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terça-feira, 22 de maio de 2012

O MENINO DOS OLHOS ARREGALADOS

Aos sessenta anos, Antonio Rosendo, meu compadre que reside no Ribeirão das Almas no Vale do Jequitinhonha, confessa que voltou a ser menino. Eu até que tentei explicar ao meu bondoso compadre que é assim mesmo que acontece com todos nós seres humanos após certa época da vida terrestre, mas, meu compadre Rosendo sempre foi teimoso e contraditório. Nunca aceitou outro ponto de vista que não fosse o dele.
Segundo ele, virou um menino de olhos arregalados para tudo o que vê. Eu até quase acrescentei menino de olhos e ouvidos arregalados, mas, penso que ele já tinha resposta na ponta da língua e disse-me que tem escutado muito e falado pouco. Acho que meu compadre está, só agora aos sessenta anos, aprendendo a arte de ser mineiro.
Compadre me confidencia que poderá chegar aos setenta anos. Diz que escutou na TV que o brasileiro está vivendo mais e influenciado pela mídia, diz que será a melhor década da sua vida. Quer ver tudo que nunca viu e escutar tudo que nunca escutou. Os netos do compadre Rosendo dizem que ele está ficando caduco. Sera?
Ele diz que de agora em diante vai observar e tratar com mais carinho as crianças que ele sempre chamou de meninos chatos. Assim, quem sabe, os meninos chatos não o chamam mais de velho caduco. Ideia maravilhosa, pensei comigo, ainda que dúvidas pairam sobre minha mente em relação ao meu bondoso e polêmico compadre Rosendo.
Meu compadre diz também que vai soltar os passarinhos, vai cuidar do meio ambiente, vai fazer caminhada, vai parar de fumar aquele fumo "bão" de Araçuaí, vai perdoar os possíveis inimigos, vai fazer limpeza nos dentes, vai cortar o cabelo, barba e vai fazer paz com Deus.
Depois dessas afirmações de "um velho caduco", segundo as crianças, cheguei à conclusão que realmente meu compadre Rosendo está mudando e...para melhor.Segundo a criançada do lugar, ele "parece que tá com os zoios e os zuvidos mais reganhados".
Pois é, voltar a ser menino de novo não é fácil. Posso afirmar que faz um bem assim como a felicidade que não tem preço.


Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado a Ernani de Oliveira, Filósofo, Historiador, Radialista. Um ícone da cultura da cidade de Teófilo Otoni-MG. Barbacena, 22/05/2012.

sábado, 19 de maio de 2012

VAGINA OU BU...CABELUDA

Ainda hoje lembro da fisionomia do Frei Matias, antigo diretor de disciplina do extinto colégio São José em Teófilo Otoni, onde fiz o antigo curso ginasial. Aquele colégio era dirigido por padres a exemplo do Frei Matias, Frei Conrado, Frei Cristovão e vários outros. No começo era só sexo masculino, depois veio o sexo feminino e ....virou a cabeça de muita gente, inclusive eu.
Durante quatro anos, confesso que estudei em um bom colégio que foi fundamental  na minha formação. Ao mesmo tempo em que aprendi desde cedo até onde iam meus direitos e deveres, aprendi ali também muita sacanagem e putaria, termos usados até hoje.
Eu lembro que era uma correria danada para ocupar os inúmeros banheiros que só tinham sapata para apoiar. Não havia vaso sanitário e o cara tinha que ficar de cócoras tipo "cagar no mato" e mesmo correndo era difícil encontrar vaga. Àquela época, os mais fortes fisicamente ocupavam tudo. Os mais magros, como eu, ficavam "a ver navios" e correndo o risco de urinar ou borrar nas calças.
Algum tempo depois, descobri que aquela demora era devido a prática da famosa "punheta" ou masturbação como queiram. Alguns denominam como "depenar juriti".
Pois bem, uma certa vez, escreveram em todos os banheiros a famosa e proibida "Buceta cabeluda" e o Frei Matias queria saber que foi o autor de tão audaciosa façanha àquela época. Castigou um daqui, outro dali e não adiantou. Ficou na base de autor desconhecido.
Outro dia," nestes tempos modernos", escutei uma jovem proferindo: "Ô caralho", "Vá tomar no seu cú", "Fudeu caracas" e etc.etc. Na minha época eram palavrões. Acredito que o Frei Matias, caso ainda esteja vivo, verá que aquela "buceta cabeluda" não era tão feia como se pensava.


Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado aos meus antigos companheiros do extinto colégio São José de Teófilo Otoni. Barbacena, em 19/05/2012

OS POLÍTICOS QUE CONHECI

Desde criança convivi no meio político. Meu pai sempre foi muito apaixonado por política e este sentimento fez com que nosso antigo casarão em Teófilo Otoni, recebesse políticos de várias tendências. Tenho um dom de Deus que é ter boa memória e sem citar nomes, vou relembrar neste texto o tipo de gente que presenciei em contato comigo e com meu pai, que, graças a Deus e princípios, nunca compactuou com as idéias nojentas de muitos deles.

Havia "espécie" de todo jeito. Um que dizia prometer tudo para ganhar eleição, outro que trocava um nota de dinheiro maior em várias notas de valor pequeno. Segundo ele para pagar cachaça para o povo. Este perdeu a eleição e num momento de desespero, disse: " O povo merece é taca".

Em Araçuaí, conheci um que no dia da apuração em que ele perdeu a eleição para um companheiro simples do seu partido, escutei a esposa dizer: "Como é que você perde eleição para um capiau igual a fulano?". Como se não existisse democracia e soberania do voto.

Em Teófilo Otoni, conheci um que foi eleito vereador. Certa vez entrei em um bar e ele, talvez sob o efeito  da cachaça, batia no peito e dizia para muitos humildes ali : "Eu sou o poder". Nunca mais ganhou eleição e
morreu pobre materialmente e espiritualmente. Conheci e conheço ainda um outro que tinha costume de andar de sandálias simples de dedo, abraçava todo mundo, vivia sorrindo para o povo. Ganhou, depois de várias tentativas a eleição para vereador. Nunca mais, nunca mais voltou ao convívio do povo. Foi e é uma
farsa...como muitos.

Conheci um Vice-Prefeito que só sabia dizer "não" para o povo e o povo foi se afastando. Parecia um rei sentado na eventual cadeira. Até que um dia o povo disse "não" para ele e seu partido e...a bastilha caiu. E falando em cair,  cansei de presenciar muitos que caíram do trono.

E para encerrar, vou relembrar com pesar( uma vergonha) que a direção de um partido de oposição (à época em 1996) pediu para eu não citar no meu pronunciamento em palanque que eu era filho de um ex. preso político, "pois poderia atrapalhar o partido".
Pensando bem, ser político com P maiúsculo no Brasil é para poucos, raríssimos!!!



Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado ao povo simples e amigo da Vila Verônica e Alto do cemitério em Teófilo Otoni, minha terra natal que nunca esqueci. Barbacena, 19/05/2012.

OS PLANOS SECRETOS

Todas as anotações e os planos secretos do meu pai Tim Garrocho, em relação à época da ditadura militar, foram secretamente queimados. Infelizmente o DOPS e o pessoal da polícia militar levaram o que sobrou. Até os dias atuais, os dois diplomas de vereador eleito do meu pai, não recebemos de volta. O que foi possível para incriminá-lo, levaram. Inclusive um imenso retrato do comandante Fidel Castro, que ficava exposto na sala do nosso velho casarão, e que deve ter sido pisoteado pelos militares e seus "borra-botas".
Os planos secretos e anotações pessoais que poderiam incriminá-lo ainda mais foram queimados por minha mãe Laura e o amigo Demeterio, em altas horas das madrugadas. Lembro-me que na sala do nosso velho casarão havia um assoalho falso que dava entrada para um antigo porão, e ali, segundo minha mãe e meu pai, foram queimados muitos documentos históricos como: Atas das reuniões da Liga Camponesa fundada por meu pai; lista com nomes de lavradores que, junto com meu pai, planejavam a invasão da fazenda Saudade; panfletos da POLOP(Política Operária); lista com nome dos integrantes do famoso Grupo dos Onze; comunicações e cartas do Brizola; cartas do Ministro Santiago Dantas; mapas de lugares estratégicos de Teófilo Otoni para uma possível invasão e ocupação; livros considerados subversivos naquela época.
Minha mãe Laura conta que " queimou toda aquela papelada porque senão iria complicar mais ainda a vida de Tim Garrocho". Segundo o meu pai, o que mais intrigava a polícia e os órgãos de repressão( segundo informações dos bajuladores da ditadura militar) era que ele havia recebido um carregamentode armas, inclusive metralhadoras para eventuais ações de guerrilha na região de Teófilo Otoni. Nós sabiamos de movimentos do meu pai com armas e homens na região e treinametos num sítio em Itamunhec, zona rural, com pequenas armas.
Segundo Tim Garrocho, este relato é inédito( nem mesmo através de torturas ele confessou estes planos aos torturadores): "As armas seriam conseguidas com invasões comandadas por ele e seus companheiros ao Tiro de Guerra(Exército de Teófilo Otoni) e quartel da Polícia Militar. De posse das armas seriam invadidos locais como: Correios, abastecimento de água potável, locais de distribuição de energia elétrica, hospitais, redes de comunicações e cadeia pública".
Com a queda e exílio do presidente João Goulart, o exílio de Leonel Brizola, a prisão de Miguel Arraes, Francisco Julião e muitos outros, a luta enfraqueceu. Os militares tomaram o poder, sufocando qualquer tipo de resistência civíl naquele momento. Iniciou-se então, um longo periodo de castração das liberdades individuais: O período da ditadura militar.


Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho- Texto do livro "Retalhos da Tortura" do autor e editado em 2006.

O CACHORRO DO CABO CLOVES

São 2 horas da madrugada e me encontro numa baita insônia. Viro de um lado para o outro da velha cama que pertenceu à minha avó. Fico pensando no caso que escutei de um cidadão de nome Cloves e que reside na esquina da Rua Marcelo Guedes e Visconde do Rio Branco em Teófilo Otoni. Cloves é cabo reformado da Polícia Militar.
Segundo Cloves, seu cachorro chama-se vaidoso. Isto mesmo, o nome do cachorro do cabo Cloves é vaidoso e "tenho dito", segundo ele, que ainda carrega consigo uma saudade imensa da horrorosa ditadura militar. Cloves disse-me que "quase chegou ao posto de sargento". Não conseguiu por falta de "uma melhor leitura". Segundo ele, "naqueles tempos o caboclo era pegado a laço para ser policial, ou seja, ninguém queria" e assim ficou "cabo daqui, cabo acolá, até se aposentar".
Cloves ainda tem uma pinta de militar. Vive cumprindo horários, faz barba todos os dias, acorda cedinho para caminhadas e faz levantamento de peso com duas latas de concreto penduradas em cada canto de um cano metálico. Carrega sempre no bolso um velho pente fino da marca "Flamengo" e um espelhinho miúdo. Penso que Cloves é tão vaidoso quanto o nome do seu cachorro.
Mas, o que tem tirado o meu sono é que Cloves mentiu para mim ao relatar que seu cachorro vaidoso, após comer uma panela cheia de angu, tem o costume de deixar o focinho bem sujo para ter o prazer de sentir as galinhas bicarem os restos de angu e assim limparem suas narinas.
Depois dessa, não consigo mesmo dormir. Imagino a todo instante uma galinha bicando meu nariz. Sinto cócegas imaginárias e começo a sorrir sozinho. Assim, meus filhos vivem a dizer que estou caducando.
Amanhã vou procurar o Cloves e alertá-lo no sentido de não permitir que seu cachorro vaidoso faça cocô ao lado das galinhas. Imaginem se as galinhas começarem a bicar o cú do vaidoso...


Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado ao meu cachorros( isto mesmo) amigos de sempre: Bobi e Lupi. Barbacena, em 19/05/2012.

terça-feira, 8 de maio de 2012

COMEDOR DE BANANA DOS E.U.A



Toda vez que eu ia á Praça Tiradentes em Teófilo Otoni, ficava encabulado com um cidadão. Ele tinha vasto bigode, longa cabeleira e falava coisas com coisas que chamava-me a atenção naquela época em que quase ninguém tinha telefone, televisão, carro e por ai vai. 
Quem tinha um rádio, uma vitrola de música ou uma bicicleta aparelhada com faroletes, era considerado um cidadão de posses e respeitado no lugar em que morava. A primeira vez que vi imagem de televisão ali pelas bandas da Rua do Arrasta Couro, foi coisa de doido para mim e quando relatei o que vi e ouvi, teve até gente que não acreditou. Alguns até disseram que aquilo, a televisão, só podia ser coisa do diabo, chifrudo ou rabudo.
Mas, voltando ao sujeito de vasto bigode e longa cabeleira, eu lembro que ele sempre dizia que "os E.U.A dominariam o mundo". Encabulado, voltava para casa e ao passar próximo à sapataria do Manequinho, um velho comunista do Partidão, eu falava para Manequinho sobre aquela figura humana irreverente e,  Manequinho, muito sábio, dizia-me que aquele sujeito "era doido", "não batia bem das bolas".
Doente mental ou não, sei que aquele homem dizia coisas que nunca esqueci e muitas estão acontecendo nos dias atuais. Ele dizia: " O homem será dominado pela máquina", "o homem será conhecido por um número", " no ano 2000, homens e mulheres vão pular o carnaval completamente nus", " uma máquina dominará o mundo", e assim o homem de vasto bigode e longa cabeleira me encantava com suas previsões há mais de quarenta e cinco anos atrás.
Àquela época, eu achava que ele era um espião dos E.U.A que estava á procura de comunistas brasileiros ou tentando descobrir os segredos dos garimpeiros de pedras preciosas na região. Mas, quando eu argumentava com Manequinho sapateiro sobre a inteligência do suposto espião americano, Manequinho retrucava: " Aquilo não passa de um puxa saco e comedor de bananas dos E.U.A. Fim de papo "Garruchinha" que eu quero fechar minha sapataria. Hoje tem reunião do Partido Comunista Brasileiro".


Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado a Doutor Jorge Medina, filho de grande homem e ex. preso político Nestor Medina. Barbacena, em 8/05/2012