Aqui em Teófilo Otoni está fazendo um calor de fazer inveja ao inferno e ao mais saltitante dos capetas que, para alguns, pode ser o Demo, Rabudo, Malígno ou Chifrudo. Ainda prefiro o termo Capeta que me faz lembrar do Waltinho, meu amigo contestador de juventude.
Se chovia, dizia ele que foram um ralos pingos. Se esquentava demais, dizia que nem tanto, se fazia frio ele andava sem camisa pelo bairro. Decididamente era contrário a tudo.
Waltinho era filho de um ex. preso político das décadas de sessenta e setenta. Dizem que herdou do pai as contestações e a vida polêmica. Junto com o pai combateu a ditadura militar e segundo ele mesmo afirmava: "Nunca me dobrei aos poderosos e bajuladores do regime de opressão".
Há mais de quarenta anos não via o Waltinho. Pensava até que o mesmo já havia morrido ou sido morto nos porões da tortura do regime militar. Porões como os de hoje no precário sistema carcerário brasileiro onde "filho geme e mãe não escuta".
Para minha surpresa e alegria encontrei o Waltinho "polêmico" ali na subida do morro do Bispo próximo ao antigo Armazem Friaça e ao lado da casa do saudoso Sr. Joaquim Duarte, criador e matador de porcos, respeitado àquela época.
Waltinho diz que está "beirando" os sessenta anos. Os olhos triste, cabelos ralos e grisálhos dão-lhe aparência de mais idade. Segundo ele ainda não tem netos. Tem três filhos e diz que "casou velho" após sentir a queda do regime militar. Nervoso e gesticulando muito, Waltinho grita em alto e bom som: "Ditadura militar e torturadores nunca mais nesta pátria".
Pergunto ao Waltinho sua opinião sobre o Brasil atual, sobre a politica brasileira e seus políticos, sobre o mundo, sobre a juventude atual. Sem muito alarde, Waltinho mansamente me diz: " Olha Téo, assim como você, sou um homem decepcionado. Ainda que com alguns avanços, ainda somos uma nação pobre, submissa. Uma nação ainda presa ao império".
A gente se despede e Waltinho assobia uma música que me faz correr lágrimas: "...ando devagar porque já tive pressa..."
Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)-Texto dedicado a todos aqueles que ainda sonham com uma pátria mais justa. igualitária e fraterna.
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