quarta-feira, 28 de abril de 2010
Lembranças
sexta-feira, 23 de abril de 2010
No chão, sem chão
Andanças pelo passado
quarta-feira, 21 de abril de 2010
Tocando pneu velho
Sempre gostei de um pneu velho nos meus tempos de criança e toquei muito pneu velho pelos bairros da minha terra natal. Com isso, aprendi a conhecer toda a cidade, até por que naquela época(década de 60 a 70), Teófilo Otoni ainda era uma pacata cidade do interior e boa de se viver em paz.
Foi tocando pneu que descobri o quanto meu pai Tim Garrocho e outros líderes populares como Dr. Petrônio Mendes de Souza, João Gabriel da Costa(Seu Nô), Antonio Barbosa(Tote) eram conhecidos e queridos pelo povo mais humilde da cidade.
Foi tocando pneu que eu conseguia esquecer a tristeza pela primeira prisão do meu pai, em 1964, pela Ditadura Militar; e foi tocando pneu que muitas vezes abrandei em meu coração a saudade de não ter meu pai ao meu lado, nos domingos ensolarados e bonitos de Teófilo Otoni convidando a todos para um gostoso banho de rio no "quente-frio", ou lá pelas bandas da "Suiça" e cachoeirinha do Bairro Palmeiras.
Tocando pneu pelas ruas, em espírito e precocemente politizado, já sentia e entendia os rumores e clamores do povo da minha terra por mais justiça social. Junto com meus velhos amigos da Vila Verônica, eu sentia desde menino o quanto é importante criar laços de uma sociedade sem egoísmo, coesa em sentimentos de fraternidade, além de conhecedora dos seus direitos de cidadania.
Tocando pneu, vi e assimilei aquilo que meu pai sempre ensinou a todos nós, seus filhos e seus amigos: "Enxerguem e procurem suavizar, de alguma forma, o sofrimento dos menos favorecidos".
Foi tocando pneu que conheci e passei a entender as lágrimas dos filhos e das filhas dos ex-ferroviários da extinta Estrada de Ferro Bahia-Minas pela Ditadura Militar. As lágrimas de Benedita, do meu grande amigo escritor Jaime Gomes, Betinho Millard e de Antonio Simões(filho do saudoso ferroviário Olegário Simões). Meu amigo Toni Simões, do antigo colégio São José, do futebol e de encontros amigos ao lado de sua casa, perto do pontilhão no Bairro Palmeiras.
Foi tocando pneu que senti o prejuízo social causado pela extinção da Estrada de Ferro Bahia-Minas, o que gerou a decadência econômica de Teófilo Otoni e de várias cidades dos Vales do Mucuri e Jequitinhonha, ocasionando desemprego e miséria quase absoluta na nossa região.
Foi tocando pneu pelos becos e ruelas dos queridos vilarejos do Subaco-Fedendo e Cata-Quiabo que descobri a pior miséria do mundo: a omissão dos governos públicos em todas as esferas na assistência aos mais carentes e marginalizados da sociedade.
Foi tocando pneu que descobri o quanto foi importante a conscientização das massas oprimidas por parte do meu pai Tim Garrocho; e, junto com meus velhos companheiros da Vila Verônica, sentíamos nos peitos esqueléticos uma leve brisa com cheiro de liberdade e democracia, num futuro próximo.
Discretamente, na minha conscientização política precoce, eu pedia ao Deus do Universo que aquela brisa suavizasse o sofrimento e as torturas aos quais, nos porões da Ditadura Militar, meu pai Tim Garrocho estava sendo submetido.
terça-feira, 20 de abril de 2010
Dia das crianças
O relógio da igreja matriz em Teófilo Otoni marcava dez horas. A praça Tiradentes, linda e típica de cidade do interior, estava repleta de crianças. Afinal, aquele era o dia delas: 12 de outubro.
Alheio aos gritos e algazarra das crianças, meia dúzia de idosos jogavam damas. Em outro banco da praça, um casal de jovens trocava juras de amor. Sorridente e feliz com a "paz da pracinha", o simpático e popular Gaitan, proprietário da banca de revistas, cantarolava " A banda" de Chico Buarque.
Pessoalmente, sempre achei que todo dia é dia das crianças. Penso que criança não guarda datas e sim boas lembranças. Eu, por exemplo, guardo boas lembranças de banhos em rios e jogos de futebol. Não guardo boas lembranças de jogos com bolinhas de gude. Eu era péssimo jogador e tomava muito cascudo dos meninos mais fortes fisicamente.
A lembrança dos cascudos em minha cabeça, leva-me a acreditar que nenhuma criança gosta de ser castigada fisicamente. Seja em casa, na rua, na escola, criança gosta mesmo é de carinho. Engana-se quem pensa que a criança esquece do agressor. Perdoar sim, a criança tem o dom de perdoar. Não foi por acaso que o mestre Jesus disse: " Deixai vir a mim as criancinhas, delas é o reino dos céus".
Façamos então como Gaitan, o antigo dono da banca de jornais na Praça Tiradentes em Teófilo Otoni e cantarolemos juntos em homenagem aos anjos que sabem perdoar: " Estava à toa na vida, o meu amor me chamou prá ver a banda passar, tocando coisas de amor". Antes que eu esqueça, pergunto: Há quanto tempo você não escuta a banda cantando coisas de amor em seu coração?
Autor: Téo Garrocho- * Texto dedicado a todas as crianças dos Vales do Mucuri e Jequitinhonha em Minas Gerais. Barbacena, 20/04/2010