" Aqui, tudo sem novidades. Mas uma prisão dói e deixa uma eterna saudade. Nem mesmo a conquista da Copa do Mundo em 1970 trouxe tanta repercussão quanto a sua prisão. Inclusive, seu compadre Lourival Pechir noticiou a mesma nos microfones da Rádio Teófilo Otoni.
Os "bichos" vão indo. uns mais tristes, por não estarem participando dos banquetes, e outros satisfeitos por estarem comendo grama melhor com cor verde oliva. Quando enxergam a cor verde oliva ou a cáqui, eles tremem, se dobram e se curvam. É próprio de denunciadores e bajuladores. Pena será quando a grama secar, principalmente a verde oliva...
Botelho, aquele trabalhador que dizia plantar tomates, passou por aqui. Está furioso com os atuais donos da "fazenda". Segundo ele, as coisas " só vão mudar na bala". Parece que ele foi "plantar tomates" lá pelos lados do Araguaia onde, pelas informações de alguns companheiros, o povo e a luta estão se organizando.
Tenho a impressão de que o Botelho está certo. A " fazenda" vai de mal a pior. Não tem comando e parece mais "um bando de gorilas" brigando pelo poder. Até os jacarés, aqueles da "boca grande", se uniram aos "gorilas". Parecem se entender nesta lagoa podre de sanguessugas.
As "maritacas" continuam barulhentas, principalmente no "miolo" das praças, como na Tiradentes de Teófilo Otoni. Vivem em pequenos bandos e repetindo asneiras e cartilhas ensinadas pelos eventuais donos da "fazenda", onde tudo parece ter virado uma merda. Falta trabalho, falta dignidade e falta liberdade. Uma meia dúzia participa dos banquetes, e " o povo que se dane". Esta frase já foi escrita numa velha cancela, uma das muitas que te ajudei a abrir.
Pai, passei lá em vovó Inês e Vovô Ioiô, seus pais. mandaram lembranças. Parece que os vi chorando. Não fique triste. Pai e mãe são assim mesmo, choram de saudades dos filhos.
Deus te proteja. Nós te amaremos sempre. Seu filho, Teófilo (Téo).
Autor: Téo Garrocho- Extraido do livro "Retalhos da Tortura" Páginas 96 e 97. Editado em 2006.
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