José Carlos Reichardt era filho de Dona Elza Thomás. Ele nasceu numa comunidade rural próxima ao Cedro que fica no município de Teófilo Otoni. Zé Carlos para uns, Alemão para outros. Para mim, eu o chamava de Garapa. Um apelido de pré adolescência que nasceu nos campos de peladas de futebol espalhados àquela época pelos grandes espaços urbanos na Vila Verônica e antiga favela do Subaco Fedendo.
Zé Carlos ou Garapa, foi criado na antiga favela do Subaco. Sua mãe, Dona Elza, era uma aguerrida mulher trabalhadora que ainda tinha tempo para exercer a função antiga de parteira da comunidade, numa época, mais que hoje, em que o pobre não tinha assistência de saúde pública. Assim, ela ficou conhecida por aquelas bandas como Dona Elza parteira.
Meu amigo Garapa frequentava muito nosso velho casarão. Sua mãe, vez ou outra, fazia umas faxinas para minha avó e minha mãe. O Garapa sempre ia junto. Ainda que pobre no sentido da palavra, ele sempre aparecia por lá com as roupas limpinhas e o cabelo muito bem penteado com um óleo pastoso conhecido por brilhantina. Na verdade, o meu amigo Garapa, devido ao capricho da mãe, se destacava perante os outros meninos pobres da favela. Também na verdade, mesmo sendo mais arrumadinho, ele e sua mãe eram muito queridos por todos da comunidade onde a Dona Elza era muito prestativa com todos.
Meu amigo Garapa estudava na antiga escola da igrejinha Nossa Senhora dos Pobres. A professora era uma abnegada senhora de nome Lígia Gusmão. Essa mesma senhora, algum tempo depois, mudou o nome da antiga favela do Subaco Fedendo para a hoje tão progressista Vila Progresso que fica praticamente no centro de Teófilo Otoni.
Confesso que eu tinha sonho de estudar ali naquela escolinha junto com meu amigo Garapa e meus amigos do Subaco Fedendo. Mas, meus pais, me colocaram no antigo Orfanato Coração de Jesus. Um grande prédio que ficava numa altura imensa acima do hoje Bairro Marajoara. Aquele antigo Orfanato era dirigido por freiras de caridade que eram e ainda são umas mulheres que se cobrem até o pescoço. Então, foi ali que dois acontecimentos ficaram eternizados na minha lembrança: Uma pedrada acertada na minha cabeça e quando, ao subir aquela imensa ladeira, "borrei nas calças". Isso mesmo, foi uma caganeira incontrolável.
Alguns anos depois fui estudar no antigo Colégio São José. Foi cruel. Tinha que acordar quase de madrugada e percorrer uns 5 Quilômetros a pé para chegar naquela ponte velha do famoso rio "Toddy" e avistar aquele maldito portão onde ficava um padre alto, magrelo,vermelho, com apito na boca ou pendurado no pescoço. Era um martírio quando ele soprava aquele apito e gritava para a gente correr, senão ele fecharia o portão.
Mais cruel foi quando veio a ditadura militar e fui desligado daquele colégio de padres. Segundo eles, minha presença atrapalhava o andamento do colégio. Afinal, eu era filho de um comunista e preso político. E assim, passei a não ter onde estudar e fiquei " a pular de galho em galho" recendo não daqui e não dali. Demorei algum tempo para entender a triste realidade de um regime ditatorial que marcou minha vida.
Como tudo passa. Hoje, lembrando daqui e dali, lembrei do meu velho amigo Garapa. Dizem que ele aposentou como Fiscal de Tributos da Prefeitura Municipal de Teófilo Otoni. Recebi noticias que ele anda muito adoentado, principalmente após o falecimento da sua bondosa mãe Dona Elza. Sinto na alma que preciso revê-lo e falar da saudade de nossa infância e juventude. Afinal, o que levamos deste mundo?
Autor:Walter Teófilo Rocha Garrocho( Téo Garrocho)- Texto dedicado ao meu bom amigo de infância e juventude, José Carlos Reichardt, ou, Garapa, Alemão, Zé Carlos da Prefeitura de Teófilo Otoni-MG. Texto escrito em Barbacena, aos 05/03/2014.
0 comentários:
Postar um comentário