Zeloso, o cabo Evarisson era o retrato fiel do que chamamos hoje de "mauricinho". Cabelo bem cortado, botas engraxadas, farda militar limpa, passada e engomada. A cidade pacata não causava problemas ao cabo Evarisson e seus dois subordinados. Resumindo, era a vida que ele havia sonhado para seus últimos anos na briosa Polícia Militar de Minas Gerais.
Às vezes meditabundo, ficava relembrando para si as correrias da capital onde fazia "das tripas o coração" para correr atrás de bandidos. Próximo da aposentadoria, ficava a palitar os dentes e "coçando o saco" no pequeno quartel.
Tunico barbeiro, língua afiada da pequena Estrela do Norte com seus quase seis mil habitantes, vivia implicando que o cabo Evarisson não tirava a farda para nada, ou seja, só na hora de dormir ao lado da fiel esposa Madalena ou Madá do cabo como era conhecida.
Dizia também a língua afiada de Tunico barbeiro que cabo Evarisson não tinha despesas. "Vai pagar fardado e o povo não cobra Ô povo medroso". Assim, de boca em boca todos não cobravam despesas do cabo. "O salário recebe livre, isso é que é moleza", cutucava Tunico, amolando a navalha e observando a unica rua que ficava próxima ao pequeno quartel onde cabo Evarisson, alheio aos fuxícos, palitava tranquilamente os dentes.
Entre um corte de cabelo e outro e já no fim do expediente, eis que Tunico recebe mais um cliente. Justamente o cabo Evarisson que veio fazer serviço completo. Barba, cabelo e bigode que após duas horas ficou pronto. " Quanto lhe devo Tunico?", perguntou o cabo. Tunico tremia que nem vara verde e baixinho disse: " É um prazer cortar barba, cabelo e bigode do grande cabo Evarisson, não tem que pagar nada. Cortesia da casa".
Um minuto após a saída do cabo, Tunico mirou-se no espelho e disse: "Tú acertou Tunico da língua grande".
Autor: Walter Teófilo Rocha GArrocho(Téo Garrocho), Barbacena 18/02/2011. Texto dedicado ao meu humilde e bom amigo Túlio Barbeiro em Teófilo Otoni-MG