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terça-feira, 31 de dezembro de 2013

ENCONTRO COM A PROSTITUTA LORA

O Vale do Jequitinhonha em época de seca é triste. Ainda assim, Téo,  um ativista politico que atuava por aquelas bandas seguia seu caminho. Enquanto caminhava, Téo pensava nas décadas de 60 e 70 em que surgiram muitos movimentos sociais que sacudiram o mundo. Mataram o presidente dos E.U.A, surgiram os Beatles, grandes festivais, protestos na França e aqui no Brasil tivemos passeata dos cem mil no Rio de Janeiro em protesto contra a ditadura militar, sequestro do embaixador americano no Brasil, AI 5, torturas nos porões da ditadura, desaparecimento de militantes e presos políticos, fechamento do congresso nacional, cassação de mandatos políticos, censura, exílio de políticos, artistas e intelectuais. Como dizia Dante: " Entrai, eis aqui o inferno".
Tempos difíceis de aceitar em Teófilo Otoni, terra natal de Téo Jatobá, onde foram efetuadas prisões de vários ativistas considerados "comunistas" na ótica do regime de opressão. Muitos foram perseguidos, presos e torturados nos porões da ditadura. Até mesmo Lora, a amada de Téo Jatobá foi perseguida pelo sistema. Mas, Lora, a prostituta politizada não tinha medo de cara feia e soltava os cachorros em cima dos opressores e pucha sacos dos militares. Irreverente como sempre, Lora sempre saia em plenas décadas de 60 e 70 com uma minissaia no centro de Teófilo Otoni. De tão pequena a saia, podia-se ver a calcinha vermelha em homenagem aos supostos comunistas, seus amigos de sempre. Dona Chiquinha, uma beata fervorosa da Virgem Maria e adepta da revolução redentora instalada no poder, se benzia e beijava três vezes um escapulário do menino Jesus de Praga, doado pelo bispo.
Por um momento, Téo Jatobá esquece os pensamentos. Precisa andar rápido. A boquinha da noite vem chegando. Ele acredita que a noite será inesquecível. Na verdade, ele está indo ao encontro da sua amada que nos últimos tempos vem morando na região do Vale do Jequitinhonha. Téo, teve notícias através de companheiros que uma certa mulher estava fazendo um revolução social por aquelas bandas e pelas características físicas e forma de propagar mudanças sociais, só podia ser Lora, a prostituta politizada de Teófilo Otoni.
Do alto de uma imensa montanha,  Jatobá avista um imenso vale. Um menino meio barrigudo passa e diz que aquele vale é chamado de Ribeirão das Almas. Fica na divisa dos municípios de Novo Cruzeiro e Araçuaí. O menino barrigudo oferece uns pequis e Jatobá compra alguns para ajudar o pequeno batalhador daquela terra esquecida sempre pelos poderes públicos. Descendo a montanha,Téo avista uma morada onde tremula no telhado uma bandeira vermelha. Seu coração bate forte. Tem agora certeza que naquela morada vai encontrar com Lora e relembrar dos encontros que marcaram suas vidas de revolucionários.
Chegando ao portão, Téo Jatobá grita por Lora e vem uma moça muito linda aparentando uns 22 anos e diz ser filha de Lora. A moça diz chamar-se Maria das Dores e tem o apelido de Dadá. Convida Téo para entrar e "não reparar na simplicidade da moradia". Emociona-se ao entrar e pergunta por Lora, a sua amada dos anos 70. A filha Dadá diz que Lora já não se encontra mais ali. " Ela se envolveu tanto com a política e movimentos sociais que acabou louca. Foi internada num manicômio em Barbacena e nunca mais voltou. É bem provável que ela já tenha falecido". O povo daqui nunca esqueceu dela e ainda tem muita gente que diz: "Era Lora na terra e Deus no céu para ajudar tanta gente".
Téo Jatobá fica no Vale do Jequitinhonha. Uns tempos morou ali pelas bandas de Ribeirão das Almas, Distrito de Engenheiro Schnoor e Araçuaí. Segundo os mais antigos, Téo Jatobá fez um bom trabalho de conscientização politica e social naquela região. Mais velho, dizem, ele acabou se apaixonando por Maria das Dores, a Dadá, se casaram e tiveram três filhos homens. Dizem que por ironia dos destino, eles moram hoje na cidade de Barbacena e são muito felizes.

Autor:Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado á minha companheira de muitas lutas pela vida afora; Maria das Dores Batista Garrocho, a popular Dadá. Texto escrito em Barbacena-MG aos 31/12/2013.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

COMO TRATAR UMA GATA ROUCA?

A preocupação foi geral. De uma hora para outra a gata ficou rouca como se tivesse engasgada com um pedaço de osso, um pedaço de carne ou até mesmo um sapo. A gata tão assanhada ficou numa tristeza de fazer pena. Ficava pelos cantos como a implorar piedade e misericórdia. A situação piorou quando nem mesmo um pingo de água ela aceitava. Praticamente estava em pele e osso, levantando suposições de todos os moradores da casa do senhor Onofre. Seria um auto suicídio? uma greve de fome ou o famoso e antigo "cú doce" para chamar a atenção de todos? 
Com "cú doce" ou seja lá o que fosse, a preocupação tomou conta de todos. Dona Fafá, a patroa,          murmurava pelos cantos: " Essa bichinha tava tão boa que a semana passada matou três ratos e agora olha a situação dela. Oh! meu Deus!". A gatinha, apelidada e "batizada" como Doçura pelo filho mais novo de Dona Fafá, era na verdade um xodó para todos. Era tão querida que o garoto fincou pé e deduziu que Doçura tinha ficado daquele jeito "depois que seu pai, o senhor Onofre, passou a dar pedacinhos de carne e queijo para a bicha". Segundo Gustavinho, "até os pelos da Doçura estavam caindo. Culpa do meu pai." esbravejava Gugu.
O filho mais velho do senhor Onofre tem outra versão sobre o fato. Ele deduz que a gata Doçura pode estar com depressão. Segundo ele, a gata Doçura "só dormia dentro de casa e Dona Fafá colocou a gata para dormir fora no relento e sentindo o frio das madrugadas. Segundo Thiago, o filho mais velho, "a rouquidão da gata pode ser uma tuberculose ou pneumonia". Ele acha que Dona Fafá tem que voltar a gata para dentro de casa. Dedução que é aprovada pelo senhor Onofre que já passou por depressão na vida. Segundo ele, a solidão mata devagar.
Para evitar mais comentários, Dona Fafá telefona para a veterinária e marca consulta para a gata Doçura. Com ajuda do filho do meio, o Charles Tim, eles levam Doçura em uma motocicleta até a veterinária. Uma viagem desgastante para a pobre da Doçura que viajou dentro de um saco. "É bem provável que ela tenha sentido que a gente ia dar sumiço nela", comenta o filho Charles, após chegarem ao consultório.
A doutora então, examina a gata e passa alguns medicamentos que após uma semana fizeram efeitos e melhorou bem a situação da felina que voltou a dormir na sua caminha no interior da casa. A vida voltou ao normal e Doçura tem miado á vontade com firmeza e alegria. Segundo o senhor Onofre, os remédios ajudaram muito, mas ele continua acreditando que o que sarou a gata foi o calor humano de todos. Senhor Onofre continua acreditando que ninguém, nem mesmo os animais, conseguem viver na solidão. Ah! ia esquecendo, Dona Fafá encontrou comigo numa rua qualquer e disse que a gata já matou mais três ratos!!!

Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado a todos os meus amigos do Brasil e exterior, que para mim são verdadeiros tesouros que o construtor do universo, Deus, me proporcionou. A todos e familiares, um feliz ano novo. Texto escrito em Barbacena-MG, aos 26/12/2013.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

MORRO DO EUCALIPTO EM TEÓFILO OTONI

Zé Carrapicho era um caboclo enjoado que morava próximo ao campo de futebol do pela jegue. O dito campo de futebol ficava encravado no topo do morro do Eucalipto na cidade de Teófilo Otoni. Foi ali que nasceu José Mariano, o filho de Imaculada e Miguel sapateiro, que com o passar do tempo recebeu de todos os moradores, o apelido de Zé Carrapicho.
Os pais, assim como a maioria dos moradores não tinham um emprego fixo e viviam de fazer "bicos". A mãe, vez ou outra, arrumava umas trochas de roupa para lavar. O pai, assim como a mãe, vez ou outra, arrumava um sapato para consertar. Quando não arrumava um sapato para consertar, Miguel sapateiro passava o dia bebendo cachaça misturada com Mate Cola no boteco do Gerinha. Vez ou outra beliscava um tira gosto chamado de bucho de boi que era misturado com farinha de mandioca. Segundo Gerinha, o dono do boteco, aquele era o tira gosto preferido dos cachaceiros do morro do Eucalipto.
A mistura de Mate Cola com cachaça era muito apreciada e na falta da gloriosa Mate Cola, eles misturavam a cachaça com suco de groselha. Assim, o caboclo após uma três doses daquele "troço" vermelho, ficava num "fogão" capaz de espantar o mais feroz rabudo ou demônio como queiram. Mas, alguns cachaceiros mais elitizados gostavam mesmo era de pinga com raiz tipo; junça, carqueja, rufão, losna ou a famosa jatobá.
Zé Carrapicho, criado e vivido naquele submundo, tinha um dom que encantava a todos. O dom de jogar futebol. Mas, como existe uma teoria de que "o homem é produto do meio", Zé Carrapicho tornou-se um cachaceiro tão enjoado que a maioria dos assumidos e veteranos cachaceiros já nem deixavam que ele se aproximasse do boteco do Gerinha. O pessoal mais elitizado que gostava de uma raiz com cachaça, até faziam o sinal da cruz e batiam no balcão três vezes dizendo: Cruz credo, cruz credo!
Então, num domingo qualquer de muito sol na cidade do amor fraterno,  a turma do Subaco Fedendo composta de Nego Galo, Gabriel, Geroninho, Velton, Jabuti, Jacaré, Garapa e outros mais vieram enfrentar o time do morro do Eucalipto no campo do pela jegue. Assim o pau comeu e comeu feio naquele domingo ensolarado.
Naquele dia ensolarado, só deu Zé Carrapicho. Vitória do morro do Eucalipto com três gols de Carrapicho e uma festa que só os mais humildes entendem. Zé Carrapicho foi carregado nos ombros por todos e até mesmo a turma elitizada fez questão de abraçar aquele que era tão abandonado. Dizem que após um tempo, Zé carrapicho se tornou ajudante em obras sociais da irmã Arcângela que fez um lindo trabalho social no morro do Eucalipto em Teófilo Otoni.

Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho-(Téo Garrocho)_ Texto dedicado à saudosa amiga, Irmã Arcânjela, que fez um trabalho social muito valioso no Morro do Eucalipto em Teófilo Otoni-MG. Texto escrito em Barbacena-MG aos 18/12/2013.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

BRASILEIRO DE TEÓFILO OTONI NOS E.U.A

Paul Bryan, enquanto limpava suas botas, costumava pensar na sua ex. mulher Margareth que largou tudo e foi viver com Sam Smith. Os dois, Paul e Sam, foram colegas de faculdade na cidade de Boston. Margareth havia sido professora dos dois nas aulas de sociologia.
Vinte anos mais velha, a professora Margareth permitiu que o amor e a paixão juvenil adentrasse no seu coração de solteirona e se apaixonou por Paul, o amigo inseparável de Sam Smith. Formava-se então um perigoso triângulo amoroso. Era um entra e sai que com certeza traria muita dor de cabeça para os envolvidos no triângulo que acabou se tornando realidade quando a professora Margareth abandonou Paul e foi viver com Sam.
A Paul Bryan, restou o consolo do velho cachorro Cherloque, que mansamente vivia pelos cantos a coçar suas eternas pulgas e vez ou outra passava um "rabo de olho" para seu dono como querendo dizer que aquela tríplice amizade de beijos para cá e beijos para lá só poderia dar no que deu com seu dono perdendo a mulher que viu, foi, gostou de Sam e nunca mais voltou para os braços de Paul.
Realmente, o velho cachorro Cherloque parecia ter instinto da razão. " Mulher e carro, a gente não empresta", murmurava entre quatro paredes a vizinha de Paul, a senhora Cris Becker que sabia de toda a estória e não alertou ou aconselhou a Paul que no andar da carruagem da vida, acabou sendo o último a saber ou embarcar.
Na primeira semana da primavera do país do Tio Sam, Paul Bryan acordou mais cedo, banhou-se e fez a barba. Tomou um café forte em uma xícara que trouxe do Hawai quando da sua lua de mel com a então amada Margareth. Logo após, entre uma baforada e outra num velho cachimbo presenteado por um amigo cubano radicado na Flórida, Paul meditava um plano para esquecer tudo aquilo que aconteceu na sua vida.
Como num passe de mágica ou revelação espiritual, Paul Bryan tomou então uma decisão. Estava decidido a perdoar. Perdão que causou espanto em muitos e principalmente na sua vizinha, Senhora Cris Becker que sabia da estória e jamais aconselhou o jovem Paul. "Perdão, ora bolas, quem tinha que pedir perdão era Sam Smith que traiu o amigo e foi morar com a professora também traidora", murmurava a língua afiada da senhora Cris Becker. Paul, contrariando todos aqueles que gostariam de assistir um final trágico para esta estória, deu um exemplo de serenidade ao praticar e enaltecer o nobre sentimento do perdão.
Num domingo ensolarado da cidade de Boston, onde muitas famílias passeiam nas praças, parques e jardins, Paul Bryan chega sorridente com seu inseparável amigo, o cachorro Cherloque. Após tanto tempo vivendo e sofrendo com recordações do passado, Paul Bryan renasce e descobre que quem sabe perdoar é mais feliz e livre, mais ou menos assim como os pássaros dos parques e jardins de Boston que cantam suavemente saudando o renascer da liberdade no coração de Paul Bryan.

Autor:Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado a todos aqueles que aprenderam o sentimento do perdão. Sentimento que engrandece todos o seres humanos, seja em Boston nos E.U.A ou no pequeno vilarejo de Pinheiro Grosso onde resido, próximo a Barbacena-MG, no Brasil. Texto escrito em 12/12/2013.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

ANTIGAMENTE EM TEÓFILO OTONI

*Vários times de futebol amador existiram a exemplo do São Jacinto, São Benedito, Sempre Viva, Santo Antonio, Olaria, Estudantes, Ferroviários, Estação, Vila Rocha, Nacional, Ideal, Física, Cruzeiro, Frimusa e muitos outros.

*Na Praça Tiradentes, as pessoas tiravam retratos revelados ali mesmo. Eram os famosos fotógrafos conhecidos por Lambe-Lambe que tinham suas velhas máquinas cobertas por um paletó de cor preta.

*Alguns jovens dançavam e pulavam carnaval com o cabelo tingido pela famosa e antiga Chapa Prata. Um pó que era usado para dar brilho nas antigas chapas de fogão a lenha. A Chapa Prata era comprada nas Casas Veloso e Primor que ficavam próximas da antiga beira da linha, hoje Rua Engenheiro Argolo.

*O senhor Arruda, pai do Wantuir Arruda, auditor do Ministério do Trabalho, tinha um barzinho que ficava na beira da linha e era muito frequentado pelos ferroviários na região da Borracha Franca. O detalhe interessante era que o senhor Arruda usava sempre uma boina preta.

*O bispo Dom Quirino foi morar no alto da Rua Doutor José Carlos que assim passou a ser conhecido por Morro do Bispo.

*O túmulo mais visitado no Cemitério Municipal era o túmulo de João Francisco, que, segundo os mais antigos, foi um negro "muito judiado" por certas pessoas em vida terrestre.

*Na Praça Tiradentes existiam uma alfaiataria e uma Ótica muito famosas naquela época.A alfaiataria pertencia ao Senhor Zapulla e a Ótica ao Capitão reformado do Exército: Euclides Rocha.

* Na porta de entrada do Cinema Império, o famoso Poeira, era comum o povo comprar Cana Caiana e Farofa com Torresmo, antes dos memoráveis filmes de Bang-Bang.

*Alguns medicamentos eram vendidos sem receita médica e alguns ficaram muito conhecidos a exemplo dos famosos Sonrisal, Sal de Fruta Eno, Biotônico Fontoura, Óleo de Fígado de Bacalhau Scott, Leite de Magnésia, Figatil, Terramicina, Lacto Purga, mitos lombrigueiros e a tão procurada Cibalena.

*Nas feiras e no Mercado Municipal, era muito comum a venda de passarinhos de toda espécie, além de filhotes de cachorros e gatos.

*É difícil acreditar, mas existiam alguns vendedores de Linguiça e Bucho de Boi ( Dobradinha) que lavavam as tripas e o bucho ali mesmo nas águas do Rio Todos os Santos.

*Os roceiros ou lavradores eram transportados nas carrocerias de antigos caminhões adaptados com bancos de madeira nas carrocerias. Os balaios de feira eram amarrados na traseira dos caminhões.

*Alguns músicos populares ficaram muito conhecidos a exemplo de Antonio "Cara de Gato", Ari "Foba" do violão, Ari alfaiate, Ciciba, João do Acordeon, Fiinha do Acordeon, Nego Galo do Pandeiro, Borges alfaiate, Walder Monteiro (Piston) e muitos outros.

*O lendário jogador de futebol Caruê, costumava organizar escolinhas de futebol nas categorias A,B,C e D que eram treinadas á tarde no campo de futebol do América Futebol Clube.

*A Radio Teófilo Otoni transmitia os resultados das eleições municipais através do senhor Lourival Pechir. A transmissão era conhecida por " A marcha das apurações".

*Muita gente "passava vergonha" quando o carro da CEMIG chegava  até as residências para "cortar a luz" por falta de pagamento.

*Muitos jovens e garotos exerciam a profissão de engraxates e pegadores de frete nas feiras e no Mercado Municipal. Assim, ganhavam alguns trocados e ajudavam suas humildes famílias.

*O laticínio que ficava ali na Rua Padre Virgulino fabricava uma manteiga de nome Papagaio e todos os dias mandava uma carroça com um latão muito grande para vender leite nas ruas. Detalhe: A carroça era puxada a cavalo. O condutor parava e ele mesmo abria torneira que ficava no atrás do tambor.

Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado a todos aqueles que preservam a memória e história de Teófilo Otoni, nossa terra natal. Texto escrito em Barbacena-MG aos 11/12/2013.

sábado, 7 de dezembro de 2013

DECEPÇÃO POLÍTICA EM TEÓFILO OTONI

Joaquim da Silva, mais conhecido por Quincas, começa seu trabalho às 19 horas da noite e sai ás 7 horas da manhã seguinte totalizando 12 horas de serviço. Do seu posto de trabalho, percorre a pé uns 15 minutos até o ponto de ônibus e mais ou menos às 8:30 horas, ele chega em sua modesta residência. No frigir dos ovos, o operário Quincas passa mais tempo trabalhando que ao lado da sua esposa e filhos.
O operário Quincas recebe dos seus patrões os vales transporte que ao final do mês são descontados em 6% do seu parco salário mínimo. Quincas, assim como a maioria dos operários brasileiros estão neste patamar salarial ou até menos dependendo da região onde residem e trabalham. A gente se conheceu em um banco de praça. Ele sentado em um solitariamente assim como eu. Senti que iriamos trocar um dedinho de prosa quando observei, assim como ele, atentamente uma manifestação popular. Tais manifestações ainda fazem antigos militantes sentirem o coração pulsar mais forte.
Num certo domingo ensolarado de Teófilo Otoni, aproximei-me do operário Quincas e nos conhecemos naquele jeito de mineiro desconfiado muito comum ali pelas bandas do nordeste mineiro. Quincas confessou que foi um antigo ativista social e militante de partido de esquerda. Segundo ele, há mais de 15 anos decidiu mudar sua trajetória de vida. Confessou que ficou decepcionado com antigos companheiros que de um momento para outro rasgaram a cartilha da dignidade, honestidade, coerência e transparência que eram tão decantadas nas reuniões do seu partido até então qualitativo nas escolhas de seus filiados e ultra transparente com seu telhado de vidro.
De " tanto ver prosperar nulidades" em seu partido, Quincas acredita, assim como milhares de companheiros,  que fez a coisa mais certa da sua vida. Quincas, acostumado e doutrinado em princípios de honestidade e transparência, não admite e nem tem mais motivos para lutar e viver dentro de uma organização maquiada de enganação. Quincas diz com um olhar distante e vazio que somente os baba ovos mais graúdos conseguiram e ainda conseguem viver mamando nas tetas do lamaçal da corrupção. Segundo o operário Quincas, é bem provável que nunca suaram o rosto como os cortadores de cana do Vale do Jequitinhonha ou calejaram as mãos como os nordestinos brasileiros que trabalham na construção civil em São Paulo.
O operário Quincas, ainda com olhar vazio e distante, diz que de quatro em quatro anos a boquinha é mantida através de um nepotismo disfarçado. Quando são derrotados em uma cidade, eles são acolhidos em cidades próximas onde são vitoriosos. Segundo o operário Quincas, esta prática viciosa vem causando estragos irreparáveis na política do seu antigo partido. Nepotismo tão combatido em épocas passadas e hoje tão comum no lamaçal da corrupção do seu antigo partido.
Confesso que me encantei com meu novo amigo Joaquim da Silva, o Quincas operário. Antes de nos despedirmos, ele me diz que está orgulhoso e feliz com a vida digna que vive atualmente e consegue " olhar no espelho sem medo de se ver". Segundo Quincas, ele já não sente saudade de "fazer cama" para tanto safado e corrupto. Que tenham um bom sono na penitenciária da Papuda em Brasília!!! 


Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado a todos aqueles que ainda acreditam em ícones de honestidade e dignidade a exemplo de Luther King, Nelson Mandela, Darci Ribeiro, Dimas Perrin, Ghandi, Tim Garrocho, João Rosa de Souza, Paiada de Araçuaí, Nestor Medina e muitos outros " Guerrilheiros que não se corrompem". Texto escrito em Barbacena_MG aos 7/12/2013.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

JOGO DURO EM LADAINHA-MG

Quando ao longe despontou a pedra de Ladainha dentro do trem, o clima era de abatimento coletivo. O glorioso time do Bahia-Minas, imbatível, há quatro campeonatos, voltava derrotado, embora com honra, na primeira partida da grande final do campeonato regional. O Ferroviários  de Teófilo Otoni, venceu por 2 x 0. numa partida acirrada, disputada palmo a palmo, salvo a vitória do Ferroviários com a generosidade do juiz, importado a alto preço de Belo Horizonte, e um time misto, na sua maioria por jogadores dos Estudantes F.C. Mesmo assim, haveria a segunda partida no próximo domingo em Ladainha, só que com uma vantagem de dois gols a favor do Ferroviários.
Aproximando-se da estação perceberam que a recepção ,pelo contrário, era hospitaleira e incentivadora, vários torcedores, mais de cinquenta, receberam o time com aplausos e saudações. Aquilo reanimou a equipe, até então abatida. Haveria uma semana de treinamento, concentração e determinação pela frente; dariam o troco, honrando a tradição vitoriosa do Bahia-Minas F.C., confiantes no ataque infalível dos irmãos Vino e Vavá. O Bahia-Minas de Ladainha era o melhor time da região. Houve uma série de irregularidades na partida realizada no campo do adversário, ficou clara a atuação do árbitro importado da capital e anormalidades na súmula, com registros aparentemente forjados de atletas do Estudantes F.C, compondo metade do time. As regras e normas naquela época não eram tão severas como nos dias de hoje. A Liga de Desportos tudo aprovou.
Na segunda-feira, bem cedinho, toda a equipe já se encontrava no belo estádio de Ladainha, onde se realizaria a partida. O técnico, bem disposto e otimista, incentivava o grupo com palavras de ordem técnica e psicológica, o que se fez notar no bom desempenho num jogo treino contra um time misto do Comércio F.C.. e outros bons jogadores da cidade.
Nos dias seguintes, liberados de suas funções em várias atividades no complexo ferroviário, a rapaziada se empenhou com afinco na preparação até o fim do dia da sexta-feira, e entraram em concentração no sábado á tarde, quando o time adversário chegou no último trem, acompanhado por uma numerosa torcida vinda de Teófilo Otoni, cordialmente acolhida pela população e pelo prefeito, que cedeu as instalações de uma escola, colchões e cobertores para abrigá-los. O pequeno e único hotel da cidade, mal deu para abrigar o time e a equipe técnica.
O domingo amanheceu claro e ensolarado; tímidas nuvens pontilhavam no horizonte sem prenúncios de mau tempo.Os times já se encontravam prontos em seus respectivos vestiários para a partida que se iniciaria ás 8 horas. As arquibancadas estavam lotadas, dois terços por torcedores locais e a outra parte pela agitadíssima torcida adversária, muitos ainda sob o efeito da farra que fizeram durante quase a noite toda.
O jogo teve início pontualmente. Nos primeiros 15 minutos a partida transcorreu normalmente, sem lances perigosos que ameaçassem qualquer um dos goleiros. Meio solto na grande área, aproveitando um lance aéreo tocado com categoria pelo volante Luiz Borracha, o atacante Nicanor não teve dificuldade de empurrar a bola no canto desprotegido pelo goleiro deslocado. A torcida do Ferroviários foi á loucura, mas a maioria do estádio permaneceu calado. A partir dai, o jogo esquentou. O Bahia-Minas partiu corajosamente para o ataque . Dez minutos após, empatou o jogo, num lance espetacular do atacante Vavá. A torcida, até então emudecida também reagiu e empurrou o time. O Ferroviários começou a apelar, "baixando o sarrafo", já haviam cometido mais de cinco faltas. Na última delas, o zagueiro Prego entrou de coice no tornozelo de Zé Boréu, cometendo falta quase na linha da grande área. Ary Pé de chumbo, numa bomba direta, atravessou a barreira que foi espalmada nas exageradas mãos de Zé Tarzan; no rebote Bacué cabeceou no ângulo esquerdo e conferiu o segundo gol, já no finalzinho do primeiro tempo. A torcida do Bahia-Minas explodiu com sua charanga animando o intervalo, até o início do segundo tempo.
O jogo recomeçou agitado, o Ferroviários retrancou do ataque violento do Bahia-Minas ,que buscava de qualquer jeito o terceiro gol que lhe daria o título de penta campeão. O time visitante defendia a pontapés, carrinhos e obstruções, não se incomodando com o grande número de faltas e até uma expulsão. O juiz de Araçuaí, embora franzino, atuava com severidade e justiça, desfiando a indisciplina daquele bando de homens nervosos e impacientes pelo final do jogo. Faltavam apenas quatro minutos . Numa escapada segura pela ponta direita, Vino Lança para Vavá, que já bem colocado na cabeça de área, avança sozinho tendo pela frente apenas o goleiro, quando é obstruído brutalmente por Frankstein. O juiz correu ao local e marcou o pênalti. Segurou a bola e manteve a sua decisão irredutível , mesmo diante dos protestos de vários jogadores do Ferroviários e da sua torcida. Zé Tarzan, perdeu a paciência e desferiu um soco de baixo para cima no queixo do pequeno juiz que o atirou a quase dois metros. Ai a confusão estava armada. Querosene se atracou com Zé Tarzan e foram socos e pontapés por todos os lados. O jogo foi interrompido.O juiz foi levado para o posto médico inconsciente. A confusão dentro de campo generalizou-se e ameaçava alastrar-se ainda mais, quando parte das duas torcidas começou a invadir o campo. A pequena guarnição policial , responsável pela segurança na cidade, não conseguindo conter o "quebra pau", sacou suas armas e começou a atirar tiros para cima ; a multidão entrou em polvorosa e dispersou aos gritos em correria. Acalmado o distúrbio, conseguiram separar alguns jogadores que continuavam se debatendo aos socos e empurrões. Naquele dia, as três enfermeiras e o único médico  que atendiam no pequeno posto tiveram que trabalhar até anoitecer, cuidando de muitos feridos no confronto. A liga de Desportos reuniu-se ainda naquela noite, dando ganho de causa ao Bahia-Minas, que sagrou-se penta campeão regional de futebol.


Autor: Jaime Gomes, meu amigo de infância e juventude, nascido em Ladainha-MG e criado no Antigo Barro Branco de Teófilo Otoni.. Escritor e Poeta de Teófilo Otoni no Vale do Mucuri em MG, Texto transcrito do Livro "UM TREM PASSOU EM MINHA VIDA", do referido autor ás páginas 86,87,88. Livro editado pelo autor na Gráfica Expresso Ltda de Teófilo Otoni-MG em 2006.