Antigamente ali era conhecido por Beira da Linha, porque os trens da Estrada de Ferro Bahia-Minas passavam por ali. Hoje é a Rua Engenheiro Argolo. Ali nasceu meu pai. Ali, junto à Rua do Arrasta-Couro e o Barro Branco, praticamente, vivi grande parte da minha infância e juventude nas casas de minha avó Inês e minhas tias Dilma e Wilma. Ali conheci muitos homens inteligentes e conversei com muitos deles. Um deles era Nestor Medina.
Assim como meu pai, Nestor Medina era um ex-ferroviário e tinha um pequeno comércio naquela região. Pai de muitos filhos, se não me engano eram nove. Também como meu pai, Nestor Medina foi perseguido e preso pela ditadura militar. Perguntado por um oficial do exército se ele era o chefe do Grupo dos Onze em Teófilo Otoni, ele-com sua forte personalidade-respondeu:"Sou, sou chefe de onze: eu, minha mulher e meus nove filhos".
Nunca me esqueço do Nestor Medina e do seu comércio na antiga beira da linha, próximo ao salão de barbearia do João Fonseca. Eu cortei muito cabelo ali, no estilo"Principe Danilo". Sentado naquelas velhas cadeiras, escutava os rumores do povo e as idéias socialistas do Nestor Medina, do meu pai Tim Garrocho e de vários amigos que ali faziam parada para um "dedinho de prosa", a exemplo de Alfredinho Ferroviário, meu tio Amadeu Onofre, Seo Arruda e muitos outros. Ali próximo, consegui com João Batista Míglio (Batistinha) o meu primeiro livro considerado subversivo naquela época, "O Mundo da Paz", de Jorge Amado.
Na época da ditadura militar, mesmo com a repressão agindo, os homens da beira da linha sempre estavam em grupo, debatendo a situação do Brasil e tentando, de alguma forma, desestabilizar o regime militar.
A verdadeira história de Teófilo Otoni haverá de reservar um lugar especial para esses valorosos homens como Nestor Medina e muitos ferroviários que, em pequenas células da Política Operária (POLOP), com reuniões no antigo Hotel dos Ferroviários( de RobertoInácio), situado na antiga Rua do Arrasta Couro, realizaram movimentos que abalaram as elites da época.
Autor: Téo Garrocho- *Texto do livro "Retalhos da Tortura", do autor. Páginas 105 e 106. Livro editado em 2006.
0 comentários:
Postar um comentário