ADS 468x60

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

O HOMEM DO FUMO VEM AI EM TEÓFILO OTONI

Em todas as cidades do interior e até mesmo em capitais brasileiras é comum em época de eleições depararmos com propagandas de vários tipos de candidatos. Alguns muito sérios com vastos bigodes, outros sorridentes e mais outros com aquela "cara de sofrido" parecendo implorar o nosso voto. Há santinhos, como são conhecidos as minúsculas propagandas, para todo tipo de gosto. É bem provável que existam colecionadores daqueles retratos que me faz lembrar dos antigos álbuns de figurinhas vendidos há décadas atrás. Há gosto para tudo e temos doido para tudo neste imenso Brasil.
Falando em santinhos de políticos, relembrei de alguns apelidos políticos de arrepiar pelo de cachorro doido. Aqui em Barbacena tivemos dois candidatos á Câmara Municipal com apelidos interessantes que me chamaram a atenção, ou seja, "Pescoço" e "Maria Marimbondo". Fico imaginando uma sessão da Câmara onde o Senhor "Pescoço" e a Senhora "Maria Marimbondo" pedem um aparte ao presidente da mesma. Acredito que seriam ferrenhos defensores do povo irreverente da folclórica Barbacena.
Com ajuda do meu amigo Timotinho, aquele que quando surta, acredita ser um agente da C.I.A, elaboramos uma lista de apelidos de candidatos a vereador e encontramos "preciosidades" de fazer inveja a muitos cartórios do passado e raras como o Senhor "Pescoço" e Senhora "Maria Marimbondo". Meu amigo Timotinho, sorrindo sem dentes na boca, entrega a este velho mancebo uma lista onde começa com " Leite da Vaca Branca", Lauríssio "Liga o Rádio", "Cabrinha". Outros colocam até mesmo a instituição onde trabalham ou trabalharam, "Pedro Soldado", " Jenan detetive", Bornelas do Hospital", "João da Santa Casa", "Tião do Sindicato", " Manezinho das Tesouras", " Canjinho do Curuto", " Piter do Caminhão", "Oswaldinho da Ambulância", " John da Semente" e por ai vai...
Quando eu era jovem em Teófilo Otoni, conheci vários candidatos com apelidos muito interessantes e três deles chamavam a minha atenção. O slogan de um era "Não seja ruim, vote no Caboclim". Não preciso falar mais nada. Os outros eram Zé Cueca e Arnô do Fumo. O apelido do senhor Zé Cueca eu não sabia decifrar, mas o de Arnô era porque ele vendia fumo de rolo numa banquinha dentro do Mercado Municipal de Teófilo Otoni. Sei que os dois foram vitoriosos e se tornaram representantes do povo da cidade do amor fraterno em décadas passadas.
Lembro que em algumas concentrações políticas chamadas de comícios, havia uma turma de loucos no bom sentido que marchava e cantava mais ou menos assim: "Passou, passou, passou um avião e nele estava escrito que Arnô do Fumo é campeão". Ainda bem que foi no passado aquela marcha. Caso fosse nos tempos atuais, o folclórico Arnô do Fumo poderia ser confundido com apologia ao famoso cigarrinho do capeta e até ele explicar para as autoridades que "Fucinho de porco não é tomada", já tinha tomado muito fumo no cangote.
Pensando bem, tanto Arnô do Fumo, Seo Zé Cueca, Pescoço, Maria Marimbondo, Cabrinha, Canjinho do Curuto, Piter do Caminhão ou Manezinho das Tesouras são verdadeiros operários da construção de uma pátria livre. São na verdade agentes que constroem a democracia brasileira que mesmo capengando aqui e acolá vai se fortalecendo com a participação popular. Afinal, a democracia vem do povo, pelo povo e para o povo.

Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado ao meu humilde, inteligente e bom amigo Francisco Melo, o popular "Chico da Cocada" em Teófilo Otoni-MG. Texto escrito em 31/10/2013, Barbacena-MG.

terça-feira, 29 de outubro de 2013

JUSTIÇA E FRATERNIDADE EM TEÓFILO OTONI

Ha trinta anos não tinha noticias do PJ. Na verdade, PJ ainda é o apelido ou nome de guerra de Pedro Paulo Fernandes Pessoa, um amigo de infância e juventude na antiga Vila Verônica em Teófilo Otoni. Na certa, meus bondosos pais passaram meu celular para ele e não deu outra. Exatamente à meia noite, PJ me ligou quando este velho mancebo estava naquela fase de dormindo como um anjo.
PJ sempre foi e acredito que continua sendo um sujeito irreverente. Afinal não é qualquer um que liga para as pessoas em plena meia noite. Confesso que de todos os meus amigos, ele foi o mais polêmico no bom sentido. PJ era daqueles que se você falasse que fulano de tal era boa pessoa, ele imediatamente retrucava: "Bom que nada Téo, Bom é Deus que está nos céus".
Nunca me esqueço que várias pessoas ao sentir a presença de PJ, eles atravessavam a rua e passavam de longe. Alguns até se benziam fazendo o em nome da cruz. PJ não estranhava e dizia que "Todo aquele que tem rabo preso, corre da verdade". Seria o PJ a verdade em carne e osso encarando olho a olho a mentira? Tudo é possível neste mundo.
Polêmico ou não, PJ sempre me encantava com suas sábias palavras. Tinha eu uma antiga bicicleta Monark muita velha que andava de mão em mão. Eu nunca fui agarrado a coisas materiais e sempre emprestava minha velha bicicleta a todos que precisavam e assim aquela prestativa bicicleta ficou conhecida por todos como  "a calanga do Téo".
Pois bem, certa vez emprestei a tal calanga para o PJ ir até à Vila Barreiros visitar seu irmão Ildemar, mais conhecido por Carabina que frequentava e tocava tambor no Centro Espírita da saudosa e bondosa Dona Maria José Leite. Nesse intermeio, chega à minha casa um primo meu que queria minha bicicleta emprestada e eu disse que PJ estava com a mesma lá pelas bandas da Vila Barreiros.
O tempo passou, passou. passou. PJ só chegou à tardinha na "boquinha da noite" e meu primo muito nervoso disse que ele demorou muito e "nem era da família para ficar aquele tempo todo com a calanga do Téo". Foi ai que o polêmico PJ entrou em cena e disse: " Que família? Téo é nosso irmão,  não discrimina ninguém e não tem família de alta sociedade. A família de Téo somos nós, o povo. A calanga de Téo é nossa. É do povo".
Depois daquele momento, nunca mais PJ conversou com meu primo. Parecia a verdade olhando no olho da mentira dizendo: "Avançar sempre, retroceder jamais".

Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado ao meu amigo de infância e juventude, Pedro Paulo Fernandes Pessoa, o famoso PJ de Teófilo Otoni. Texto escrito em 29/10/2013 em Barbacena-MG.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

A VERDADE EM TEÓFILO OTONI

Tem coisas que a gente não esquece. Estive relembrando fatos passados que se perpetuaram na minha mente. Minha esposa, quando comento fatos passados, diz que fico assim porque ainda não tomei meu Gadernal. Sob o efeito ou não do anti depressivo, toco a vida em frente e vou escrevendo meus humildes escritos que fazem um bem melhor que anti depressivos. Confesso que é o momento em que sinto  uma grande vontade de viver. Assim, vou relembrando fatos trágicos e outros com final feliz.
Acho interessante como as coisas acontecem e quando você procura a verdade, ela nunca é como grande parte das pessoas acredita. Então, "fico matutando com meus botões" o que é a verdade? O filho de um judeu chamado José, segundo o livro sagrado que conhecemos, teve uma esposa chamada Maria. Segundo o livro, foi gerado no ventre de Maria, um filho de nome Jesus através do Espírito Santo de Deus. O menino então passou a ser filho de Deus. Quando criança, Jesus já pregava a sua doutrina e na fase adulta costumava dizer: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida".
Dentro das minhas limitações de pensamento acredito que todos nós temos caminhos a percorrer na vida e muitas vezes nos distanciamos da verdade. Você já parou para pensar nisso? Quantas vezes nós já mentimos, enganamos, discriminamos e caluniamos? É comum a gente escutar: " Que seu caminho seja iluminado" ou "Deus abençoa sua vida". E a verdade? a verdade na maioria das vezes nem sempre é lembrada.
Então, volto á frase bíblica de Jesus e acho difícil grande parte das pessoas seguirem fielmente conforme a palavra daquele que foi gerado no ventre de Maria pelo Espírito Santo de Deus, o termo verdade. Tem até uma antiga citação muito falada no mundo inteiro que diz: "A verdade traz dor". Seria Jesus nos repreendendo no caminho e na vida?
Deixando a verdade pura e cristalina daquele homem que nos encantou e encanta com sua sábias palavras, volto ao "feijãozinho com arroz" dos fatos passados que já presenciei. Foram tantos que pensei até em escrever um segundo livro. Como não tenho recursos financeiros para editar, nunca procurei patrocinadores e tenho pavor de procurar políticos para me bancar (questão de princípios), escrevo neste humilde BLOG que criei para tornar públicos meus modestos escritos.
Até o momento já tenho umas 170 publicações e assim como Túlio Maravilha que pretende fazer mil gols, também espero chegar a mil publicações. Uma cigana leu minha mão e disse que vou morrer com 98 anos e até lá tem muito caminho e vida. Espero não esquecer da verdade  que me faz retornar aos 10 anos da minha infância onde eu ajudava muito minha avó a cuidar das cabras e uma centena de galinhas. Minha avó era uma imigrante polonesa de nome Bronislawa que falava uma mistura de alemão com português. Todos a conheciam por Dona Verônica ali pelas bandas da antiga Grota da Verônica em Teófilo Otoni.
Minha avó mandava eu enfiar o dedo no Cú da galinha e perguntava: "Tem ôvo?" e eu ao tocar o dedinho no ovo dentro do Cú da galinha, respondia numa alegria danada: " Essa tem ôvo vovó" e minha avó retrucava: "Verdade ou mentira?" e eu "Verdade Vovó". Então separa a verdade meu neto, dizia minha avó com um belo sorriso no rosto.
Na minha inocência de criança eu conhecia a verdade e passei a gostar de ser um homem verdadeiro que incomodou e ainda incomoda muita gente. Aquele que foi gerado pelo Espírito Santo de Deus, dizia "Deixai vir a mim as criancinhas porque delas é o reino de Deus". Ele, na sua sabedoria de iluminado já sabia que toda criança é verdadeira e assim o caminho e a vida são mais iluminados. A verdade, ainda que doa, está acima de todas a misérias deste mundo.

Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho( Téo Garrocho)- Texto dedicado á minha saudosa avó materna, Bronislawa Zalazik (Dona Verônica) que me ensinou os princípios da verdade. Texto escrito em 22/10/2013-Barbacena-MG.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

LIBERDADE SEMPRE EM TEÓFILO OTONI

Eu tenho uma gaiola com mais de cinquenta passarinhos de várias espécies. Tenho o costume de namorá-los quando estou em casa. A gaiola fica pendurada em um pé de goiaba e os passarinhos ficam todos juntos. Ali eles se alimentam, bebem água fresca, cantam muito e não brigam entre si. Todos os meus amigos e as crianças que conhecem a minha gaiola, ficam maravilhados com a festa proporcionada pelos passarinhos.
Desde criança eu sonhava em ter uma gaiola como aquela e com muitos passarinhos. No começo eram dois, três e com o passar dos dias eles foram aumentando e já passam de cinquenta. Eles ficam misturados numa alegria e algazarra como criancinhas em época de férias. São rolinhas, canarinhos amarelos e rajados, coleirinhas, currixos, sanhaços, garrinchinhas, sabiás, pardais, periquitos e muitos outros.
A cada dia que passa, vão aparecendo novos visitantes. Coloquei um bebedouro com água para os beija flores que "param" no ar sem se importar com a festa dentro da gaiola onde os passarinhos bicam o painço, alpiste e canjiquinha. Coloquei também bananinha prata e bananinha dedinho de moça que os sanhaços e os currixos devoram em poucos minutos.
Tenho um amigo que ama a natureza e quando ele visita minha casa, é comum ele ficar parado que nem uma estátua admirando aquela festa de pássaros dentro da gaiola. Segundo ele, a minha ideia foi genial, "coisa de maluco" e se a moda pega, vão aparecer milhões de gaiolas daquele tipo em muitas casas e quintais do mundo inteiro. Posso afirmar com certeza que milhares de pessoas no mundo inteiro já tem o tipo de gaiola que encanta a todos que me visitam. Penso que não sou o primeiro. Muitos amantes da liberdade surgiram antes de mim.
Eu costumo pensar que aquela gaiola representa muito para mim que sempre lutei e vou continuar lutando por liberdade. Aquela gaiola no meu humilde quintal e que encanta a todos não possui portas e nem trancas. Os passarinhos continuam sempre livres como deveriam ser todos os povos do mundo. Sempre pensei e vou morrer pensando que a alma livre é mais feliz.

Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado aos professores e mestres da Universidade dos Vales do Mucuri e Jequitinhonha em Teófilo Otoni-MG. Texto escrito em 17/10/2013- Barbacena-MG. 

terça-feira, 15 de outubro de 2013

ERENILTON AMARAL, UM AMIGO DE FÉ EM TEÓFILO OTONI

Do trevo da estrada do boi até Ataleia não havia asfalto. Aquilo ali quando chovia ficava barro puro e para chegar de carro ou ônibus era uma dificuldade muito grande. A gente tinha que descer dos carros ou ônibus para ajudar a empurrar tirando os mesmos dos atoleiros.
"Ô Teófilo, desce do ônibus meu filho e vem ajudar, senão a gente não chega a tempo para o almoço na casa do tio Cristalino". Era assim que meu amigo de juventude, Erenilton Amaral falava para mim há uns 42 anos atrás nas viagens que fazíamos até a cidade dos seus parentes e se não me engano onde nasceu.
Erenilton Amaral foi um bom amigo. Um tesouro que Deus, o construtor do universo, me proporcionou. Grande parte da minha juventude convivi ao seu lado. A gente se conheceu no Tiro de Guerra (Exército) na turma de 1972 em Teófilo Otoni. Eu era o atirador Teófilo e ele o atirador Amaral. Ainda, com saudade, lembro que terminando as instruções do Tiro de Guerra pela manhã, a gente vinha junto e passávamos na pensão de sua mãe Dona Lió para tomarmos aquele café quentinho preparado por ela, além do pão com manteiga e biscoito de goma.
Foi nesta época da minha juventude que mais fortemente as perseguições e prisões do meu pai pela ditadura militar abalavam muito a minha vida e quando eu desabafava com ele, sempre encontrei nele um bom amigo para me escutar e até aconselhar. Era só eu falar: "Erenilton, eu não tô legal", e ele dizia: "Entrega teus sofrimentos para Deus que tudo vai dar certo".
Estudamos juntos no antigo Colégio Portugal que funcionou num casarão antigo perto da Rua Ana Amália, abaixo do morro da igreja matriz e subida do morro do Zig Zag. Foi nesse tempo que veio também o futebol no América de Teófilo Otoni onde Erenilton foi um grande goleiro e eu um limitado meio campista comandados pelo nosso saudoso amigo Caruê.
Relembro que fizemos algumas viagens juntos para jogar futebol. Uma em Ouro Verde de Minas, em Ataleia e outra em Carlos Chagas. Sempre que voltávamos, eu passava na pensão de Dona Lió, sua mãe e trocava dedinho de prosa com Roselito, seu irmão, Marinalva, sua irmã e os outros irmãos mais novos.
O tempo passou e Erenilton casou com minha amiga Dilma, Roselito casou com minha amiga Elvira que era irmã do meu bom amigo Artur Guedes (Tusa) e eu fui andar pelo Brasil lutando contra a ditadura militar e pregando sistematicamente o direito á liberdade e volta do Estado de Direito. Mesmo perdendo contato pessoal, sempre tive notícias que Erenilton Amaral continuava nos meios esportivos. Foi Goleiro do América de Teófilo Otoni, do Santo Antonio e posteriormente técnico de futebol dos dois times em que atuou e dedicou grande parte da sua vida.
No domingo que passou, ao telefonar para meus velhos pais em Teófilo Otoni, eles me falaram que Erenilton Amaral partiu, ou seja, faleceu. Fica em minha alma um vazio. A gente na verdade não se encontrou mais pessoalmente, mas a gente gostava muito de você meu amigo de fé. Muita luz, vai dar tudo certo!!!

Autor:Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado ao meu saudoso amigo de juventude Erenilton Amaral, familiares e amigos em Teófilo Otoni-MG. Texto escrito em 15/10/2013, Barbacena-MG.

domingo, 13 de outubro de 2013

MORRO DOS VELHACOS EM TEÓFILO OTONI

Não pagava ninguém. Comprava fiado aqui e acolá. Acostumou tanto que já não importava de ser chamado Zé Túlio, o velhaco. Na pia batismal foi registrado José Antúlio, filho de Conceição "parteira" e Olavinho "sapateiro". "Os dedos da mão não são iguais", dizia seo Biba, proprietário da Casa Popular, uma espécie de venda antiga, tipo a do senhor Nestor Medina situada na famosa "Borracha Franca", onde o povo comprava de tudo. Desde um dedal e carreteis de linha para costura, farinha, banha de porco, querosene para lampião, pinga boa pura e com raiz, até lenha rachada para fogão a lenha.
Realmente, os dedos de Zé Túlio não eram iguais aos de seus pais. Enquanto Olavinho sapateiro e Conceição parteira pagavam religiosamente em dia seus credores, Zé Túlio rolava a dívida que chegou ao ponto de cortar caminho por um morro próximo e não passar em frente á venda do seo Biba. Nasceu assim o Morro dos Velhacos na pacata Filadélfia do Nordeste Mineiro, onde, segundo os mais antigos, Zé Túlio teve sua doutrina de enganação perpetuada até mesmo nos políticos locais.
Dona Loló, uma figura ímpar que passava quase o dia todo na janela do seu velho casarão, dizia sempre que " O uso do cachimbo faz a boca torta". "Depois que Zé Túlio passou a enganar todo mundo, isso aqui em Filadélfia virou uma fábrica de corruptos". Até mesmo o Chicão, homem sério que tinha carro de praça na praça dos choferes, dizia meio ressabiado olhando pros cantos que " Zé Túlio inventou uma coisa que cresce igual uma bola de neve. A bola rola há tantos anos que vem crescendo assustadoramente". Caetano, um jornaleiro, dizia que o Zumzumzum sobre Zé Túlio era arrepiante ali pelos lados da Praça Picadentes.
Seo Biba, cansado de esperar pelo pagamento da dívida, resolveu fazer uma tocaia para pegar Zé Túlio e sua turma de seguidores velhacos. Armado com uma foice, ficou de butuca á espera daquela turma de vagabundos que viviam ás custas do suor do povo e viviam na maior mordomia na pacata Filadélfia onde chegavam ao ponto de descansar em redes sociais, digo, redes de dormir. Assim, lá do alto das maracutaias, digo, lá do alto do morro dos velhacos vigiavam quem subia para dar o bote. Eram na verdade, uma quadrilha organizada tendo como chefe supremo Zé Túlio, aquele que tinha os dedos das mãos diferentes dos pais que sempre foram honestos e transparentes.
Em plena sexta feira da paixão e seo Biba ali no meio do mato com aquela baita foice. A noite chegou e seo Biba sentiu frio e medo. Ao olhar para a subida do morro viu que uma procissão subia com muitos seguidores e muitas velas acesas. Seo Biba arrepiou e pensou: " Será que erraram o morro da igreja matriz?". E as vozes iam crescendo em coro: "Crucifica, crucifica, crucifica". Seo Biba só tinha um caminho que era descer o morro. A foice foi agarrada na cacunda e ao chegar perto da procissão, escutou uns gritos: "Pega, pega, pega, com foice na cacunda só pode ser o capeta". Seo Biba correu tanto que a foice ficou e ao chegar ali pelas bandas da Zona boêmia do Chico Sá, sentiu que há muito tempo tinha borrado nas calças.
Três meses depois, Zé Túlio velhaco apareceu na venda do seo Biba e ofereceu uma foice para abater na dívida. Ao despedir, virou para seo Biba e disse: "Olha seo Biba, o único problema dessa foice é que o cabo dela tá todo cagado". Dona Loló, aquela da janela do casarão falou para seo Biba que o cabo pode ser lavado e passado a limpo. A foice continua boa para ser bem usada. Recado de que entende das janelas do mundo.

Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado á minha amiga Janice Tameirão. Ativista política em Teófilo Otoni-MG- Texto escrito em 13/10/2013, Barbacena-MG.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

SUBACO FEDENDO NA UNIVERSIDADE DE TEÓFILO OTONI

Dona Maria Ferreira, mais conhecida por Maria Rabo de Galo acorda ás cinco horas da manhã. Segundo ela que já está com mais de sessenta anos, a rotina do horário é a mesma desde o tempo do seu saudoso marido Vicente que faleceu há cinco anos atrás. Vicente era chapa, uma espécie de profissão do trabalho que denominava aqueles homens que ficam nos trevos das entradas da cidade esperando que algum caminhoneiro lhes deem trabalho de descarregar as cargas dos caminhões.
Sempre que passo por aqueles trevos, sinto a lembrança da antiga favela do Subaco Fedendo em Teófilo Otoni que hoje é oficialmente conhecida por Vila Progresso. Daquele morro desciam em todas as manhãs um batalhão de trabalhadores de várias profissões. Antigamente muitos eram conhecidos por biscateiros. O biscateiro era o trabalhador que aceitava qualquer tipo de serviço que aparecia e assim o ajudava na luta pela sobrevivência.
Eram muitos, rachador de lenha, lavadoras de túmulos no cemitério municipal, engraxates, pegadores de frete na feira, parteiras de crianças, benzedores(as), curandeiros(as), amoladores de facas e tesouras, limpadores de quintais, lavadeiras de roupas e muitos outros naquele universo de excluídos numa terra onde há tempos atrás era comum alguém perguntar: "De qual família você é?".
Lembro como se fosse hoje que a tal pergunta me foi feita certa vez em uma festa no centro de Teófilo Otoni por uma certa pessoa elitizada. Respondi que eu era filho da família dos pobres e excluídos de Teófilo Otoni. Parece que a tal pessoa não gostou e perguntou a outro alguém elitizado quem era aquele cabeludo. O outro alguém disse que eu era filho do Tim Garrocho, " Aquele, aquele comunista lá dos lados do Subaco Fedendo". Então, a tal pessoa elitizada entendeu a minha resposta e passei a ser uma "pesona non grata" na sua festa. Confesso que não me abalei, tendo em vista que passei por centenas daquelas situações na minha juventude. Os motivos, todos que conhecem a história do meu pai, já sabem.
Fatos como o relatado só serviram para nosso engrandecimento espiritual e cultural. Quanto mais "batiam" na nossa família, mais crescíamos lendo diversos tipos de literatura, jornais que meu pai trazia e deixava em cima das nossas camas, além de contatos com pessoas inteligentíssimas e amigas do meu pai em sua luta pelo socialismo. Relembrando o poeta Tiago de Melo, " Nós podemos nos olhar em espelhos sem medo de nos vermos". Nunca nos dobramos e curvamos perante eventuais donos de poder e supostos poderosos de Teófilo Otoni, em Minas Gerais e na nossa pátria Brasil.
Assim, voltando á Dona Maria Ferreira que ainda acorda ás cinco horas da manhã, fica uma pergunta: "Porque tão cedo?" e ela na sua eterna simplicidade, diz que agora faz café para seu filho mais novo que estuda para ser "Dotôr" na Universidade que fica ali pertinho mesmo. "É só ele descer o morro da igrejinha, passa pelo antigo Santo Marcolino e chega na Universidade. Daqui lá dá uns vinte minutos a pé e andando devagar".
Escutando história como essa é que chego á conclusão que meu pai, ao doar muitos pedacinhos de terra na antiga Favela do Subaco Fedendo, estava certo quando dizia a todos e a nós seus filhos: "Terra não tem dono. Terra é de Deus e se todos somos filhos de Deus, todos nós temos que ter direito a um pedaço de terra". Então, vendo exemplos como o do filho de Dona Maria Ferreira que estuda para ser um mestre na sua área escolhida, acreditamos que valeu a pena habitar aqueles morros que eram chamados de Subaco Fedendo e Cataquiabo. Afinal, caminhão de mudança e contas bancárias não entram em cemitérios.

Autor:Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado ao Dr. Paulo Chaves, médico psiquiatra, nascido e criado na antiga Favela do Subaco Fedendo e meu amigo de infância e juventude. Texto escrito em 10/10/2013, Barbacena-MG.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

O PREFEITO PAPUDO VOLTOU NO NORDESTE DE MINAS

Em muitas cidades do interior, a política sempre foi um foco nos comentários locais. As últimas eleições municipais trouxeram novamente ao cenário político, figuras arcaicas e ultrapassadas na forma de fazer política. Na verdade, são elementos que, infelizmente, plantaram raízes nocivas em administrações passadas. Agora voltam e com eles e seus seguidores um retrocesso administrativo.
Eu fico imaginando o que se passa na cabeça de uma população ao votar em elementos acostumados "a mamar nas tetas" do erário público durante décadas. Numa certa cidade, dizem, apesar dos questionamentos dos derrotados que nunca engoliram o prefeito papudo, ele, segundo seus assessores ferrenhos, "voltou nos braços do povo". É bem provável que aquela antiga máxima de que " Todo povo tem o governo que merece" se encaixa perfeitamente.
No caso da tal cidade, o prefeito papudo tem ferrenhos seguidores que o ajudam a mamar nas tetas da prefeitura. Alguns, chegam ao ponto de dizer em praça pública que "Papudo rouba, mas faz". A corrupção, o nepotismo, o ego vaidoso sempre fizeram parte do tal prefeito. Mas, para tristeza dos que amam um política transparente, gente tipo o prefeito papudo são raposas velhas e não se abalam. Em Brasília os exemplos são muitos e naquelas cadeiras do senado e câmara federal estão sentados várias raposas velhas tipo o prefeito papudo. Tem um que sempre diz em entrevistas: "Tô pouco me lixando para o povo".
Acostumado aos holofotes da mídia tendenciosa, o prefeito papudo desfila pelas ruas centrais ao som de gritinhos alegres dos seus seguidores e assessores: "Rei, Rei, Rei (Três vezes), Papudo é o nosso rei". Dizem que ele ainda sonha em seguir para Brasília para se juntar à alguns discípulos locais e regionais do seu jeito de fazer política com p minúsculo. Até lá,  eu e o povo esperamos acordar deste pesadelo...

Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado ao meu amigo de juventude, o Engenheiro José Campos (Zé Campos), filho do saudoso João Rosa de Souza, fundador do Partido dos Trabalhadores em Teófilo Otoni-MG. Texto escrito em 08/10/2013, Barbacena-MG.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

O HOMEM QUE COMIA PAPEL EM TEÓFILO OTONI

Na pacata Vila São João onde a igreja era conhecida por Santo Antônio, morava um homem que comia papel. Comia tanto papel que no outro dia ao evacuar, as letrinhas se espalhavam pela Vila e arredores. Haviam letrinhas de A, B, C até Z. Assim, o homem que comia papel ficou tão conhecido que sua fama chegou ao centro da cidade, em todo o país e até mesmo fora do país.
Um fazendeiro que morava por perto e que detestava gente que tinha gosto pelas letras, cismou que aquele sujeito era um comunista infiltrado na comunidade e representava, na sua concepção, um perigo pronto para comer criancinhas ou até mesmo trocar o nome da Vila de São João para Vila Stalin ou Vila Fidel Castro, sem falar no extremo da radicalização ao invadir suas terras fazendo a tão sonhada reforma agrária pregada em palanques pelos extremistas, segundo ele, João Goulart e Leonel Brizola.
Montado em seu cavalo alazão, o fazendeiro partiu para o centro da cidade e decidiu enviar um telegrama a um deputado federal do antigo partido da ARENA para relatar os acontecimentos e solicitar o envio de um agente do antigo S.N.I para averiguar a vida daquele comedor de papel. Então, atendendo interesse do fazendeiro, o tal deputado federal que tinha o costume de comer, beber e dormir na fazenda em suas andanças políticas naqueles redutos, enviou um agente para se infiltrar no meio do povo e dar o bote no suposto comunista.
Enquanto isso, alheio ás preocupações do fazendeiro latifundiário, o homem que comia papel continuava fazendo suas fezes em letrinhas. Diziam alguns moradores que muitas crianças com ajuda de uma régua, separavam as letrinhas, formavam palavras e até aprendiam a ler e escrever. O gosto foi tanto pelas letrinhas que até mesmo os adultos que eram completamente analfabetos, aprenderam no mínimo a assinar o nome.
Voltando da cidade e ao passar pela Vila São João em seu cavalo alazão, o fazendeiro que detestava gente com gosto por letras, ficou enfurecido com tanta criança brincando de separar e juntar letrinhas. Mais enfurecido ficou quando avistou o padre Curió no meio do povo. "Este padre Curió tá me cheirando comunista". Não era para menos a preocupação tendo em vista que ultimamente padre Curió antava meio ressabiado e falando muito numa tal de "Teologia da Libertação".
Assim, o fazendeiro, em certa manhã, resolveu procurar o padre para tirar dúvidas e preocupações em relação á sua ideologia e seu temor em perder suas terras para os comunistas que cresciam a olhos vistos na pacata Vila São João. Foi na sacristia e nada, foi na torre da igreja e nada. "Uai, onde se meteu aquele padre comunista? Perguntava para si mesmo alisando o vasto bigode "fura fronha".
Foi ai que escutou um zumzumzum vindo do pequeno quartinho do padre Curió e foi lá para averiguar. Não acreditou no que viu. Sentados os dois, Padre Curió e o homem que comia papel em dois penicos daqueles brancos bem antigos e saboreando jornais de nomes Pasquim, Movimento, Binômio e o famoso Luta Operária.
Desesperado, o tal fazendeiro voltou ao posto dos correios e telegrafou ao deputado perguntando sobre o tal agente do S.N.I que não pareceu. Uma semana depois veio a resposta:" Agente gostou das letrinhas, agente gostou do padre, agente gostou do homem que comia papel, agente gostou das criancinhas que aprendem a ler e escrever, agente gostou dos adultos alfabetizados, agente gostou do povo organizado, agente ficou feliz com tanta cidadania. Assim, agente voltou para um novo tempo no Brasil".
O fazendeiro saiu do posto de correios, montou no cavalo alazão e escutou: " Nós vamos prá onde patrão?". Era o cavalo alazão que havia acabado de comer umas letrinhas.

Autor:Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado ao meu primo e grande amigo Fernando Rievers( Fernando Bulé), nascido e criado na Vila São João em Teófilo Otoni-MG. Texto escrito e,m 07/10/2013. Barbacena-MG.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

HISTÓRIAS DE TEÓFILO OTONI

Voltei a cutucar minhas papeladas velhas que guardo num velho baú. Ali tem até um diploma original de sócio benemérito outorgado ao meu pai pelo América Futebol Clube de Teófilo Otoni no ano de 1960, ou seja, há 53 anos atrás. Penso que pode ser uma relíquia para futuro museu da história de Teófilo Otoni. Interessante também é uma carteira de motorista do meu falecido avô Teófilo Rocha e expedida em Blumenau no Estado de Santa Catarina. A referida carteira, pasmem, tem o retrato do meu avô com terno, gravata e chapéu.
Então, cutucando daqui e dali, encontrei mais uns escritos da minha amada prostituta Lora que tinha a mania de escrever tudo que ela viveu e pensava sobre a vida. Ainda bem que guardei aquelas papeladas. Eu tinha certeza que um dia eu iria publicá-las em algum lugar. Ainda que amarelados pelo tempo, os escritos com ajuda de uma velha lupa são visíveis para reprodução.
Lora começa dizendo: "Meu único filho morreu assassinado com 6 tiros. Ninguém ficou sabendo quem atirou e matou meu filho. O assassino estava na garupa de uma moto. Meu filho foi metralhado em plena via pública e tinha apenas 16 anos. Sinto que perdi um pedaço de mim. Fiquei mais revoltada quando escutei alguém dizer: " Mataram foi mais um marginal ". "Penso que se fosse o filho de um grandão dessa sociedade podre, eles já teriam descoberto quem matou. Aqui neste mundo, principalmente no Brasil, o poder financeiro e social falam mais alto".
" Aqui no morro já teve muita menina bonita. A menina para casar tinha que ser virgem. Segundo minha avó, a moça tinha que ser pura que nem Nossa Senhora. Se a moça quebrava o cabaço ou a virgindade, ela era considerada "perdida" e o pai expulsava de casa. A moça então virava rapariga e tinha que, na maioria das vezes, se prostituir na zona boêmia e transar com tudo quanto é homem que aparecia, pagando para as cafetinas da zona do Chico Sá. Pelo amor de Deus, mulher já sofreu e sofre muito desde a época de Adão quando Eva transou com um único homem e pegou fama de traiçoeira. Eva, para mim, foi uma santa que só teve um homem. Conheci algumas mulheres que transavam com muitos homens. Ajudavam nos trabalhos sociais, frequentavam os primeiros bancos das igrejas e ainda assim com suas vidas mascaradas eram respeitadas e elogiadas pela hipócrita sociedade. Minha avó dizia que tudo não passava de " lavagem dos pecados"
" Aqui tem muita puta em segredo. De dia é dona de casa e de noite sai para dar o rabo nas quebradas da noite. Não me engana ver muita puritana ensinando moral para as pessoas do morro e da cidade. Beijam medalhas e crucifixos com a mesma cara lambida que beijam outras coisas sujas. Eu lavo e passo roupa, faço biscates de todo tipo e assumo sem vergonha que dou o rabo, tanto faz de dia ou de noite. Assim, não preciso da tal "Lavagem dos pecados", segundo dizia minha avó.
" Eu nunca soube o que era virgindade. Nunca me ensinaram. Meus pais não tiveram oportunidade de estudar. Viviam de meieiros na fazenda do patrão. Sei que Maria, a Nossa Senhora, teve um filho de nome Jesus e era chamada de Maria Imaculada, a virgem santa. Desde que transei com o filho da patrão pela primeira vez, não parei de fazer sexo. Ninguém nunca me falou de doença. Dizem que tem uma tal de AIDS que mata. Nem sei o que é isso".
" A única coisa que para mim mata é a fome. Sei porque já passei muita fome no Vale do Jequitinhonha e não quero morrer de fome. Se me derem dinheiro, eu faço sexo com qualquer um e assim penso que posso matar minha fome. Um amigo meu falou que um tal Betinho disse que " A fome não espera" e eu não consigo entender até hoje como a "burocracia" trava tanto alimento nos estoques do governo  com tanta gente precisando. Até para os Índios, que no início, eram donos de tudo quanto é terra nesta pátria".
" Outro dia apareceu um bacana da alta sociedade aqui pelo morro. Ela procurava uma mocinha para trabalhar em casa de família na capital. A filha da vizinha, uma pretinha educada, queria muito ir para a capital. Só que o tal bacana não quis. Pelo visto ele só queria mocinha bonita e branca. Na verdade, o negro  ainda não tem muita oportunidade e, infelizmente no Brasil, ainda sofre muita discriminação com preconceito em relação á cor. Penso que haverá um dia em que tudo isto vai acabar. Afinal, Deus é branco ou preto?" 
Breve, muito breve, vou cutucar meu velho baú e procurar mais escritos de Lora, a prostituta politizada de Teófilo Otoni. Um amigo meu "meio doido" aqui de Barbacena, falou que tenho que tomar cuidado com as traças. Elas, assim como muitos seres humanos, não gostam de histórias verdadeiras. Preferem ficar escondidas no escuro da hipocrisia ou em cima dos muros esperando um "toma lá e dá cá".

Autor:Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado à ex. Prefeita de Teófilo Otoni, a transparente e honesta Professora Maria José Haueisen. Minha amiga e ex. Professora em Teófilo Otoni. Texto escrito em 04/10/2013. Barbacena-MG.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

CARTA AO TORTURADOR CORONEL KLINGER SOBREIRA DE ALMEIDA. ( AOS CUIDADOS DA COMISSÃO DA VERDADE EM BRASÍLIA)

Estamos na primavera. Tem uma frase de Ernesto Che Guevara que diz: " Os poderosos podem destruir uma, duas ou até três rosas, mas jamais poderão deter a primavera". Dizem Coronel, que a primavera é um tempo de flores, paz, harmonia. Uma verdade para todos, menos para mim que ainda, infelizmente, carrego as sequelas das perseguições, prisões e torturas sofridas por meu pai Walter de Oliveira Tim Garrocho nos porões da ditadura militar.
Sabe Coronel, não sei a idade do senhor. A minha eu sei. O senhor e sua turma de torturadores conseguiram com barbaridade ao torturar meu pai e consequentemente nossa maravilhosa família, envelhecer o meu corpo físico e também o meu espírito de jovem cheio de esperança na vida. fui abandonado por amigos, não fui aceito em escolas, abandonei a vida, abandonei tudo.
Fui, na verdade Coronel, um andarilho sem rumo. Dormi muitas vezes pelas sarjetas dos becos e ruelas sujas da minha pátria Brasil. Muitas vezes perdido num mundo de contradições, cheguei ao ponto de não ter noção do tempo, quem eu era e para onde ia. Ainda assim, cambaleando pelo mundo, eu sentia que uma pequena luz interior clareava o fundo do poço, aliás, o fundo da minha alma em retalhos.
Ainda que desencontradas minhas atitudes e palavras no início da minha solitária luta contra o regime de  opressão, a pequena luz me orientou e passou a iluminar meus protestos contra o senhor e sua nojenta ditadura militar no Brasil. Andei por minha pátria e onde fui, levei todo o nosso repúdio a ditadores e torturadores como o senhor e sua turma de tiranos.
Eu, meu pai, minha família comemos "o pão que o diabo amassou". Fomos torturados de todas as formas possíveis. Até hoje não esqueço as palavras de discriminação: "Vocês são sujos", "Vocês são comunistas", Vocês não existem mais", "Seu pai, matou quantos?" e centenas de outras frases que marcaram a minha alma e deixaram cicatrizes profundas.
Sabe Coronel, eu, assim como meu pai e nossa família ainda vivemos. Ainda, graças a Deus, o Arquiteto do Universo, nós respiramos e a cada dia que amanhece sentimos que o Arquiteto do Universo tem um propósito de vitória para todos nós. Ao contrário do senhor Coronel, nós podemos dormir com a consciência tranquila. Ainda que com nossos rostos que o senhor e sua turma de tiranos transformaram em " rostos parecidos com maracujás secos", um sorriso, uma esperança brota em cada um deles através de nossos filhos e netos. Assim, a Comissão da Verdade surge para nós como uma flor na imensa primavera da justiça e da democracia da pátria que queremos para todos nós. Primavera esta que torturadores e ditadores da ditadura militar no Brasil, covardes como o senhor, não conseguiram  e nunca vão conseguir destruir. Tortura e ditadura nunca mais!!!

Autor:Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado aos membros da Comissão da Verdade no Brasil, a todos que foram perseguidos, presos, torturados e mortos pela ditadura militar e ao meu pai; Walter de Oliveira Tim Garrocho, ex. preso político no Brasil. Texto escrito em 03/10/2013, Barbacena-MG.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

RIQUINHO, UM PAU TORTO EM TEÓFILO OTONI

Na descida do morro da matriz, tive a grata surpresa de reencontrar meu velho amigo Henrique. Estudamos juntos no antigo colégio São José em Teófilo Otoni. Aquele colégio foi um marco na história de Teófilo Otoni. Por ali passaram muitos jovens que hoje, acredito, estão ocupando boas profissões. Aqueles padres que dirigiam aquele estabelecimento de ensino, ensinaram a todos nós muitas coisas para o nosso engrandecimento cultural e também espiritual. Mas, nem todos conseguiram oportunidade na vida e todos tiveram ou tem uma história de vida para contar.
Nunca esqueço que nas aulas de um padre muito forte e alto que todos nós chamávamos de Frei bitelo, eu e o Henrique costumávamos queimar um cordão tipo barbante que soltava uma fumaça fedorenta que ninguém ficava dentro da sala de aula. Aquele cordão fedorento era chamado pelos estudantes de " Peido de Alemão". Confesso que desconheço o motivo da tal denominação dada por todos nós estudantes.
Henrique era conhecido por Riquinho no apelido e na suposta grana que sua família possuía. Se não me engano, ele era oriundo da cidade de Carlos Chagas, onde, segundo ele mesmo, seus pais possuíam muito gado de corte e fazenda a perder de vista. Era mais ou menos isso que comentavam nas rodinhas de estudantes àquela época.
Pessoalmente nunca acreditei, tendo em vista que muitas vezes dividi minha merendeira com ele e comprei muito pão doce que era vendido na antiga cantina para "matar" a fome de Riquinho que com grande lábia enganava a todos e não passava de um farsante. Enganava a muitos, menos a mim que já tinha experiência com centenas ou milhares de caloteiros e enganadores que "passavam a perna" no bom coração do meu velho pai Tim.
Ao reencontrá-lo com seus sessenta anos, observei que ele aparenta mais. Magro, barriga estufada feito uma cobra que engoliu um sapo, bochechas avermelhadas como estivesse com duas bolas de sinuca dentro da boca em cada lado, olhos esbugalhados e vermelhos, barba branca sem aparamento tipo Lula na fundação do PT. Aliás, barba amarelada devido ao consumo excessivo de tabaco que ele diz enrolar em "seda", menos no mais certo que é em qualquer papel que pode ser até jornal de ontem.
 Demos um forte abraço e perguntei como ele estava de vida. Sem perder a pose de outrora ou décadas atrás, Riquinho disse estar nas alturas de tanta felicidade e que estava chegando de uma viagem turística pela Cordilheira dos Andes onde foi visitar uma antiga cidade dos Incas. Para não perder tempo e o velho costume, perguntou como eu estava de bolso e me tomou "emprestado" uma pelega de dez reais. Segundo ele, o cartão de crédito ficou esquecido na fazenda em Carlos Chagas. Fingi acreditar...
Pois bem, no centro da cidade encontro com meu antigo e rabugento amigo Zé Cotia. Comento sobre Riquinho e suas fantasias. Zé Cotia diz que "Aquilo não mudou nada e não vai mudar Téo. Pau que nasce torto vai morrer torto". Não questionei Zé Cotia, até porque ele nunca gostou que a gente questionasse suas ponderações e vou em frente ali pelas bandas da Praça Germânica onde encontro com Inácio "Fala Mansa", outro antigo amigo frequentador da Zona boêmia do Chico Sá. O velho e pacato "Fala Mansa" diz que acredita na recuperação de Riquinho e diz: "Olha meu velho Téo, quando Deus quer e o cara quer, a vida muda para melhor". 
Saindo da Praça Germânica, subo ali pelas bandas do Morro do América e encontro Perobão, outro velho amigo e ele diz: "Téo, é você mesmo? meu amigo, como você mudou meu filho. Está mais novo, engordou, bem vestido. Afinal, você tirou na loteria?. É, parece que meu amigo "Fala Mansa" estava certo. "Quando Deus quer e o cara quer, a vida muda para melhor".

Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado ao meu bom e justo amigo comerciante da Avenida João XXIII em Teófilo Otoni: Nilson Batista de Matos. Em 01/10/2013, Barbacena-MG.