ADS 468x60

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

MÃO AMIGA EM TEÓFILO OTONI

Rosinha vem conquistando a simpatia de todos. Dizem que Rosinha, caso fosse política, todos votariam nela. Rosinha trabalha como faxineira no apartamento 302 de um condomínio de classe média alta em Belo Horizonte. O companheiro de Rosinha, trabalha numa banca de jornais e revistas. Na referida banca, ele vende além de jornais e revistas, chips para celulares, chaveiros do Cruzeiro, Atlético e América. Vende também bilhetes de loterias, chicletes e cigarro a palito com direito a acender num isqueiro que fica amarrado a um barbante na banca de revistas e jornais. O companheiro de Rosinha chama-se Raimundo ou popularmente Mundico como é conhecido pela maioria das pessoas. Dizem que Mundico tem boa conversa e cativa a todos.
Antes de morar em Belo Horizonte, Rosinha e Mundico , na década de 70, viviam em Teófilo Otoni, mais precisamente ali na antiga Rua conhecida por Beco do Coelho. Uma rua estreitinha que ficava próxima á zona boêmia do famoso Chico Sá. Pertinho do Beco do Coelho ficava o famoso Buraco Doce onde aconteciam muitos encontros amorosos dos amantes da noite e boêmia. Ali também moravam os pais de Rosinha e os pais de Munidico que viviam numa situação de pobreza extrema. Na verdade, eram uns miseráveis que viviam das migalhas que sobravam de outros menos miseráveis. Rosinha, vivendo naquele ambiente e cobiçada por muitos da redondeza, batia pé e se mantinha firme num propósito de vencer na vida. Ali mesmo pertinho, estudava com afinco na Escola Geraldo Landi, pensando num futuro melhor para ela e seus familiares. Mundico que morava pertinho e alheio aos devaneios da região, vendia churrasquinhos na esquina da entrada para o morro que antigamente era conhecido por morro do Pau Velho.
Até que numa certa noite como todas as outras apareceu um sujeito para comprar um espetinho do Mundico  e conversaram muito. Falaram da vida, do futuro, dos sonhos, da pátria, da família, enfim de todas as coisas que o ser humano almeja de bom para si. Mundico ficou maravilhado com aquele sujeito que não cansou de elogiar seu humilde trabalho e sua perseverança em dias melhores.
A partir daquela noite, a vida de Mundico começou a mudar. Vez ou outra, aparecia na entrada do seu barraco uma encomenda com arroz, feijão, fubá, macarrão, café, óleo de soja, leite em pó e muitas outras embalagens de alimentos. Também na casa da Rosinha, aparecia também muitos alimentos que deixavam todos da família muito felizes, mas , com uma grande interrogação: Quem estava ajudando?
Até que em uma certa noite, ao voltar do trabalho, Mundico encontrou um bilhete na porta de sua casa, onde estava escrito: " Mundico, aqui tem duas passagens para Belo Horizonte. Você viaja com sua mulher e nós estaremos esperando você na capital. Fique tranquilo, você será nosso novo companheiro. Abraços, seu amigo do espetinho. Lembra?." E assim, Mundico partiu. Acreditou na oportunidade e partiu do interior em busca de um mundo melhor.
"Sem lenço e sem documento", como diz a música, Mundico e Rosinha juntaram os panos de bunda e foram embora para Belo Horizonte. Deixaram para trás a saudade dos pais e o mísero barraco de adobe coberto com velhos pedaços de zinco e papelão. Tudo parecia que um novo dia e um novo amanhecer surgiria na vida dos dois. Afinal, nem sempre a oportunidade bate á nossa porta, ou bate?
Em Belo Horizonte, Mundico e Rosinha foram recebidos por dois homens que os encaminharam a um outro parecido no linguajar com aquele que Mundico conheceu vendendo espetinho na zona boêmia de Teófilo Otoni. Em pouco tempo, tanto Mundico como Rosinha estavam amparados por aquelas pessoas e sistematicamente nunca faltaram a uma reunião em que eles pregavam a igualdade entre todos os seres humanos. Após tanto tempo ali naquelas reuniões, Mundico e Rosinha se tornaram membros efetivos e passaram a propagar as idéias e doutrina socialista. Rosinha, encarregada de cumprir "tarefas" em casas e apartamentos de granfinos da elite brasileira e Mundico como simples dono de banca de revistas e jornais cumprindo "tarefa" no centro de Belo Horizonte.

Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrochol)- Texto dedicado ao meu bom amigo político de cidade natal, Nilmário Miranda, Filho do saudoso Oldack Miranda ( Oldack da Casa Miveste em Teófilo Otoni)- Texto escrito em Barbacena-MG, Aos 29/01/2014.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

PEDIDO PARA ZEJÚLIO, O PREFEITO GAY

Meu amigo João Miguel, mais conhecido por Miguelzinho, telefonou para mim na quarta feira da semana passada. Segundo ele, escolheu a quarta por ser o dia em que ele e sua mente funciona com mais serenidade. Miguelzinho confessa também que ultimamente tem usado muito a "mardita" cachaça, pinga, tequila ou manguaça como queiram. Confessa também que aos sábados e domingos, ele bebe todas como se estivesse comendo com farinha. Miguelzinho, aos prantos, confessa que tem feito uma misturada de tudo. Diz que começa com uma tal guia de cachaça que "é para o santo", depois uma lourinha suada e lá vem conhaque, mais conhaque, uma cachaça com raiz que pode ser junça ou carqueja e lá pelas tantas da madrugada, segundo ele, desce tudo: Jurubeba, Suco de cana e até mesmo o conhecido Paratudo.
A crucial via sacra de Miguelzinho só acaba na segunda feira e olha lá. Segundo ele, que já assumiu ser alcoólatra, na segunda feira toma mais umas tequilas para rebater as do sábado e domingo: " Se não rebater, as mãos e o corpo ficam tremendo". Com o telefone ao ouvido e em silêncio fiquei ali ouvindo o desabafo do meu amigo Miguel. Para ser sincero, fico preocupado e triste com o atual ritmo de vida que meu velho amigo vem levando. Há 20 anos atrás, Miguelzinho era um fiel sacristão na paróquia do nosso bairro. Naquela época, Miguelzinho não bebia, não fumava e nem cheirava um rapé tão forte que ele chama de "marvado".
Dentro das minha limitações, estou tentando entrar em contato com alguns amigos que residem ali pelas bandas do nordeste mineiro no intuito de ajudar Miguelzinho retornar ao caminho do bem e da serenidade. Assim, penso que ele poderá retornar ao seu antigo ofício de sacristão contratado pelo bondoso padre Zoel que tem uma grande afinidade com os mais pobres da região. Penso também fazer um apelo ao meu velho conhecido Zejúlio que nas últimas décadas tem sido um tri campeão para prefeito da cidade. Meu amigo Dedeu, que faz ponto perto de uma banca de jornais, diz que Zejúlio tem feito uma excelente administração. Segundo Dedeu, o prefeito Zejúlio em poucos meses da tri administração, inaugurou com grandes festejos o famoso restaurante popular do sopão para os menos favorecidos ou pobres no sentido da palavra. Deu tão certo que o restaurante do sopão popular fica dentro do mercado municipal. 
Confesso que há muito tempo não tenho contato com Zejúlio. Lembro muito de Dona Santinha e seo Juca, genitores do mesmo. Segundo meu amigo Dedeu," Zejúlio tá beirando os setenta anos, mas, continua bunitão e vaidoso". Tal afirmação me faz lembrar da década de 70 e de um amigo que quando avistava Zejúlio cantando nas serestas da cidade, Dizia: "Ai gente, machuca coração!!!". Sei que, machucando ou não, vou tentar introduzir Miguelzinho na lista de Zejúlio. É bem provável que será mais um para pegar no cabo de Zejúilo, aliás, no cabo da vassoura em faxinas pela cidade. Uma boquinha a mais não vai pesar tanto no orçamento. Afinal, Miguelzinho tem competência e não é parente.Vou também pedir uma boquinha para Miguelzinho no restaurante do sopão popular. Afinal, Zejúlio sempre adorou os pobres!

Autor:Walter Teófilo Rocha Garrocho( Téo Garrocho) - Texto dedicado ao nosso bom amigo e jornalista José Cangussú. Um ícone da cultura em Teófilo Otoni e Vales do Mucuri, Jequitinhonha e São Mateus- Texto escrito em Barbacena-MG aos 27/01/2014.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

AVENIDA JOÃO XXIII EM TEÓFILO OTONI

Nasci e passei grande parte da minha infância e juventude no hoje bairro Teófilo Rocha, onde também hoje se situa a Avenida João XXIII em Teófilo Otoni.Sempre confessei que a saudade do lugar e de todos os moradores foi uma constante em minha vida. Semana passada, estive lendo uma matéria jornalística (muito boa por sinal) do jornal " O Diário" de Teófilo Otoni e editada no Site " Teófilo Otoni noticias e região " postada pelo senhor Tião Soares, onde há comentários sobre a região da Avenida João XXIII.
A matéria diz que "há uma luz no fim do túnel" e tece comentários sobre envolvimento de jovens com tráfico de drogas, o valioso trabalho das polícias civil e militar, além de comentários e sugestão de moradores que são de grande valia em prol de encontrar soluções para amenizar a violência proveniente desta fatalidade que impera não só nos bairros mais humildes, mas em condomínios luxuosos e mansões da elite brasileira.
Sempre acreditei que o túnel da pobreza, da miséria, da exclusão social não foi criado por Deus. A luz, tão decantada por muitos como a presença de Deus, jamais poderia ficar no fim do túnel e sim no início, iluminando e clareando os passos e caminhos dos filhos e filhas dos operários da Avenida João XXIII. Aquela avenida, e isto não é de hoje, sempre sofreu um certo preconceito em Teófilo Otoni. Eu lembro que quando jovem, eu chegava à escola no centro e sempre escutava alguém dizer que eu morava na favela do Subaco Fedendo (Morro do Cemitério) ou favela do Eucalipto (Morro do Eucalipto). A discriminação quanto à região é bem antiga. Havia um morador mais antigo e que sofreu muito nas garras do regime da ditadura militar que sempre dizia; " Aqui, do bairro Teófilo Rocha, parte sempre um grito contra todo tipo de opressão. Grito pela democracia e direitos plenos de cidadania para o povo excluído". Um povo que situava entre as antigas favelas do Subaco Fedendo e Eucalipto.
É de grande valia o trabalho da nossa briosa polícia militar e da nossa aguerrida policia civil de Minas Gerais, desde que este trabalho tenha também o intuito de interagir com a comunidade. Uma U.P.P do Rio de Janeiro, ao prender, torturar e assassinar o ajudante de pedreiro Amarildo deu um péssimo exemplo que levou a comunidade da Rocinha sentir medo e querer distância de militares. Péssimo exemplo que ganhou as páginas até mesmo da mídia internacional. Sou leigo no assunto de segurança, mas, pela vivência de vida e tudo que já presenciei em relação a muitos policiais, acredito que o ranço do regime de opressão ( ditadura militar) ainda persiste em muitas corporações militares. Ghandi ganhou a independência da Índia sem dar um tiro ou um bofetão.
A Avenida João XXIII, hoje, é caminho para uma Universidade Federal em Teófilo Otoni. Os imóveis ali foram super valorizados. Hoje, você nem precisa ir ao centro de Teófilo Otoni para fazer compras. Na Avenida João XXIII você encontra lojas de confecções, Supermercado grande, boas mercearias, padarias, sacolão de verduras e legumes, farmácias, salões de beleza, Lan house, depósitos de gás, mecânicos, serralheiros, bares aconchegantes, advogados, posto de saúde, igreja católica, igrejas evangélicas, escolas municipal e estadual, A.P.J, Associação de moradores, transporte público (ônibus coletivo) e um vereador nascido e criado no bairro que se chama Alexandre Amaral, o humilde e bom amigo Lelé da saúde. 
Quando há oportunidade, retorno a Teófilo Otoni e visito minha querida Avenida João XXIII ali pelas bandas da pracinha, da subida do morro de Eucalipto, do morro do cemitério ou morro da igrejinha. Eu costumo colocar uma bermuda, uma sandália surrada de couro e passeio sem medo de ser feliz abraçando todos os moradores sem discriminação. A luz do meu túnel interior fica no início dos meus olhos. Os olhos da justiça social.

Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho (Téo Garrocho)- Texto dedicado à minha saudosa amiga Dona Dos Anjos, uma antiga militante do Partido dos Trabalhadores e ativista social e politica por décadas na região da Avenida João XXIII em Teófilo Otoni. Texto escrito em Barbacena-MG aos 23/01/2014.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

BATE PAPO NA PRAÇA TIRADENTES EM TEÓFILO OTONI

Conheço várias partes do Brasil. Vez ou outra alguém fala para mim que esteve em algum lugar e que lá é assim e assado de bom. Acredito, até pelo estilo de vida, que sou uma pessoa modesta, e humildemente digo á pessoa que também já estive naquele lugar assim e assado de bom referido por ela. Diversas vezes observei estampado nos rostos das pessoas um certo espanto ao saber que conheço muitas regiões da minha pátria. Interessante. Observo que no Brasil, viagens turísticas parecem ainda ser privilegio de uma classe social mais abastada. Ledo engano na minha opinião, aqueles que como eu não juntam "tesouros materiais" parecem saber aproveitar este dom maravilhoso que Deus nos proporcionou, ou seja, a vida.
Outro dia, meu amigo Chicão, um bom pedreiro que estava fazendo um pequeno serviço na minha modesta moradia, entre uma rebocada daqui e outra dali, disse para mim que vai voltar a morar no Rio de Janeiro. Segundo Chicão, o Rio de Janeiro é de fato uma cidade maravilhosa. Fiquei ali ouvindo e entre uma baforada daqui e outra dali naquele fumo "bão" do mercado de Araçuaí, disse ao meu amigo Chicão que eu, quando mais novo, visitava muito meus parentes que residem no Rio de Janeiro. Até ai tudo bem, mas, quando eu disse que meus parentes moravam na Rua das laranjeiras e na Avenida Atlântica em Copacabana onde tomei muito banho de mar e paquerei muita menina bonita, ai meus amigos o bicho pegou. Foi então que meu amigo Chicão pedreiro retrucou: "Olha seo Téo, o senhor não está enganado? Ali pelas bandas de laranjeiras e Praia de Copacabana só mora granfino e magnata que tem muito dinheiro". Pensei bem e deixei o assunto morrer ali mesmo. Afinal eu tinha que respeitar a humilde cultura do meu amigo operário que na minha opinião não é tão pequena se comparada a muitos engravatados que vivem de aparência dizendo que " são isso e aquilo", "tenho isso e aquilo", quando na verdade não passam de comedores de couve. E olha lá...
Vez em quando eu lembro de um certo político lá de Araçuaí que era (não sei se ainda é) um tremendo pão duro. Vez ou outra ele parava o carro perto do açougue e comprava uma naca de carne moída. Eu, ali dentro do carro de carona, ficava matutando comigo: O ser humano é complicado mesmo. Um homem tão rico materialmente e comendo carne moída. Nada contra a carne moída que até adoro misturada a um angu e quiabo. Como isso foi a uns 16 anos atrás, é bem provável que os bens materiais aumentaram para serem divididos aos herdeiros que na certa vão querer degustar mesmo é um bom churrasco de picanha e filé "minhom".Verdade ou mentira?
Ilustrando mais a complicação do ser humano, outro dia em meu trabalho, entreguei uma correspondência jornal do Conselho Regional de Odontologia de Minas Gerais a um odontólogo (dentista). No verso do pequeno jornal, havia uma fotografia do Arnaldo de Almeida Garrocho que foi (ou é) presidente do tal Conselho Regional de Odontologia de Minas. Com alegria e satisfação, eu disse ao dentista que o Arnaldo era meu primo. Ele, o dentista, na maior cara de pau falou: "Me engana que eu gosto seo Téo, esse cara aqui é um grande mestre na área de odontologia". Voltei a pensar que o ser humano é mesmo complicado. Caso eu estivesse engravatado e de Camaro amarelo, ele acreditaria. Ou não?
Assim, vou colecionando espantos em relação à minha modesta pessoa. Tanto é que um outro falou para mim que iria realizar um sonho de muitos anos. Ele iria conhecer o estado de Santa Catarina e participar daquela famosa festa alemã com muita música e cerveja. Pois bem, quando eu disse a ele que já morei em Blumenau, o sujeito simplesmente começou a sorrir e sorrir muito mangando da minha cara. Pensei bem e deixei para lá. Antes dele afastar, eu disse: " Se você não fizer reserva em hotel de Blumenau, vai acabar ficando hospedado em Ilhota ou Gaspar, pequenas cidades do Vale do Itajaí, antes de chegar a Blumenau". O sujeito escutou e sorriu mais ainda, na verdade o granfino não estava acreditando em mim.
E para terminar este lero lero de complicação do ser humano, lembrei de um amigo operário que era segurança do trabalho na última fábrica onde trabalhei. Certa vez, a gente estava trocando um dedinho de prosa e ele começou a elogiar o presidente Lula. Foi então que no finalzinho do dedinho de prosa, falei para ele que eu conhecia o Lula e até tinha fotografias ao lado dele.Ah! pra que! o meu amigo então disse:" olha Garrocho, vê se enxerga meu filho. Tirar fotografia ao lado de Lula não é para qualquer um". E ainda foi embora sorrindo e dizendo que eu era mesmo um grande gozador.
Á noitinha em minha casa, matutei bem e resolvi no outro dia levar as fotografias ao lado do Lula e uma papelada velha que ainda guardo dos meus tempos de militância política. Quando mostrei ao meu amigo, ele quase caiu para trás e saiu mostrando a todos os os operários da fábrica. Foi então que naquela fábrica, eu passei a ser conhecido pelo apelido de "amigo do Lula".
Ah! quase ia esquecendo. Ganhei no final deste ano, dois chaveiros. Um veio de Moscou na Rússia. Presente de uma amiga ativista social e outro veio de Blumenau. Lembram do cara que ficou sorrindo e mangando da minha cara? Pois é, ele não achou vaga nos hotéis de Blumenau. Ficou hospedado em Ilhota, pertinho de Blumenau. "Igualzinho você falou seo Téo e ai lembrei do senhor e trouxe este chaveiro como lembrança. O senhor é mesmo um cara viajado". Pois bem, ainda continuo acreditando que o ser humano é muito complicado. Ah! se eu tivesse um Camaro amarelo!!!

Autor;Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado à minha inesquecível ex.Professora Dona Dulcina Regina Molina em Teófilo Otoni. Dona Regina Molina, um ícone da cultura na cidade do amor fraterno. Texto escrito em Barbacena aos 22/01/2014

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

GRAZIELLI BATISTA, MINHA QUERIDA PSICÓLOGA

Realizei o sonho. Não meu e sim da minha família. Há muito tempo vinha pensando no assunto, tendo em vista que vez ou outra escutava sons de línguas malignas e afiadas balangando nos meus ouvidos em questionamento ao meu velho carrinho dos anos 70. Confesso que sempre fui um passageiro da utopia em relação a sonhos e para dispor do meu velho carro foi uma verdadeira guerra íntima emocional entre mim e a tão decantada razão. Meu velho carro ajudou-me muito nos meus trabalhos, passeios com a família e meus bons amigos que são meu cachorro Bob Marly ( isto mesmo) e minha gata Doçura.
Este fato de troca de carro parece ter abalado a mim e aos meus bichos. Venho observando que meu velho cachorro Bob tem andado pelo cantos da minha modesta moradia e até mesmo a gatinha Doçura tem compartilhado da melancolia do Bob Marly, tendo em vista que seu miado ficou meio rouco de uns tempos para cá. Pode ser que os dois, Bob e Doçura estejam chorando ás escondidas.
Tanto Bob como Doçura já haviam acostumado com o carro velho em que fizeram memoráveis passeios, inclusive passeios pela praia de Jacaraípe no estado do Espírito Santo. Assim, sabendo dos acontecimentos em família, minha sábia mulher Maria, mais conhecida por Dadá, diz para mim: "Olha preto, "o uso do cachimbo faz a boca torta" e "esses bichos ficaram assim depois que você comprou carro novo e aposentou o velho".
Verdade ou não, resolvi pedir conselhos á minha boa amiga e psicóloga Doutora Grazieli Batista Cardoso que cuida da alma da pessoa, inclusive da minha. É possível  que ela também entenda a depressão dos meus bichos a quem dedico um carinho muito grande. Penso que quando eles sofrem, eu também sofro com eles.
Retirei o carro novo da garagem e levei junto comigo o cachorro Bob e a gata Doçura. Até o caminho ao consultório da Doutora Grazieli, não escutei ou vi nenhuma reação dos bichos tão alegres quando passeavam no carro velho. Os dois ali deitados, emburrados e sem dizer uma palavra, aliás um latido ou miado.
Dirigindo e matutando comigo mesmo, cheguei à conclusão que meus bichos não gostaram, assim como eu, do meu carro novo. Na realidade, pessoalmente penso que nem tudo que é bonito ou luxuoso trás felicidade. Pode ser que os animais tenham também este "pensamento", ou não?. Assim, ao chegar no consultório, os bichos nem a pau sairão do carro. Fui recebido muito bem pela Doutora que convidou-me a deitar num confortável sofá para abrir minha mente sobre as coisas da minha vida.
Fiquei ali deitado e contando uma porção de histórias até chegar na questão do carro velho, do carro novo, dos meus bichos e ela, a doutora, só ali anotando numa cadernetinha. Após um tempo, a Doutora perguntou se na minha infância eu já tive carrinhos de brinquedo. Doideira ou não da Doutora, respondi que eu tive uma patinete velha feita de madeira com volante de madeira que era minha paixão. E, num certo dia alguém roubou minha patinete. Como eu andava muito triste, meus pais compraram uma bicicleta nova para mim. Mas, tudo em vão. A tristeza não passava, a bicicleta nova não trazia alegria e nem me fazia esquecer da minha velha patinete de madeira.
Assim, Doutora Grazieli pediu que eu "acordasse" e aconselhou-me a deixar o carro novo com meus filhos e continuar saindo com meu carro velho. Segundo ela, eu não levo jeito para coisas muitos luxuosas na minha imaginação. Pensando bem, acho que minha praia é mesmo um feijãozinho com arroz e uma galinha caipira com angu e quiabo. Então, na volta para minha modesta moradia, olhei para meu cachorro Bob e minha gata Doçura que dormiam a sono solto, diferente daqueles cachorros magrelos e peludos nas janelas de carros luxuosos das madames e magnatas da vida e pensei: Vou fazer o que gosto e que me trás felicidade.
Encostei o carro novo. Liguei o carro velho. meu coração bateu forte. Mais forte ainda quando meu cachorro Bob Marly e minha gata doçura adentraram na maior alegria no seu interior. Antes de sair, minha esposa Maria, a Dadá disse: "Num falei preto, o uso do cachimbo faz a boca torta". Verdade ou não, amanhã vou deitar no sofá da psicóloga e dizer que estou mais feliz e sentindo muita saudade da minha patinete velha de madeira. Será que a Doutora vai entender???

Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado ao meu amigo Dr. Walcir Costa, um grande amigo e médico Psiquiatra em Teófilo Otoni-MG. Texto escrito em Barbacena-MG aos 17/01/2014.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

SONHO DE MATAR MACACO

Sonhar é bom. Eu, por exemplo, já tive milhares de sonhos na minha vida terrena. Quem nunca sonhou alguma coisa na vida?. Penso que sonhar faz parte da vida de todos nós, independente de posição social, raça ou credo. Sendo assim, mente á obra e sonho para que te quero.
Meu amigo Timotinho, aquele mesmo que quando surta e fica aparando cuspe ao alto com a boca, sempre me relatava que o sonho que mais gostava era aquele em que ele morria esfaqueado com as tripas expostas para fora. Segundo ele, ao acordar sentia-se como tivesse nascido de novo e passava a gostar mais da vida. Analisando o sonho do meu amigo Timotinho, acho que sonho tem muito a ver com o cotidiano da gente e até mesmo com o exercício da nossa profissão. Timotinho fazia bico de trabalho matando porcos no antigo chiqueiro do senhor Joaquim Duarte, ali pelas bandas da antiga grota da dona Verônica em Teófilo Otoni.
O senhor Amaro que morou ali pelas bandas da antiga favela do Subaco Fedendo em Teófilo Otoni, passou por terríveis problemas mentais. Senhor Amaro era um trabalhador exemplar e cuidava de muitos jardins e gramados nas residências mais luxuosas. Resumindo, ele tinha contato com pessoas mais abastadas, mais sadias, mais bem vestidas e mais bonitas aparentemente. De uma hora para a outra, o senhor Amaro começou a perguntar para o povo da favela " se alguém tinha visto uma moça bonita montada num cavalo alazão". Até ai tudo bem até o momento em que ele começou afirmar categoricamente que " aquela moça era filha de um coronel e que era sua namorada". Ai, o bicho pegou e o povo começou a comentar em boca pequena e ao pé do ouvido que o senhor Amaro havia ficado doido. E assim não deu outra com as  autoridades levando o senhor Amaro para ser internado num manicômio de Barbacena. Nunca, nunca mais voltou para Teófilo Otoni...
Estou escrevendo este texto após ter assistido um programa de televisão onde uma matéria jornalística muito bem feita mostra o trabalho daqueles abnegados médicos que dão assistência a comunidades ribeirinhas na região amazônica. Realmente, um belo trabalho profissional dos médicos em prol daquele povo tão esquecido pelos poderes públicos no Brasil. Mas, mudando de pau para cavaco, o que tem a ver o que eu comecei no texto com o que os médicos estão realizando na região amazônica?
Pois bem, na matéria jornalística, apareceu sendo entrevistado um senhor que foi operado pelos bons médicos e ficou curado de catarata. Aquele senhor quase não enxergava mais e fatalmente perderia de vez a visão. Foi então que a jovem repórter perguntou a ele: " O senhor está me enxergando?", e ele: "sim, a senhora é uma moça muito bonita". Então a moça repórter perguntou: "E agora, o senhor vai voltar para a casa na selva e qual o maior sonho do senhor quando lá chegar?". E o senhor respondeu: " Meu maior sonho é pegar minha espingarda e matar um macaco".
Pensando bem, acredito firmemente que tanto Timotinho e senhor Amaro não eram "tão doidos" como o povo comentava ao pé do ouvido. Ou eram???

Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado a meu bom amigo Januário Basílio ( residente em Barbacena), um excelente profissional na arte da fotografia, Jornalismo e pensamentos positivos para uma cidade de Barbacena melhor para todos nós. Texto escrito em Barbacena aos 08/01/2014.

sábado, 4 de janeiro de 2014

HISTÓRIA DO BAIRRO FUNCIONÁRIOS EM TEÓFILO OTONI

Recebo com satisfação noticias do Aristides Silva. Não sei explicar o que vem ocorrendo ultimamente com meus velhos amigos que de uma hora para outra começaram a dar notícias. Interessante que a maioria faz questão de dizer ao final do contato que " ainda estão vivos". Menos mal. Assim consigo, junto com eles, relembrar o passado da infância e juventude em Teófilo Otoni.
Aristides ou Tidão como era mais conhecido, foi um "mestre" numa tal infeliz pontaria. Não de futebol e sim na pontaria de matar passarinhos naquela antiga floresta onde hoje é o Bairro Funcionários em Teófilo Otoni. Nem bem o Tidão apontava o estilingue, seu irmão Miravaldo já ia abrindo a "boca" do bornal para guardar mais um pobre pássaro abatido pela pontaria implacável do Tidão que festejava dizendo: "acertei bem no coco".
Foi naquela floresta que passei a maior parte da minha infância. Era ali que eu junto com a molecada da Vila Verôncia, Subaco Fedendo e Cataquiabo, armava arapucas e sentia medo das cobras e possível onça pintada na minha imaginação infantil. Tidão era também um exímio fabricante de pelotas de barro que após mexidas com as duas mãos, eram colocadas em uma fogueira para ficarem afiadas e resistentes no momento fatal de acertar "o coco do bicho", segundo ele.
Eu participava daquele movimento infantil, mas, confesso que nunca gostei de matar pássaros. Eu sentia muita tristeza quando o irmão do Tidão buscava o passarinho morto. Eu olhava o passarinho com aqueles olhos arregalados parecendo implorar piedade e eu ficava triste, muito triste mesmo.
O que eu gostava mesmo era de pegar uns coquinhos chamados por nós de brejaúba e um tal coco "cançanção". Vez ou outra, a gente subia nuns coqueiros para pegar um tal coquinho "catarro" que era muito doce, babento e tinha uma cor amarelada quando maduros.
Com o passar do tempo, a floresta foi acabando com muito desmatamento pelo povo que cortava as árvores e cozinhavam em fogão a lenha. Hoje ali é o Bairro Funcionários e penso que grande parte dos moradores não conhecem a história antiga do bairro e nem sabem que ali existiu uma grande floresta que encantava a todos, principalmente as crianças com eu, Tidão e muitos outros da antiga Vila Verônica em Teófilo Otoni.

Autor:Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado aos moradores do Bairro Funcionários em Teófilo Otoni e a todos aqueles que preservam a história e memória da cidade de Teófilo Otoni. Texto escrito em Barbacena aos 04/01/2014.