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quinta-feira, 4 de novembro de 2010

ANTONIO ''COICE DE MULA''

Brigava com Deus e o mundo. Vivia pelos cantos embalado em pensamentos desencontrados. Os roceiros diziam que não era certo da cabeça. A mãe, protetora como sempre, defendia o filho Antonio de julgamentos precipitados.
Nasceu Antônio na região do Tamandua, Vale do Jequitinhonha. Médico e padre são raros naquela região. Missa, em algumas regiões, só de ano em ano e olha lá. Assim, Zefa de Olinto, ainda não tinha batizado o filho Antônio então com 17 anos e já sonhando em ir para o corte de cana lá pelas bandas de Limeira no Estado de São Paulo.
Zefa de Olinto, beata devota da virgem Maria, achava que após o batismo santo, Antonio seria abençoado e feliz. Pagão e incerto da cabeça só nas lembranças das línguas afiadas de " quem não tem nada para fazer" naquela região tão esquecida pelos poderes públicos.
Dois meses antes, através da Rádio Aparecida e do Blog do Banu na internet, recordistas de audiência e visualização naquela região, avisaram aos fieis de Tamandua que no dia da festa de nossa senhora do carmo, haveria missa e batismo. Todos os católicos conforme os preceitos da igreja, deveriam estar aptos para receber o sacramento do batismo.
Afinal, chegou o grande dia tão esperado. Rojão e bombas estouravam saudando a chegada do padre que demonstrava cansaço e batina suja de poeira. Havia um ano que não caia um gota de chuva na região do Tamandua.
Desconfiado e amendrontado, Antonio, vestido com calça curta e meias brancas até os joelhos, aguardava sua vez para receber o sacramento. Ao seu lado a zelosa mãe Zefa, o pai Turíbio e os padrinhos Rufino e Maria Amélia, fazendeiros do lugar.
O povo pode aumentar, mas quando falava que Antonio não era certo da cabeça, não havia mentira. Foi que de tanto esperar sua vez com aquela vela enorme acesa e pingando quente nas suas mãos que o maluco Antonio surtou de vez. Partiu para cima do padre e cravou um potente chute na bunda magra do reverendo que gemeu fundo.
Deseperada, a mãe Zefa, pede perdão para o filho. Os padrinhos amparam o padre. O povo...ah! o povo. Mexer com a igreja é mexer com o povo. Pobre Antonio, estava num mato sem cachorro. Parecia político quando cria polêmica com igreja. Exemplos recentes não faltam...
Antonio, na situação que criou, só o padre poderia salvá-lo e salvou com uma frase que Antonio iria carregar para o resto da vida: "Isso não foi um chute, foi um coice de mula". E o povo da igreja, acostumado a um grito de guerra parecido, cantavam numa só voz: " Olê, olê, olê, olá, mula, mula..."


Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto escrito em 04/11/2010 em Barbacena-MG. Texto dedicado aos meus amigos humildes e trabalhadores de Araçuai: Tião Seleiro e José Maria Ornelas.

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