Naquele cruzamento entre a Rua João Antonio e Frei Gonzaga, encontrei com meu velho amigo Serafim dos Anjos. Eu e Serafim fomos colegas no antigo Orfanato Coração de Jesus, onde hoje funciona uma Faculdade em Teófilo Otoni. Serafim era muito falador da vida alheia e muita gente dizia que quando ele abria a boca, "cuspia fogo".
Serafim deve ter a mesma idade minha, ou seja, deve estar chegando aos sessenta anos. Observo que Serafim parece sofrer com depressão. Olhar triste, muitas rugas no rosto, magro e cabisbaixo. Muitos amigos meus sofrem com depressão. Alguns já me confessaram ter essa tal depressão. Geralmente, aqueles banquinhos de praças públicas são ideais para confissões do sofrimento humano.
Não sou psiquiatra, mas, fico na minha simplicidade de intelecto, matutando o que leva o sujeito a sofrer tanto. Existem religiosos que dizem "ser o desejo material, a razão do sofrimento humano", outros dizem ser falta de Deus e outros mais dizem ser obra do maligno, rabudo, chifrudo e por ai vai.
Serafim, sentado ao meu lado, naquelas velhas escadarias da Rua Frei Gonzaga, diz que chegou á conclusão que "é um fracassado". Diz ainda que "não tem capital, perdeu a mulher para outro e sua única alegria é uma filha que se casou com um pedrista comprador e vendedor de esmeralda, uma pedra preciosa caríssima". Segundo ele, a filha ajuda-o com uma pequena mesada de cinquenta reais. " Dá para comprar cem gramas de fumo de rolo e um litro de pinga". Ele diz que bebe socialmente, uma antes do almoço e uma á noite para relaxar.
Confesso que achei uma miséria a mesada que recebe da filha. É bem provável que o genro pedrista forte não esteja sabendo da "mão de vaca" da sua esposa. Serafim diz que "está conformado" e é o "destino", "estava escrito", " foi Deus quem quis" e ponto final. Ele não quer mais polêmica com ninguém. Diz que "sua língua cansou".
Ali, nos despedimos e cada um seguiu seu caminho. Ao passar em frente á Praça Tiradentes, avistei uma multidão que batia palmas, muitas palmas para um artista popular de rua que "cuspia fogo de verdade pela boca". A língua cansada de Serafim de tanto caluniar as pessoas, deve ter tido ciúmes...
Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado ao meu amigo José Alfredo Brandão, grande poeta e escritor de Teófilo Otoni-MG- Em 17/07/2012, Barbacena-MG.
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