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sábado, 3 de julho de 2010

AS LAVADEIRAS DO RIO SANTO MARCOLINO

Na época da ditadura militar em Teófilo Otoni, nós éramos meninos jovens e descíamos o morro da igrejinha Nossa Senhora dos Pobres para chegar até ao Rio Santo Marcolino, que ficava próximo ao famoso campinho de futebol do Zé Ramiro. Naquele rio, ainda com águas límpidas e sem poluição, eu e a molecada da Vila Verônica, Subaco-Fedendo, Cata-Quiabo e Vila Barreiros tomávamos muito banho.
O bom mesmo era tomar banho pelado e correr, passando perto das dezenas de lavadeiras que por ali ganhavam o pão de cada dia lavando roupa para fora, ou seja, para as famílias mais ricas e abastadas. Toda aquela cena das lavadeiras, com os rostos suados de tanto esforço para esfregar roupa naquele sol escaldante, já me tocava espiritualmente; e eu sentia que alguma coisa precisava ser feita para suavizar o sofrimento das camadas mais pobres da sociedade.
Eu e muitos amigos de infância tirávamos nossos mergulhos ao som das lavadeiras que cantarolavam: "Encosta sua cabecinha no meu ombro e chora e conta para mim todas as suas mágoas. Quem chora no meu ombro eu juro que não vai embora, não vai embora, porque gosta de mim".
Eu ficava maravilhado. Aquela cantoria fazia com que eu me lembrasse do meu pai, preso ainda nos porões do DOPS. Não sabia se chorava ou sorria junto com aquelas lavadeiras de dentes alvos e bonitos. As bocas de lábios vermelhos me lembravam a cor da bandeira dos comunistas, de que tanto meu pai gostava, e que pareciam dizer: "Cresce, menino Téo, filho de pai valente e socialista; cresce menino, e nos ensina-como Rui Barbosa- "que a pátria somos todos nós"; cresce menino Téo sonhador, e põe em prática os ideais de seu pai preso político que sempre nos ensinou os caminhos da conscientização política e social; cresce menino Téo, e que, mais tarde já com os cabelos brancos pelo tempo e a mente sempre poética, possa admirar como nós e perpetuar a obra do seu pai Tim Garrocho em prol dos pobres e oprimidos como nós, lavadeiras do Rio Santo Marcolino no Vale do Mucuri das Minas Gerais".


Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho (Téo Garrocho)

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