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domingo, 11 de julho de 2010

JOAQUIM CALÇA CURTA

Tercila, moradora do Vale do Jequitinhonha, escreve-me. Há muito tempo não tinha noticias de Tercila. Escreve-me contando que seu filho Joaquim "está no ponto" de viajar para São Paulo e fazer parte do "exército" de cortadores de cana na região de Piracicaba.
Diz Tercila que o "gato", apelido dado ao intermediário das contratações de trabalhadores no Vale do Jequitinhonha, já fichou Joaquim. Ele," não vê a hora" de partir para São Paulo e realizar um velho sonho de criança numa terra tão esquecida pelos poderes públicos.
Conheci Joaquim quando ainda era criança. Lembro-me do mesmo chupando mangas e correndo atrás dos bodes que seu avô Mané Pelado, pai de Tercila, criava aos montes. Como todo menino do Vale do Jequitinhonha, Joaquim tinha o olhar desconfiado, meio triste, vago, sem esperança.
A última vez que encontrei Joaquim, tinha ele uns quinze anos. Comia num prato, farofa com torresmo. Tercila sempre dizia que torresmo dava "sustança" para que Joaquim ficasse forte e aguentasse com firmeza o podão ou facão no corte de cana.
Tercila, no final da carta, diz que Joaquim tem sonhos imediatos. O primeiro é colocar um par de dentaduras. O segundo é comprar uma calça Jeans comprida. Segundo ela, Joaquim não aguenta mais ser chamado de Joaquim calça curta.


Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho. (Téo Garrocho). Membro correspondente da Academia de Letras de Teófilo Otoni-MG. Autor do Livro Retalhos da Tortura, editado em 2006.

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