Tinha passado em todos os testes. Bastou um sorriso na entrevista para ser reprovado. segundo o entrevistador, Jacó tinha um dente preto. Foi um desespero para Jacó que via naquele emprego a oportunidade de dias melhores.
Jacó alegou que aquele preto que o entrevistador viu no seu dente não era cárie e provavelmente seria uma casquinha de feijão esquecida por não ter escovado os dentes. Não houve consenso. Jacó enfiou a unha, cutucou daqui e dali, tentou e não deu certo. Parecia aquelas casquinhas de piruá oriundas de milho de pipoca. Quando grudam na gengiva, não saem fácil.
Jacó apelou para um palitinho de fósforo. Piorou quando a ponta do palito furou sua gengiva e sangrou. Misturou o preto do dente com o sangue vermelho. O entrevistador era vascaíno, detestava rubro negro. Como não houve acordo, Jacó não conseguiu o tão almejado trabalho. Ficou para outra oportunidade.
Jacó estava indignado. Na verdade aquilo não era casquinha de feijão. Jacó lembrou que havia chupado umas jabuticabas, horas antes da entrevista. As jabuticabas foram doadas pelo seu tio Zé Cachorro e alguma casquinha ficou grudada. Para piorar, no dente da frente. "Maldito tio Zé Cachorro", esbravejava Jacó, " malditas jabuticabas", gritava com ódio no coração.
Mas, ao contrário do que pensou, seu tio Zé Cachorro era uma benção de pessoa. Homem amável, caridoso e fraterno. O apelido veio justamente por fazer o bem em retirar das ruas os cachorros abandonados e dar-lhes abrigo, comida e carinho ali pelas bandas do pacato Bairro das Palmeiras em Teófilo Otoni, onde por sinal reside meu bom amigo de futebol e juventude, o professor Isaías Lemos.
Como tudo passa, uma semana depois, Jacó foi chamado para outra oportunidade de trabalho. Passou nos testes novamente e na entrevista não sorriu. Jacó fez cara de mau, de homem "macho" e bravo. Assim, Jacó foi reprovado. Questionou daqui, questionou dali e recebeu como resposta do entrevistador: " Olha senhor Jacó. o senhor tem que mirar no exemplo do seu tio Zé Cachorro que vive sorrindo e tem amor no coração. Este emprego é para ajudar na criação de crianças abandonadas e com este rosto tão sisudo, o senhor não vai levar alegria e felicidade ás crianças".
Assim, Jacó saiu dali decidido a mudar sua postura diante da vida. Tudo indica que Jacó entendeu que não devemos fixar nossos problemas e pensamentos numa simples casquinha de feijão ou jabuticaba "da vida". Existem coisas maiores e mais edificantes como o amor de seu tio Zé Cachorro pelos animais abandonados.
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