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terça-feira, 25 de janeiro de 2011

A REVOLTA DOS FERROVIÁRIOS DA BAHIA-MINAS

Moacir Geoking, o "Sinha", irmão de Dona Alice Geoking, esposa do saudoso cabo Ramiro Ferreira, contava que "era bala pra tudo quanto é lado, tiros e mais tiros zuniam nos ouvidos das pessoas, era gente caindo, gritando e correndo pra todos os lados da praça Tiradentes em Teófilo Otoni, uma bala de fuzil quase furou minha orelha".
Ao lado da cadeia pública, em cima de uma velha camionete, meu pai Tim Garrocho, vereador e ex-ferroviário, com microfone na mão, conclamava o povo e, em especial os ferroviários da Bahia-Minas, a protestarem contra os policiais que mataram um trabalhador ferroviário em Teófilo Otoni.
Tim Garrocho discursava, e o povo se inflamava contra os policiais acuados dentro da cadeia pública. O povo gritava o refrão: "vamos invadir, vamos invadir". A situação era muito tensa. Os policiais eram poucos, a multidão era imensa. Por certo haveria mais mortes naquele dia. O povo começou a atirar pedras contra a cadeia pública, e os tiros começaram. Muita correria, os comerciantes fecharam as portas dos estabelecimentos; tiros começaram a partir por parte do povo, e a polícia revidava lá de cima das janelas da cadeia. Num certo momento o povo começou a colocar velas acesas em todas as laterais da cadeia, e tome "mais pedras e tiros".
Tim Garrocho, com microfone e arma na mão, comandava o povo. A polícia estava desesperada. Era preciso haver uma negociação pacífica naqueles momentos cruciais de ânimos exaltados.
Em certo momento, mais tiros disparados. Morrem dois manifestantes e um deles era o Gelson Melo(Nodinha), filho adotivo de Tim Garrocho.Um tiro de fuzil, disparado por um dos militares, tirou a vida de um jovem de 17 anos.
A situação ficou incontrolável. Uma verdadeira guerra se instalou no centro de Teófilo Otoni. Os presos que estavam na cadeia pública gritavam com medo de morrer e pediam socorro. Havia muita gente ferida, e ninguém mais conseguia segurar o Tim Garrocho que partiu junto com a multidão para entrar na cadeia pública. Nisso, chega o meritíssimo Juiz com outras autoridades como: prefeito, delegado "calça curta", vereadores colegas de Tim Garrocho e começaram a negociar.
Todos os presos "foram libertados" ou fugiram, inclusive presos condenados. Os poucos policiais que estavam dentro da cadeia pública tiveram suas vidas poupadas sob forte protesto da multidão e foram transferidos na calada da noite para o batalhão de Governador Valadares, que mandou uma tropa para apagar os ânimos dos revoltosos.
Dizem os mais antigos, que presenciaram os fatos, que até hoje parte do prédio onde funcionava a antiga cadeia pública de Teófilo Otoni, tem marcas das balas dos revólveres do Tim Garrocho e dos companheiros ferroviários da extinta estrada de ferro Bahia-Minas.



Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho). Texto do livro Retalhos da Tortura, do autor, páginas 24,25 e editado no ano de 2006. Dedico este texto ao meu amigo de juventude Dr. Antonio Simões(Advogado) e filho do saudoso ferroviário Olegário Simões.

domingo, 9 de janeiro de 2011

MARIA VIRGEM

Vivia cantando como cigarra. Roupas coloridas, cabelos pretos e compridos. Um rosto lindo assim como o sorriso. Parecia feliz mas não era. Assim era Maria Virgem que tinha um desencanto: O nome.
"das virgem daqui, das virgem dali" e o povo povo do córrego da velha no Vale do Jequitinhonha ia se acostumando e até acreditando que "das virgem" tinha nascida para ser santa, freira de convento ou beata convicta, ou seja, Pura e virgem!
Quando os cortadores de cana voltavam do corte em São Paulo, eles queria distância da linda Maria Virgem. "Afogar o ganso só em lagoas mais abertas", dizia Pedro de Sinhá entre uma cachaça e outra na venda do lendário Joaquim Coelho.
Assim, "das virgem" sofria o descaso dos cortadores de cana e ainda por cima tinha que aturar Tuniquinho, seu irmão mais novo, com sua sua vigilância inseparável. Vigilância essa que se tornou radical após ser promovido a "chefe" dos coroinhas pelo velho e saudoso padre Cloves.
Como tudo passa e o tempo também, Maria Virgem resolveu procurar Zé benzedeiro. Este, cabra acostumado a fazer trabalhos para tirar encosto, logo se assanhou quando " das virgem" entrou em sua sala de orações repleta de retratos e imagens de santos.
"das virgem" tremia e o coração pulsava forte. Tinha que ser naquele dia. Queria e desejava ser mulher amada e sussurrou no ouvido de Zé benzedeiro: "Quero ser mulher".
O vento soprou forte. Zé benzedeiro sentiu um arrepio de fazer inveja a todo tipo de santo e foi ao seu quarto. Voltou incorporado, segundo ele, no espírito de Zé podão que, segundo a lenda, foi o maior "garanhão" das donzelas do córrego da velha.
Entre quatro paredes, sem volta e virando os olhos, Maria Virgem foi sentindo e gostando de ser desbravada pelo "podão" do cabra Zé. Dizem que Maria Virgem passou a gostar de ser chamada Maria dos prazeres.



Autor: Téo Garrocho. Barbacena-MG em 09/01/20111. Texto dedicado a Liu, minha humilde amiga e amante dos prazeres da carne no Vale do Jequitinhonha.