Debaixo de um sol escaldante, Firmino só tinha um pensamento: Chegar em casa. Haviam duas horas que tinha vindo a pé do distrito de Engenheiro Schnoor em direção a Ribeirão das Almas, povoado onde residiam seus pais e irmãos.
Firmino, assim como muitos jovens naquela região, voltava do interior de São Paulo onde sua profissão era cortador de cana. Todos os anos, os homens daquela região vão no início e voltam no final de ano. É uma "guerra" sem fim para milhares de jovens que habitam uma região sem muitas oportunidades.
Segundo Zé Tico Tico, um aposentado do corte de cana no interior de São Paulo, " breve vai acabar a ida dos jovens para São Paulo. As máquinas estão dominando tudo", diz Tico Tico que tem fama de homem sábio e entendido naquela região.
Firmino tem 25 anos, mas, aparenta ter mais. Seu rosto em pleno vigor da juventude já carrega marcas de um envelhecimento precoce. Tico Tico diz que Firmino será em breve mais um "rosto parecido com maracujá seco e corpo de "pelancas", assim como ele e a maioria dos aposentados do corte de cana. "É preciso que o governo tome providências e crie políticas públicas eficientes para este povo sofrido", brada Tico Tico em bom tom.
E Firmino chega em Ribeirão das Almas ao som do barulho de fogos de artifício que pipocam no céu solitário de uma terra sofrida, a exemplo de vários povoados naquela região. O velho cachorro Xerife dá pulos e uiva de contentamento. Os pais, irmãos e amigos dão glória ao senhor construtor do universo e bem ao fundo tem Zefinha, o primeiro amor de Firmino que não vê a hora de pular nos braços do guerreiro que volta vivo de mais uma guerra social nesta pátria de todos.
À noite no terreiro do quintal, todos se ajuntam em volta de Firmino para escutar as novidades de São Paulo, para muitos ainda, a "terra prometida". Até o Zé Calango bebeu menos pinga naquela noite onde a lua parecia sorrir e as estrelas brilhavam como um raio de esperança para todos naquele lugar tão distante e esquecido pelos poderes públicos.
Zefinha, que há muito tempo vem derramando lágrimas de saudade, era só alegria nos braços fortes do amado cortador de cana que, entre um beijo daqui e dali, tinha tempo para sorrir a todos e afagar a cabeça do cachorro Xerife.
Zé Tico Tico, ao presenciar tão bela cena, arrisca um palpite e diz: " Se a gente aqui tivesse mais assistência, a gente seria sempre mais feliz". Zé Calango ao escutar, retrucou: " O Tico Tico devia ser era político".
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