Com uma flor de margarida nas mãos, Serafina Apolinária dos Anjos, ou Dona Fininha como é mais conhecida na região do Altino Barbosa em Teófilo Otoni, fica parada olhando para o infinito, mergulhada em lembranças do passado. Ultimamente ela fica assim, dando o que falar no seio da família e nos amigos mais fieis.
Dona Fininha perdeu um filho em acidente com veículo na sexta feira da paixão que passou. O trauma foi tão grande que nem mesmo o aconchego da família e de todos, consegue tirar a tristeza daqueles "zoinhos" que teimam em fixar o firmamento. Um firmamento que parece não ter fim e faz vez ou outra brotar uma aguinha em cada cantinho dos "zoinhos" de Dona Fininha.
Eu já vi e presenciei muita coisa triste na minha vida, mas, como lágrima de mãe é difícil ter igual. É uma lágrima sincera, comovente, saudosa como nenhuma outra. É uma resposta da alma machucada por algum revés e fatalidade em relação á família e em especial com os filhos que vieram do seu ventre. E, vendo as lágrimas brotarem dos "zoinhos" de Dona Fininha, lembrei também da minha avó Inês Amado Garrocho que chorava caladinha em um cantinho da sua cozinha ao ver meu pai sendo levado preso pela ditadura militar e entregue aos seus algozes nos porões da tortura. Assim, passei a entender e valorizar mais minha avó, minha mãe e todas as mães do universo.
Assim, a exemplo das lágrimas de Dona Fininha, da minha avó Inês, das mães da Praça de Maio na Argentina e milhares de mães espalhadas pelo mundo inteiro, os chamados poetas do mundo com certeza construiriam um " oceano de saudade" que minam dos "zoinhos" tão magoados da alma de milhares de mães, sejam brancas, pretas, pardas, amarelas. Ricas ou pobres materialmente...
Vou, dentro das minhas limitações de fé, tentar fazer uma prece para Dona Fininha suplantar a dor tão profunda que vem sentindo. Vou tentar, quem sabe, explicar para Deus, que acolha com carinho o seu filho que na verdade sempre foi um pedacinho da sua alma.
Ah! fiquei sabendo que aquela margaridinha nas mãos de Dona Fininha só tinha uma pétala e quando ela tirou, deu "bem-me-quer". Fiquei sabendo também que brotou um suave sorriso no rosto de Dona Fininha. É bem provável que Deus tenha escutado minha humilde prece. Será???
Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado á todas as mães de Teófilo Otoni que perderam seus filhos precocemente. Também este texto é dedicado a todas as mães que tiveram seus filhos mortos por ditaduras militares a exemplo no Brasil, Chile e Argentina. Enfim, a todas as mães que dos "zoinhos" tristes. Texto escrito em Barbacena-MG, aos 22/04/2014.
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