Marli nasceu na região do Vale do Jequitinhonha. Uma região considerada pela O.N.U como uma das mais pobres do mundo. Marli, apesar da infância sofrida, sobreviveu á seca, ás limitações da alimentação dígna e ao descaso dos poderes públicos em relação a ela, seu torrão natal e sua gente sofrida.
Naquele tempo, Marli tinha até o apelido de "Marli canela seca" devido aos vários quilômetros que percorria para estudar na única escola pública "daquele fim de mundo". Diziam até que "Judas perdeu as botas ali e nunca mais voltou para buscá-las."
Marli não desistiu. Ainda que as canelas continuassem muito finas e a água fosse de bica, Marli estudou ali até completar o ensino fundamental. Mais tarde, mudou-se para Teófilo Otoni e formou-se em magistério no antigo Colégio Normal São Francisco. Áquela época, estava ápta a lecionar. O diploma de professora dos seus sonhos tornou-se realidade.
Marli voltou para sua terra na esperança de repassar ás crianças, aos jovens e ao povo da sua terra os ensinamentos que havia adquirido. Voltou para sua terra pensando na letra do hino francês que diz em dos seus versos: "Vamos filhos da pátria, o dia de glória chegou."
Nada, pensava, nada a impediria de levar cultura a seu povo. Nada seria obstáculo para a recém formada professora Marli, outrora conhecida por Marli "canela seca".
O tempo passou como tudo passa. O tempo passou e junto com ele passaram os sonhos de Marli, cuja vida de professora era na verdade um imenso sacrifício, além do mísero salário. O rosto de Marli virou um "maracujá seco" repleto de rugas. Suas pernas finas de tantas andanças pelo Vale do Jequitinhonha pareciam mais com as pernas da Olivia Palito, uma personagem de desenho animado do império de Tio Sam que ao longo de quinhentos anos vem sugando nas tetas do povo brasileiro sob a complacência de políticos acostumados a não largar as tetas da corrupção.
Assim, Marli era o retrato fiel da maioria dos professores na terra onde numa certa época fizeram uma bandeira que ainda diz: "Liberdade ainda que tardia". Assim, como milhares de professores da tal terra da liberdade, Marli começou a questionar se valia a pena ser professor em Minas Gerais.
Marli, entre uma lágrima e outra a rolar sobre o "Maracujá Seco" refletia e dizia para si mesma: "Ser professora em Minas Gerais, só se for por amor."
Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho). Texto dedicado á minha antiga professora de História em Teófilo Otoni, Maria José Haueisen Freire.
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