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terça-feira, 11 de março de 2014

UM DIAMANTE A CAMINHO DA SUA VIDA

Estranho.Ultimamente, na minha imaginação, meu telefone anda tocando e quando atendo pareço escutar uma voz que me diz: "Enfia tua mão na loca. Caso não tenha peixe, você encontrará um diamante". Estranho mesmo. Que eu me lembre, pesquei alguns lambaris ali pelas bandas do Vale do Jequitinhonha há uns vinte anos atrás quando trabalhei numa escola estadual no distrito de Engenheiro Schnoor, município de Araçuaí.
Não entendo de peixes. Comentei o caso com meu amigo Oscarino que é um exímio pescador. Segundo ele, peixe que gosta de loca é um tal de cascudo.Segundo ainda o Oscarino, o peixe cascudo é muito apreciado e caríssimo nos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. Ele ainda diz que ninguém resiste a uma panelada de cascudo, se bem temperada ao molho da região.
Para mim, leigo no assunto peixes, cascudo sempre foi um termo para denominar aqueles tapas na cabeça que em tempos antigos, a criançada tinha o costume de bater na cabeça dos mais novos. Eu, por exemplo, já tomei muito cascudo quando criança e talvez dai o abalamento do meu "coco" ou cérebro como queiram. Segundo meu filho que estuda ciência da computação, o cérebro humano pode ser como a placa mãe de um PC. Se tomar muito bate, pode dar problemas. Não é a toa que um vizinho meu, quando seu PC dá algum defeito, ele leva "o bicho" no maior carinho dentro do ônibus coletivo até a oficina de computadores. Então, a gente, quando criança, deveria também ser tratado com muito carinho. Muito cascudo pode ter abalado a mente de muita criança por este mundão a fora. Certo?
Conversa vai, conversa vem, volto ao assunto da voz que "manda eu enfiar a mão na loca e se não sair peixe, sai diamante". Como meu telefone ainda não tem aquele tal "Bina" ou identificador de chamadas, matuto que pode ser obra de algum desocupado ou então aqueles telefonemas de bancos que querem a todo custo enfiar mais cartão de crédito na vida da gente. Assim, como todo bom mineiro, desconfio e prefiro não meter minha mão na cumbuca. Segundo um velho ditado, a esmola quando é muita, o santo desconfia. Verdade?
Certo ou não do que escrevo, apareceu um amigo meu de muita confiança e relatei sobre o tal telefonema. Para minha surpresa, ele contou que este caso da loca do peixe, aconteceu mesmo no Vale do Jequitinhonha. Segundo ele, uma família muito pobre ficou riquíssima da noite para o dia. É fato sabido que no Rio Jequitinhonha existe muito diamante e ouro. Tem até umas pessoas que exploram ouro e diamante naquele rio e desde criança ouço comentários sobre pessoas que ficaram ricas garimpando naquela região. Segundo o tal amigo, existia um pai que levava seus filhos para mergulhar e pescar os cascudos que ficavam escondidos nas locas, principalmente de dia. Aquele senhor e seus filhos, pescavam os cascudos e trocavam por mercadorias como farinha, fubá, carne seca, arroz, banha de porco e macarrão.
Um certo dia, um dos meninos mergulhou e ao meter a mão na loca não encontrou peixe. Encontrou um grande pedra que para surpresa e alegria daquela família, era um valioso diamante que deixou todos daquela família muito ricos. Segundo meu amigo, o homem ficou rico e continua simples como sempre foi e ainda continua morando por aquelas bandas, ajudando muito o povo pobre daquela região.
São casos como este que fazem a gente pensar que "coisas do outro mundo" acontecem mesmo e de verdade. Tanto que na semana que passou, uma jovem capotou o carro que dirigia por várias vezes e veio a despencar de uma altura de 50 metros caindo em alto mar sob a ponte Rio-Niteroi  no estado do Rio de Janeiro. E, se salvou. 
Assim, penso que quando aquele menino achou aquele diamante na loca do peixe, um milagre aconteceu na vida daquela família carente do Vale do Jequitinhonha. Deus, o arquiteto do universo, tem um propósito na vida deles e assim também na vida da moça que se salvou ao despencar daquela ponte no Rio de Janeiro.
E agora pergunto: na sua vida já aconteceu um milagre? Pode ser que breve você será mais um ou uma a imaginar, assim como eu, uma voz mandando você enfiar a mão na loca. Pode ser que o peixe já esteja com um diamante na boca e vai deixar ali para você a mando de Deus, o "homem" que governa o universo. Tenha fé, tudo vai dar certo!!!

Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado a meus filhos, Thiago e Charles. Os dois, estão de mudança ( Estudo e trabalho)  para Ouro Preto e Vitória-ES. Que Deus os proteja e que eles sejam felizes. Texto escrito em Barbacena aos 11/03/2014.

quarta-feira, 5 de março de 2014

AMIGOS DE INFÂNCIA E JUVENTUDE EM TEÓFILO OTONI

José Carlos Reichardt era filho de Dona Elza Thomás. Ele nasceu numa comunidade rural próxima ao Cedro que fica no município de Teófilo Otoni. Zé Carlos para uns, Alemão para outros. Para mim, eu o chamava de Garapa. Um apelido de pré adolescência que nasceu nos campos de peladas de futebol espalhados àquela época pelos grandes espaços urbanos na Vila Verônica e antiga favela do Subaco Fedendo.
Zé Carlos ou Garapa, foi criado na antiga favela do Subaco. Sua mãe, Dona Elza, era uma aguerrida mulher trabalhadora que ainda tinha tempo para exercer a função antiga de parteira da comunidade, numa época, mais que hoje, em que o pobre não tinha assistência de saúde pública. Assim, ela ficou conhecida por aquelas bandas como Dona Elza parteira.
Meu amigo Garapa frequentava muito nosso velho casarão. Sua mãe, vez ou outra, fazia umas faxinas para minha avó e minha mãe. O Garapa sempre ia junto. Ainda que pobre no sentido da palavra, ele sempre aparecia por lá com as roupas limpinhas e o cabelo muito bem penteado com um óleo pastoso conhecido por brilhantina. Na verdade, o meu amigo Garapa, devido ao capricho da mãe, se destacava perante os outros meninos pobres da favela. Também na verdade, mesmo sendo mais arrumadinho, ele e sua mãe eram muito queridos por todos da comunidade onde a Dona Elza era muito prestativa com todos.
Meu amigo Garapa estudava na antiga escola da igrejinha Nossa Senhora dos Pobres. A professora era uma abnegada senhora de nome Lígia Gusmão. Essa mesma senhora, algum tempo depois, mudou o nome da antiga favela do Subaco Fedendo para a hoje tão progressista Vila Progresso que fica praticamente no centro de Teófilo Otoni.
Confesso que eu tinha sonho de estudar ali naquela escolinha junto com meu amigo Garapa e meus amigos do Subaco Fedendo. Mas, meus pais, me colocaram no antigo Orfanato Coração de Jesus. Um grande prédio que ficava numa altura imensa acima do hoje Bairro Marajoara. Aquele antigo Orfanato era dirigido por freiras de caridade que eram e ainda são umas mulheres que se cobrem até o pescoço. Então, foi ali que dois acontecimentos ficaram eternizados na minha lembrança: Uma pedrada acertada na minha cabeça e quando, ao subir aquela imensa ladeira, "borrei nas calças". Isso mesmo, foi uma caganeira incontrolável.
Alguns anos depois fui estudar no antigo Colégio São José. Foi cruel. Tinha que acordar quase de madrugada e percorrer uns 5 Quilômetros a pé para chegar naquela ponte velha do famoso rio "Toddy" e avistar aquele maldito portão onde ficava um padre alto, magrelo,vermelho, com apito na boca ou pendurado no pescoço. Era um martírio quando ele soprava aquele apito e gritava para a gente correr, senão ele fecharia o portão.
Mais cruel foi quando veio a ditadura militar e fui desligado daquele colégio de padres. Segundo eles, minha presença atrapalhava o andamento do colégio. Afinal, eu era filho de um comunista e preso político. E assim, passei a não ter onde estudar e fiquei " a pular de galho em galho" recendo não daqui e não dali. Demorei algum tempo para entender a triste realidade de um regime ditatorial que marcou minha vida.
Como tudo passa. Hoje, lembrando daqui e dali,  lembrei do meu velho amigo Garapa. Dizem que ele aposentou como Fiscal de Tributos da Prefeitura Municipal de Teófilo Otoni. Recebi noticias que ele anda muito adoentado, principalmente após o falecimento da sua bondosa mãe Dona Elza. Sinto na alma que preciso revê-lo e falar da saudade de nossa infância e juventude. Afinal, o que levamos deste mundo?

Autor:Walter Teófilo Rocha Garrocho( Téo Garrocho)- Texto dedicado ao meu bom amigo de infância e juventude, José Carlos Reichardt, ou, Garapa, Alemão, Zé Carlos da Prefeitura de Teófilo Otoni-MG. Texto escrito em Barbacena, aos 05/03/2014.