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terça-feira, 10 de agosto de 2010

ZÉ TREPA, O "CUEBA" QUE QUERIA SER POLÍCIA

Zé Trepa era consertador de rádio no longínquo Distrito de Engenheiro Schnoor, município de Araçuai no Vale do Jequitinhonha. Aprendeu o ofício de tanto cutucar velhos aparelhos usados que trazia de um ferro velho de Araçuai.
Zé Trepa nasceu e saiu poucas vezes de Engenheiro Schnoor. Tinha sonho de ser militar, mas, um problema físico nas pernas impediu a realização de "sentar praça" como falavam seus pais João Cruz e Maria Batista que tinham um carinho especial para o filho único. Carinho este que só perdia para o grande amor que Telvina, moça prendada, nutria por ele.
Antes de consertar rádio, Zé Trepa só pensava em ser polícia. De tanto pensar, incorporou atitudes que na sua simples imaginação, eram de um autêntico militar. Deixou o bigode crescer, sorria pouco, falava pouco e tinha poucos amigos. Cumpria rigorosamente horários de dormir e acordar. Não bebia pinga, não fumava. Cheirava de vez em quando um rapé especial que João Cruz, seu pai, fazia.
Àquela época, onde poucos jovens queriam ser polícia, Zé Trepa apresentou-se no quartel em Teófilo Otoni. Realizou os exames e veio o resultado. Zé Trepa não foi aprovado. O doutor disse que foi tudo bem, mas, as pernas não eram apropriadas para a função. Resumindo, Zé Trepa era "cueba" na linguagem popular da região.
Zé Trepa voltou para o Vale do Jequitinhonha. Se já era quieto, mais quieto ficou. Ninguém podia saber que era "cueba". Só ele e o médico que deu o veredicto. Fez promessa para Nossa Senhora do Carmo e Menino Jesus de Praga. Dito e feito.
O tempo passou e Zé Trepa cansou. Não aguentava mais a vida solitária que levava. Parecia mais um túmulo. Aproveitou que tinha festa no Distrito, subiu até a torre da igreja e badalou o sino da igreja por três vezes. Quando viu que todos tinham os olhos arregalados nele, gritou em alto e bom som: "Eu sou cueba, eu sou cueba, eu sou cueba...". No meio da multidão, Telvina respondeu: "Desce daí meu amor, todo mundo sabe que você é cueba, só você que não sabia". Assim, Zé Trepa caiu nos braços de Telvina e dançaram forró a noite inteira sob os olhares do povo que não parava de dizer: " Ô cueba que dança bem sô".



Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho (Téo Garrocho). Barbacena-MG, em 10/08/2010

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