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terça-feira, 30 de setembro de 2014

TEM ITAIPAVA AI EM TEÓFILO OTONI?

Eu sempre gostei de comerciais criativos na televisão e no rádio. Na década de 70, eu tinha um amigo meio maluco que, junto comigo, ficávamos escutando comerciais através do rádio e tome gargalhadas. Alguns fizeram história e ficaram gravados em nossa memória a exemplo daquele: " Quem bate? é o frio. Não adianta bater que eu não deixo você entrar...". Era o comercial das famosas Casas Pernambucanas. Quando a televisão chegou em Teófilo Otoni, eu ficava maravilhado com aquele comercial da antiga Casas da Banha, onde apareciam uns porcos dançando e cantando: "Vou dançar o tcha tcha tcha...Casa das Banhas...".
Para mim, o maior comunicador de rádio naquela época foi o Senhor Lourival Pechir. Eu conhecia muito o Lourival Pechir que era compadre dos meus pais. Era padrinho de batismo da minha irmã Márcia. Seus filhos foram e são meus amigos. Sei também que Lourival Pechir foi pioneiro do rádio em Teófilo Otoni. Se não me engano começou com serviço de alto falante e depois fundou a famosa Rádio Teófilo Otoni que hoje é comandada por Élbio Pechir e seus irmãos. O comercial que o senhor Lourival Pechir deixou marcado em minha memória foi aquele em que ele falava: "Fogos Caramurú, os únicos que não dão chabú"
Atualmente, existem grandes empresas de publicidade para criar todo tipo de propaganda. Publicam em jornais, televisão, rádio, internet e por ai vai. Algumas são horríveis e não chamam a atenção. Outras são super criativas e em apenas um minuto conseguem transmitir com eficiência o "peixe" que estão vendendo aos seus clientes, trazendo retorno aos empresários contratantes da publicidade, ou seja, satisfação e lucros financeiros que são objetivos do sistema capitalista.
Mas, voltando aos Fogos Caramurú, "Aqueles que não dão chabú". Eu lembro que minha avó tinha o costume de fazer fogueiras nas festa juninas e comprava muitas bombinhas, traks (isso mesmo?), caixinhas de fósforos tipo "chuvinhas de todas as cores", buscapé e rojão que naquela época eram chamados de " foguetes". Era um dia de Santo Antonio e minha avó ficava com uma bandeja cheia de copos com quentão, servindo aos da família e vistantes. Foi ai que entrei na história ao acender um "foguete" daqueles. Ao invés de apontar para o alto, apontei para a porta de entrada no momento em que minha avó saia com uma bandeja cheia de copos com quentão. Explodiu bem nos peitos da minha avó Verôncia. Foi uma correria, um "Deus nos acuda". Sobrou para mim uma surra de cipó e reflexão sobre o comercial do Lourival Pechir. O "foguete" era Caramurú e "não deu chabú". ou seja, não falhou. Que o diga minha pobre avó que ficou toda sapecada...
Outro dia vi um comercial na televisão que me chamou atenção. Um jovem na praia e perguntando aos vendedores se eles tinham cerveja Itaipava para vender.Corre daqui e dali como se a sola do seu pé estivesse queimando. Como a cerveja Itaipava havia sido muito vendida ( foi o que eu entendi), ele comprou outra e derramou nos seus pés, deixando até mesmo o vendedor de "boca aberta" e espantado com a reação do jovem que na certa só tomava e apreciava a excelente cerveja Itaipava.
Assim "nem que a vaca tussa", eu não deixo de apreciar a criatividade de muitos publicitários que com pequenas frases de efeito, conseguem transmitir mensagem de efeito positivo. Criatividade é mesmo um dom e há décadas atrás o Lourival Pechir já nos encantava com seu dom.


Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado ao meu grande e fraterno amigo Élbio Pechir, diretor da Rádio Teófilo Otoni. Texto escrito em Barbacena-MG, aos 30/09/2014.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

OS DOIDOS DE TEÓFILO OTONI E SEUS CAUSOS

Zé "bichinho ganhou este apelido quando ainda era menino. Na verdade, seu nome verdadeiro era José Azevedo. "bichinho" nasceu e criou ali pelas bandas da Vila Verônica em Teófilo Otoni. Anos mais tarde, Zé "bichinho" veio a se tornar o maior matador de porcos no antigo chiqueiro do saudoso senhor Joaquim Duarte. Assim como Zé "bichinho", foram muitos os meninos com quem convivi por aquelas bandas, Crescemos e vivemos entre morros chamados naquela época de morro do Subaco Fedendo, morro do Cata quiabo, morro da Igrejinha, morro do Eucalipto, morro do Cemitério e morro da favela do pela jegue.
Zé "bichinho" era filho de Vicente que era mais conhecido por Vicente macumbeiro. Vicente morava na antiga Vila do rabicho. Vicente, assim como Dona Margarida, tinham centros espíritas umbandistas. Vizinhas deles, havia Dona Juscelina que fazia "olhados e benzeduras" para uma multidão de gente que vinham de toda parte da cidade e região em busca de alívio e cura para suas doenças, materiais ou espirituais. Mais á frente, morava Dona Chiquinha, beata fervorosa na fé católica e que, junto com Dona Lígia, comandava rezas de terço com rosário, procissões de nossa senhora, menino Jesus e pagamento de promessas até o alto do morro da igrejinha, onde existia um cruzeiro para colocação de pedras que o povo carregava nas costas, rezando e pedindo chuva á Deus.
 No topo de um pequeno morro mais "à esquerda" existia o nosso velho casarão, onde meu pai, um comunista doutrinado, pregava ao povo as idéias de Stalin e Luiz Carlos Prestes ( o Cavaleiro da Esperança). Imaginem como foi minha vida ao conviver com tanto contraste de idéias!
Havia também Zé "caga barro", Zé "sapinho", Zé "muriçoca", Zé "cutia", Zé "catarrento", Zé "babão" e até mesmo o irreverente e inquieto Zé "doido" que vivia a atirar pedras nos telhados dos humildes casebres feitos com tijolo adobe. A maior alegria, se assim podemos definir os desvios de conduta de Zé "doido", era quando alguém gritava: " Olha o cachorro doido. Tá babando. Cachorro doido. Vamos matar, vamos matar!". Aquilo para Zé "doido" era um delírio sem explicação á razão. Para o pobre animal indefeso, significava uma sentença de morte ou como dizia Dante: "Entrai (cachorro), eis aqui o inferno..." e tome pedrada de Zé "doido" e sua turma de "capetas", aliás, de meninos.
Assim, tanto Zé "bichinho" como Zé "doido", eu e outros inúmeros Josés, nascemos e criamos naquela "bagunça" e rebuliço de gente que vieram de várias regiões. Dizem que, graças ao meu pai, que dividia suas terras com os mais pobres e humildes. Comunista doutrinado na causa operária, meu pai sempre falava que: "Terra não tem dono. Terra é de Deus e se somos filhos de Deus, todos nós temos direito a um pedacinho".
Então, cresci escutando e assimilando a doutrina socialista do meu pai, as rezas católicas de Dona Chiquinha na "boquinha da noite", as benzeduras de Dona Juscelina e bem mais á noite escutava o batuque dos tambores de Vicente Macumbeiro e dezenas de outros centros espíritas umbandistas encravados naqueles morros de "excluídos" ou "escórias da sociedade" como falava um certo prefeito referindo-se àquele povo tão sofrido e carente de tudo na vida. Pior ainda era escutar um babaôvo daquele tal prefeito dizer : "Aquele povo merece é taca". Pior mais ainda é saber que aquele antigo prefeito, após décadas, ainda continua mamando nas tetas do erário público, nas tetas dos chamados por ele de "escórias da sociedade".
Toda esta história tem mais ou menos uns 40 anos, Por ironia do destino resido hoje em Barbacena que ainda é conhecida por "cidade dos loucos" e muitas clínicas para tratamento de doentes mentais. Passeando pela aconchegante Praça dos Andradas, deparei-me com um andarilho que dormia ao lado de uma dezena de cachorros abandonados. Ao perguntar-lhe sobre sua vida, ele me disse que todos o conhecem por Zé "doido". Veio de Teófilo Otoni para tratamento psiquiátrico em Barbacena e nunca mais voltou. Em silêncio e olhando naqueles olhos tão tristes de Zé "doido" e nos olhos daqueles cachorros abandonados, eu pensei: "É meu amigo, até as pedras se encontram..."

Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho (Téo Garrocho)- Texto dedicado ao meu fraterno amigo Padre Giovani Lisa. Um guerreiro em prol dos mais pobres e humildes da antiga Vila Verônica em Teófilo Otoni. Texto escrito em Barbacena aos 18/09/2014.