Na descida do morro da matriz, tive a grata surpresa de reencontrar meu velho amigo Henrique. Estudamos juntos no antigo colégio São José em Teófilo Otoni. Aquele colégio foi um marco na história de Teófilo Otoni. Por ali passaram muitos jovens que hoje, acredito, estão ocupando boas profissões. Aqueles padres que dirigiam aquele estabelecimento de ensino, ensinaram a todos nós muitas coisas para o nosso engrandecimento cultural e também espiritual. Mas, nem todos conseguiram oportunidade na vida e todos tiveram ou tem uma história de vida para contar.
Nunca esqueço que nas aulas de um padre muito forte e alto que todos nós chamávamos de Frei bitelo, eu e o Henrique costumávamos queimar um cordão tipo barbante que soltava uma fumaça fedorenta que ninguém ficava dentro da sala de aula. Aquele cordão fedorento era chamado pelos estudantes de " Peido de Alemão". Confesso que desconheço o motivo da tal denominação dada por todos nós estudantes.
Henrique era conhecido por Riquinho no apelido e na suposta grana que sua família possuía. Se não me engano, ele era oriundo da cidade de Carlos Chagas, onde, segundo ele mesmo, seus pais possuíam muito gado de corte e fazenda a perder de vista. Era mais ou menos isso que comentavam nas rodinhas de estudantes àquela época.
Pessoalmente nunca acreditei, tendo em vista que muitas vezes dividi minha merendeira com ele e comprei muito pão doce que era vendido na antiga cantina para "matar" a fome de Riquinho que com grande lábia enganava a todos e não passava de um farsante. Enganava a muitos, menos a mim que já tinha experiência com centenas ou milhares de caloteiros e enganadores que "passavam a perna" no bom coração do meu velho pai Tim.
Ao reencontrá-lo com seus sessenta anos, observei que ele aparenta mais. Magro, barriga estufada feito uma cobra que engoliu um sapo, bochechas avermelhadas como estivesse com duas bolas de sinuca dentro da boca em cada lado, olhos esbugalhados e vermelhos, barba branca sem aparamento tipo Lula na fundação do PT. Aliás, barba amarelada devido ao consumo excessivo de tabaco que ele diz enrolar em "seda", menos no mais certo que é em qualquer papel que pode ser até jornal de ontem.
Demos um forte abraço e perguntei como ele estava de vida. Sem perder a pose de outrora ou décadas atrás, Riquinho disse estar nas alturas de tanta felicidade e que estava chegando de uma viagem turística pela Cordilheira dos Andes onde foi visitar uma antiga cidade dos Incas. Para não perder tempo e o velho costume, perguntou como eu estava de bolso e me tomou "emprestado" uma pelega de dez reais. Segundo ele, o cartão de crédito ficou esquecido na fazenda em Carlos Chagas. Fingi acreditar...
Pois bem, no centro da cidade encontro com meu antigo e rabugento amigo Zé Cotia. Comento sobre Riquinho e suas fantasias. Zé Cotia diz que "Aquilo não mudou nada e não vai mudar Téo. Pau que nasce torto vai morrer torto". Não questionei Zé Cotia, até porque ele nunca gostou que a gente questionasse suas ponderações e vou em frente ali pelas bandas da Praça Germânica onde encontro com Inácio "Fala Mansa", outro antigo amigo frequentador da Zona boêmia do Chico Sá. O velho e pacato "Fala Mansa" diz que acredita na recuperação de Riquinho e diz: "Olha meu velho Téo, quando Deus quer e o cara quer, a vida muda para melhor".
Saindo da Praça Germânica, subo ali pelas bandas do Morro do América e encontro Perobão, outro velho amigo e ele diz: "Téo, é você mesmo? meu amigo, como você mudou meu filho. Está mais novo, engordou, bem vestido. Afinal, você tirou na loteria?. É, parece que meu amigo "Fala Mansa" estava certo. "Quando Deus quer e o cara quer, a vida muda para melhor".
Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado ao meu bom e justo amigo comerciante da Avenida João XXIII em Teófilo Otoni: Nilson Batista de Matos. Em 01/10/2013, Barbacena-MG.
1 comentários:
Frei Bitelo, do São José??? Incrível: ainda há quem fale nele! Ah, tempos que passam!... Já "aprontei muito" com ele, principalmente durante o estudo da tarde. Pudera... Ele cochilava com facilidade.
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