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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

A RIQUEZA TEM ASAS EM TEÓFILO OTONI

Nas minhas andanças pelo Brasil, escutei mais do que falei. Em alguns estados do Brasil, as pessoas diziam que eu era assim calado por ser mineiro. Mas, confesso que escutei muito tudo aquilo que ouvia nas igrejas, nos pontos de ônibus, nas escolas, nas fábricas onde trabalhei, nos campos de futebol e principalmente na minha solitária militância política.
Eu fui jogador de futebol amador pelo América de Teófilo Otoni, São Benedito da Vila Barreiros, Cruzeiro de Teófilo Otoni e outros times amadores. Jogando futebol, eu era tão calado que meu antigo técnico chamado Caruê , gritava desesperado: "Acorda Téo, que o jogo já começou a dez minutos". Mas, eu só começava a jogar bonito mesmo era depois de tomar a primeira pancada ou cacete do adversário.
Penso que a gente precisa tomar umas pancadas na vida para que cresçamos e nos tornemos um exemplo de vida para nós e a as pessoas que nos cercam.Acho que somos uma pedra bruta que após passar por um processo de lapidação tornam-se uma preciosidade aos olhos da sociedade e uma quase perfeição aos olhos do arquiteto Deus, o inigualável perfeito.
Uma certa vez, fiz uns escritos sobre a ganância do ser humano por lucros financeiros, bens materiais, holofotes da mídia, ego vaidoso, etc, etc. Um certo advogado, meu conhecido, abordou-me ali pelas bandas da Praça Tiradentes  de Teófilo Otoni e disse-me: "Olha Téo, eu li seu texto. Só que aqui no plano terrestre os homens só são iguais na horizontal". Se bem entendi, ele quis dizer que nós só somos iguais quando morremos e somos enterrados na horizontal.
Há muitos anos que não tenho noticias daquele advogado. Penso que o mesmo já tenha entrado para o seu mundo dos iguais em sua concepção de vida. Por certo, não percebeu e entendeu que nenhum caminhão de mudança com seus pertences e tesouros, acompanhou seu cortejo fúnebre até o campo dos iguais, segundo ele.
Falando em enterro, lembrei de um padre muito famoso pelas bandas do Vale do Mucuri que se chamava Zoel. Boa pinta e falante, padre Zoel era o tal. Tinha o costume de detestar marxistas ou leninistas da vida, principalmente em sua região. Afinal, ele não gostaria  nunca de  perder as boquinhas do poder. Uma certa vez perguntei ao padre Zoel como ele se sentia usando carros, roupas e joias vistosas aos olhos de um povo tão pobre como os do Vale do Mucuri e Jequitinhonha. A resposta veio rápida como uma consulta do trabalhador junto ao INPS ou SUS como queiram: "Olha Téo, Sou padre mas não sou burro".
E assim, padre Zoel me deixou sozinho matutando quem de fato era burro. Seria eu? o povo?. Burro ou não, avistei o padre Zoel dando gargalhadas com o prefeito e seus saltitantes assessores. Pois é, a luta, aliás, a vida continua meu povão do Vale do Mucuri.



Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho( Téo Garrocho)- Texto dedicado ao meu amigo de sandálias velhas e surradas, Padre Geovani Lisa de Teófilo Otoni que me ensinou, assim como Mário Lago, "Que é na minha cidade ("junto com o povo") que começamos a ser felizes". Barbacena, em 13/02/2013.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

O PAU COMEU NO SUBACO FEDENDO DE TEÓFILO OTONI

Confusão era ali mesmo. O pau comia quase todo dia e noite no subaco fedendo de Teófilo Otoni onde praticamente fui criado. Se a gente falava que morava perto do subaco fedendo, a discriminação era quase total àquela época em Teófilo Otoni.
Eu particularmente, adorava o subaco fedendo e seu povo. Ali tinha de tudo. O povo em sua maioria eram trabalhadores e trabalhadoras que poderíamos denominar de engraxates, faxineiras, biscateiros , pedreiros, carpínteiros, lavadores de carros, funileiros, limpadores de campas no cemitério, parteiras e etc. etc.
Assim como em Brasília, no subaco fedendo tinha também muito ladrão de todo tipo. A única diferença era que no subaco os ladrões não tinham terno e gravata. No subaco, quando a policia prendia o meliante, o caboclo já descia o morro tomando cacete e porrada até chegar na delegacia. Diferente de Brasília onde os ladrões dificilmente são presos e nem sequer tomam um tapa. Pelo contrário, saem até nas capas de revistas elitizadas do Brasil.
No subaco fedendo, na época, tinha sem exagero uns vinte centros de umbanda. Era comum a prática do umbandismo e cansei de ver pessoas consideradas ricas frequentando os terreiros de umbanda. Os meninos do subaco fedendo adoravam olhar carros e ganhar alguns trocados dos  supostos milionários de Teófilo Otoni.
No subaco fedendo tinha muita mulher bonita e muita mulher feia também. Tinha mulher de lábios carnudos e dentes alvos. Também tinha muita mulher de boca banguela que sonhava em colocar um par de "chapa" na boca, isto é, uma dentadura. No subaco fedendo tinha cabaré com prostitutas para a gente praticar sexo e se ali não fosse possível, a gente descia e tinha dois cabarés famosos que eram o carrapatinho na rua Teófilo Rocha e o curral das éguas que ficava na rua do arrasta couro.
No subaco fedendo não tinha água. Talvez dai o apelido. Banho só na lagoa da alegria ou no rio santo marcolino onde tinha um campinho de futebol chamado de campo do Zé  Ramiro, filho do cabo militar Ramiro Pedro Ferreira.
Lá de cima do morro do bispo, lugar da minha primeira namorada, neusinha de seo Ioiô e dona Davina, eu avistava o subaco fedendo e sentia uma alegria danada de ter nascido por aquelas bandas. Penso que minha primeira namorada, a neusinha que era muita bonitinha, também gostava do subaco fedendo. Ela tinha o costume de encostar aquele rostinho de anjo no meu peito, bem perto do meu subaco feden, aliás, cheiroso segundo ela.


Autor; Walter Teófilo Rocha Garrocho( Téo Garrocho) - Texto dedicado ao meu saudoso amigo Geraldo Magela de Almeida Prates, meu companheiro "subaqueiro da vida"- Barbacena, 11/02/2013