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sábado, 21 de maio de 2011

ENCONTRO MARCADO EM TEÓFILO OTONI

Na esquina da rua Marcelo Guedes com rua Francisco Sá, encontro com "frango de macumba",. Este era o apelido, infelizmente, de um antigo colega de tiro de guerra(Exército) em Teófilo Otoni. Tenho dúvidas sobre seu verdadeiro nome. Penso ser José, Antonio ou Sebastião. Faz muito tempo que servi o exército em Teófilo Otoni.
O tempo passa muito rápido. Quando passamos dos quarenta anos então, parece que "voa". Meu saudoso cunhado Armando Andrade ou Armando "piu-piu" que era irmão do "peixe-cobra", dizia sempre que se " o homem passasse dos quarenta era lucro". Armando acertou. Morreu aos quarenta e dois anos.
Antigamente, a rua Marcelo Guedes no seu início era conhecida por rua do pau velho e a rua Francisco Sá era o Chico Sá ou rua da Zona. Uma rua amada pelos boêmios e excomungada pela tradicional família mineira tradicional de Teófilo Otoni.
"Frango de Macumba", meu velho amigo já tem cabelos grisalhos. Diz a mim que já batalhou muito na vida e ainda não aposentou. Faz pequenos carretos com sua antiga carroça que ainda é puxada a cavalo. Persiste ao tempo obsoleto e à perseguição, segundo ele, da fiscalização da prefeitura e sua lei de postura municipal.
Ele diz que ainda é possível encontrar pasto para seu cavalo ali pelas bandas da favela do boiadeiro e do bairro São Jacinto. Lembro que ali no bairro São Jacinto existia um campo de aviação onde pequenos "teco-tecos" pousavam a exemplo do avião do fazendeiro Chiquito Correia e do empresário Chico Dupim. Lembro que o piloto do Chiquito Correia era chamado de Zé Picolé.
"Frango de Macumba", meu amigo, assim como milhares de brasileiros ainda sonha. Ele me diz que sonha em comprar uma camionete C-10 usada. Segundo ele, o cavalo é bom, mas a C-10 camionete "não caga e não bufa na rua".


Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho). Barbacena, em 21/05/2011. Texto dedicado ao meu amigo Manezinho carroceiro, um exemplo de trabalhador em Teófilo Otoni-MG.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

DOIS ANJOS EM MISSÃO

Zé Rosa era pintor. Todos os dias descia o morro da favela do Subaco Fedendo para procurar trabalho na praça Tiradentes de Teófilo Otoni. Zé Rosa era bebedor de cachaça e analfabeto de pai e mãe. Zé Rosa tinha o dom de pintar, da combinação de cores e escrevia letras perfeitas.
As letras perfeitas escritas por Zé Rosa intrigava o povo. "Se é analfabeto, como escreve?". E assim, Zé Rosa era um mistério nas indagações populares. O pintor se defendia dizendo pelos botecos da vida que " tem cego que não enxerga e conhece dinheiro", se referindo a Zé Caolho, seu companheiro de copo.
Zé Caolho e Zé Rosa formavam um par perfeito. Trocavam idéias sobre pintura sob os olhares curiosos do povo que não acreditava ser possível um cego orientar um pintor analfabeto e ébrio diariamente.
Zé Caolho tinha ponto de mendigo próximo à fonte luminosa e ali perto tinha a banca de jornais do Gaitan, onde, todos os dias Zé Rosa passava para folhear jornais. Compenetrado nas manchetes jornalísticas, o ébrio Zé Rosa parecia questionar com alguém no seu imaginário. Ao ouvir a voz do amigo, Zé Caolho dizia: "Esquenta não Zé Rosa, desde que foi criado o homem, só teve notícia ruim. Pode observar que as noticias boas são bem pequenininhas. Elas trazem amor, felicidade, paz. Miséria e desgraça é o que mais vende".
Gaitan, o dono da banca de jornais, ficava curioso pela grandeza de comunicação dos dois e ficava matutando, assim como o povo, como um cego podia orientar um analfabeto. O radialista Élbio Pechir que com ajuda de amigos havia consertado a fonte luminosa, sempre dizia que Zé caolho "enxergava com a alma".
Quando da festa de inauguração da reforma da fonte luminosa com "água de várias cores jorrando", o radialista Élbio Pechir não esqueceu as palavras de Zé Caolho que abraçado a Zé Rosa e alegre pelo efeito etílico, dizia: " A minha alma está feliz e colorida como as águas da fonte luminosa".
Ao som de Gonzaguinha: "...Viver e não ter a vergonha de ser feliz...", Élbio Pechir tentava com sua alma caridosa e fraterna, explicar a Gaitan que Zé Rosa e Zé Caolho eram dois "anjos" que cumpriam missão na terra.



Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho). Barbacena, 04/05/2011. Texto dedicado ao poeta e escritor Jaime Gomes, meu amigo de infância e juventude em Teófilo Otoni-MG.