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terça-feira, 31 de dezembro de 2013

ENCONTRO COM A PROSTITUTA LORA

O Vale do Jequitinhonha em época de seca é triste. Ainda assim, Téo,  um ativista politico que atuava por aquelas bandas seguia seu caminho. Enquanto caminhava, Téo pensava nas décadas de 60 e 70 em que surgiram muitos movimentos sociais que sacudiram o mundo. Mataram o presidente dos E.U.A, surgiram os Beatles, grandes festivais, protestos na França e aqui no Brasil tivemos passeata dos cem mil no Rio de Janeiro em protesto contra a ditadura militar, sequestro do embaixador americano no Brasil, AI 5, torturas nos porões da ditadura, desaparecimento de militantes e presos políticos, fechamento do congresso nacional, cassação de mandatos políticos, censura, exílio de políticos, artistas e intelectuais. Como dizia Dante: " Entrai, eis aqui o inferno".
Tempos difíceis de aceitar em Teófilo Otoni, terra natal de Téo Jatobá, onde foram efetuadas prisões de vários ativistas considerados "comunistas" na ótica do regime de opressão. Muitos foram perseguidos, presos e torturados nos porões da ditadura. Até mesmo Lora, a amada de Téo Jatobá foi perseguida pelo sistema. Mas, Lora, a prostituta politizada não tinha medo de cara feia e soltava os cachorros em cima dos opressores e pucha sacos dos militares. Irreverente como sempre, Lora sempre saia em plenas décadas de 60 e 70 com uma minissaia no centro de Teófilo Otoni. De tão pequena a saia, podia-se ver a calcinha vermelha em homenagem aos supostos comunistas, seus amigos de sempre. Dona Chiquinha, uma beata fervorosa da Virgem Maria e adepta da revolução redentora instalada no poder, se benzia e beijava três vezes um escapulário do menino Jesus de Praga, doado pelo bispo.
Por um momento, Téo Jatobá esquece os pensamentos. Precisa andar rápido. A boquinha da noite vem chegando. Ele acredita que a noite será inesquecível. Na verdade, ele está indo ao encontro da sua amada que nos últimos tempos vem morando na região do Vale do Jequitinhonha. Téo, teve notícias através de companheiros que uma certa mulher estava fazendo um revolução social por aquelas bandas e pelas características físicas e forma de propagar mudanças sociais, só podia ser Lora, a prostituta politizada de Teófilo Otoni.
Do alto de uma imensa montanha,  Jatobá avista um imenso vale. Um menino meio barrigudo passa e diz que aquele vale é chamado de Ribeirão das Almas. Fica na divisa dos municípios de Novo Cruzeiro e Araçuaí. O menino barrigudo oferece uns pequis e Jatobá compra alguns para ajudar o pequeno batalhador daquela terra esquecida sempre pelos poderes públicos. Descendo a montanha,Téo avista uma morada onde tremula no telhado uma bandeira vermelha. Seu coração bate forte. Tem agora certeza que naquela morada vai encontrar com Lora e relembrar dos encontros que marcaram suas vidas de revolucionários.
Chegando ao portão, Téo Jatobá grita por Lora e vem uma moça muito linda aparentando uns 22 anos e diz ser filha de Lora. A moça diz chamar-se Maria das Dores e tem o apelido de Dadá. Convida Téo para entrar e "não reparar na simplicidade da moradia". Emociona-se ao entrar e pergunta por Lora, a sua amada dos anos 70. A filha Dadá diz que Lora já não se encontra mais ali. " Ela se envolveu tanto com a política e movimentos sociais que acabou louca. Foi internada num manicômio em Barbacena e nunca mais voltou. É bem provável que ela já tenha falecido". O povo daqui nunca esqueceu dela e ainda tem muita gente que diz: "Era Lora na terra e Deus no céu para ajudar tanta gente".
Téo Jatobá fica no Vale do Jequitinhonha. Uns tempos morou ali pelas bandas de Ribeirão das Almas, Distrito de Engenheiro Schnoor e Araçuaí. Segundo os mais antigos, Téo Jatobá fez um bom trabalho de conscientização politica e social naquela região. Mais velho, dizem, ele acabou se apaixonando por Maria das Dores, a Dadá, se casaram e tiveram três filhos homens. Dizem que por ironia dos destino, eles moram hoje na cidade de Barbacena e são muito felizes.

Autor:Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado á minha companheira de muitas lutas pela vida afora; Maria das Dores Batista Garrocho, a popular Dadá. Texto escrito em Barbacena-MG aos 31/12/2013.

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