Tim Garrocho, meu pai, sempre teve vida pública ativa. Aos 24 anos de idade, já era vereador em Teófilo Otoni e muito ligado aos ferroviários da antiga estrada de ferro Bahia-Minas. Meu pai havia trabalhado ali. Foi o vereador mais votado da região e um dos mais novos do Brasil. Ele foi eleito com mais de 900 votos, numa época (1954) em que o eleitorado de Teófilo Otoni era bem pequeno. Tim Garrocho sempre foi um político polêmico, mas justo e honesto. Estas não são palavras minhas, mas de uma legião de amigos e admiradores do meu pai.
Até mesmo seus adversários mais ferrenhos reconheciam a honestidade de Tim Garrocho e a sua luta em prol dos mais humildes e pobres da região de Teófilo Otoni, do Vale dos Mucuri, Vale do Jequitinhonha e São Mateus. Já nesta época o sentimento de solidariedade estava enraizado na mente do meu pai, que era incansável na luta contra todo tipo de opressão ao povo humilde.
Em 1958, foi novamente eleito vereador com expressiva votação de 863 votos pelo povo de Teófilo Otoni e cumpriu dois mandatos àquela época sem remuneração. Em 1964, sua carreira política, assim como a de muitos brasileiros comprometidos com justiça social, foi interrompida pela ditadura militar.
Só mais tarde, em 1982, voltou á câmara de vereadores eleito com 738 votos, sendo o terceiro mais votado dos eleitos.
As lutas sociais de Tim Garrocho, em favor dos mais humildes, foram ficando notórias em toda região e de diversos lugares, como zona rural e cidades vizinhas, começavam a chegar pessoas e famílias para tentar uma vida melhor em Teófilo Otoni. Muitos procuravam meu pai que, de alguma forma, os ajudava. Eu sempre observava que meu pai ajudava e nunca pedia retorno político das caridades que praticava .Muitas vezes escutei meu pai dizer às pessoas que ajudava: "Deus ensina ser justo". Dizia também que, como político, não precisavam votar nele. Desde criança, vi muitas pessoas entrando no nosso velho casarão em prantos e saindo com alegria no rosto. Meu pai sempre nos ensinava um provérbio da Bíblia que diz: "Nunca diga ao seu próximo: vai e volta amanhã, se o tens agora contigo".
Em 1962, tentou ser prefeito de Teófilo Otoni. Não conseguiu o apoio de dirigentes do seu partido. Alegavam que ele era muito jovem e tinham receio das suas idéias socialistas. O conservadorismo em Teófilo Otoni "sempre prevaleceu sobre novas lideranças". Não o apoiaram no registro de sua candidatura, já consagrada perante a opinião pública.
Tim Garrocho, diz o povo, sempre foi bom orador. Sempre, Tim teve o dom da palavra e oratória. Quando começava seu discurso, o povo era só atenção e fé nas palavras daquele pequeno homem de uma coragem insondável. Sempre foi um predestinado dos mais pobres e humildes de Teófilo Otoni. Certa vez, ele resumiu seu porte físico com uma frase: "O que Deus não me deu em tamanho físico, ele me deu em coragem". E, foi com esta coragem, propiciada por um espírito supremo, que muitas coisas aconteceram em Teófilo Otoni com sua participação na linha de frente. Foi através de atos de bravura do meu pai Tim Garrocho e outros aguerridos companheiros que muitas coisas melhoraram em Teófilo otoni e uma delas foi a instalação da CEMIG na cidade.
Meu pai costumava dizer que "nunca se dobrou aos poderosos, nunca foi servil e nunca bajulou homem nenhum". Dizia sempre, mesmo tendo idéias socialistas, "temer somente a Deus". Sua vida e seus atos, até mesmos imprudentes pelos arroubos da juventude, foram pautados na honestidade e transparência pública. Sempre assumiu seus atos e nunca entregou seus companheiros.. Até mesmos os socos e pontapés que o fizeram vomitar sangue dados pelo seu torturador, hoje Coronel reformado da policia militar de Minas Gerais, TORTURADOR KLINGER SOBREIRA DE ALMEIDA, não fizeram com que ele entregasse seus companheiros de lutas sociais. Meu sempre dizia e diz que tinha e tem nojo de torturadores e homens bajuladores. Ele sempre nos ensinou que " Deus não procurará em nós os diplomas e graus, Deus procurará em nós as cicatrizes e cicatrizes nós temos muitas".
Tim Garrocho sempre disse que, " em mais de cinquenta anos de vida pública, nunca levei um tijolo ou uma telha da Prefeitura Municipal de Teófilo Otoni para minha casa". E, uma certa vez, um ex. prefeito de Teófilo Otoni (Wander Lister) quis fazer um calçamento numa pequena entrada e subida até nosso velho casarão. Meu pai não aceitou. Disse ao prefeito que "não era justo".
Uma certa vez, eu precisei de dois caminhões de terra para aterrar um buraco para piso em minha casa, e quando o caminhão da prefeitura trouxe a terra a pedido do ex. prefeito Édson Soares (meu amigo), meu pai mandou o caminhão voltar e não deixou subir até nosso velho casarão. Ele disse ao motorista que avisasse ao prefeito que não era justo um carro da Prefeitura Municipal prestar favores a particulares, mesmo sendo eu seu filho. No único mandato de vereador que recebeu salário, ali mesmo na porta da câmara ele entregava e ajudava os mais pobres. Muitas vezes escutei minha mãe Laura perguntado a meu pai se ele "comprou o pão" e ele dizia que "o pão já tinha sido doado aos mais humildes". Meu pai não construiu um império de riquezas materiais. Se quisesse, teria conseguido, como muitos políticos corruptos conseguiram e, infelizmente ainda conseguem nesta sofrida pátria brasileira de desigualdades sociais imensas. Meu pai, Tim Garrocho sempre teve e tem plena consciência de que seu mundo é o mundo da transparência, das liberdades individuais, da justiça social e da fraternidade. Sempre Tim Garrocho acreditou: "O homem não morre, deixa raízes". Este é TIM GARROCHO, para " NOSSA ALEGRIA".
Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho- Texto dedicado ao melhor povo do mundo, o povo de Teófilo Otoni, nossa terra natal. Escrito em Barbacena, em 04/09/2012
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