" doutrina lá pelos montes do Estado de Roraima. Ao passar perto do quintal de Belô, parou em frente á gruta dos santos e fez um gesto de negação, indignação. Foi ai que Belô e padre Curió saíram á porta e juntos disseram: "vai com Deus e Nossa Senhora, pastor Josias", que, esporando o cavalo, nunca mais olhou para trás.
Belô tomou mais uma pinguinha e padre Curió preparou outro bazé de "fumo bão" da terrinha. Enfim sós!!!


Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho-(Téo Garrocho)- Texto dedicado a Dona Nirinha do Distrito de Engenheiro Schnoor, Município de Araçuaí-MG. Dona Nirinha, uma guerreira pela fé católica e cristã naquele Distrito de Schnoor. Em 01/08/2013- Barbacena-MG