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quarta-feira, 21 de março de 2012

OS PIRILAMPOS DA MINHA INFÂNCIA

Até certa época da minha infância eu fui muito feliz. Eu tinha um boneco tipo um palhaço que me encantava. Achava engraçado o cabelo colorido do palhaço e seu nariz avermelhado. Eu não desgrudava daquele palhaçinho.
Um tempo depois já com meus doze anos, veio a ditadura militar no Brasil e tudo mudou na minha infância. Perdi o palhaço que tanto amava, perdi o brilho dos olhos, perdi a vontade de acordar e admirar um novo dia, perdi a alegria de brincar e foi nesta época que comecei a sentir a palavra medo...
Mas, na minha inocência e pureza de sentimentos, eu já me perguntava de onde vinha aquele medo? Afinal, o que era medo? Onde estavam meus pais? Onde estava minha família? O que foi feito dos meus amigos que "sumiram" da nossa casa? Onde foi parar o palhaço que me fazia feliz?
Aquele palhaço se "incorporou" em mim. Eu passava nas ruas e sentia risos e chacotas. Eu me sentia num picadeiro de um circo chamado mundo. Um mundo que não quis e não sonhei. Um mundo de maldades, atrocidades, perseguições, tortura, discriminação. A ditadura militar no Brasil transformou nossa família em palhaços e nosso pai em palhaço torturado nos porões das suas atrocidades.
Hoje, principalmente á noite nas madrugadas frias de Barbacena e sozinho no meu quarto onde tenho retratos de Che, Raul Seixas, Ellis Regina, Wandré, Lula e Dilma Guerrilheira, eu já não sinto tanto medo. Vez ou outra na escuridão do quarto surge uma luz aqui e acolá. Sinto que estou encontrando novamente a "duras penas" a alegria de viver.
Meu filho mais novo que ainda sorri com palhacinhos de cabelos coloridos e nariz avermelhado, disse para mim que a luz que sinto aqui e acolá nos meus pensamentos são os pirilampos que não observei na minha infância tão ofuscada pelos desencontros.


Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado a Hélio Rabelo, Marcelo Rubens Paiva, Nilmário Miranda, Jorge Medina e Irmãos, que assim como eu, são filhos de Ex. presos políticos torturados pela ditadura militar no Brasil. Barbacena, 21/03/2012.

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