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domingo, 27 de junho de 2010

A ROSA VERMELHA

Certa noite, eu estava meio desnorteado e perambulei pelas ruas de Teófilo Otoni. Minha mente era só conflito interior. Lembro-me de que parei num barzinho e ali fiz alguns escritos em homenagem ao meu pai Tim Garrocho, que estava preso nos porões da ditadura militar no DOPS em Belo Horizonte. Nos papeis amassados estava escrito:

" Eu trouxe uma rosa vermelha para você. Não, eu não comprei. Foi apanhada de um quintal. Meu pai, passei a noite pelas ruas da cidade. Bebi muito. Não consigo entender sua prisão, meu pai, e trouxe uma rosa vermelha que tanto você gostava. Não repare a minha sujeira, o sangue nas minhas mãos. Eu tomei uma queda e sinto que estou caindo a cada dia que passa, mas trouxe a rosa vermelha. Os espinhos furaram as minhas mãos, e a sua prisão está furando meu coração, chorei por você. Sabe, meu pai, eu estou meio cansado desta vida, acho que estou virando um trapo humano. Estou andando e caindo pelas ruas de Teófilo Otoni. A sua prisão me dói, meu pai; a saudade me dói; o adeus doeu, meu pai; a distância nos separa, mas o que mais dói é a tortura que fizeram com você. A rosa vermelha vai ficar na porta dos caminhos da liberdade..."


Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho (Téo Garrocho). Texto do livro Retalhos da Tortura, página 85, do autor e editado em 2006.

domingo, 20 de junho de 2010

Políticos de quatro em quatro anos

"Toda época de política, vem muitos políticos aqui no morro. Voltam sempre de quatro em quatro anos. Depois "some todo mundo". Chegam aqui e abraçam tudo quanto é gente do morro. Teve um que até pegou o cachorro do vizinho no colo e só faltou beijar o "purguento".
Fico pensando que tudo não passa de enganação. É sempre a mesma palhaçada de sempre. Depois da eleição, "some todo mundo" e se a gente encontra com eles no centro da cidade, eles nem dão um bom dia para a gente.
O pobre só é visto pelo político em véspera de eleição. Depois é só esperar mais quatro anos e eles voltam com a cara lavada dizendo que nunca esqueceram da gente." (Depoimento de Lora, a prostituta politizada dos Vales do Mucuri e Jequitinhonha)


Autor: Téo Garrocho.* Texto do livro em preparação: Lora, a prostituta politizada dos Vales do Mucuri e Jequitinhonha.

Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
_Em que espelho ficou perdida a minha face?


Autora: Cecília Meireles.