Otavinho pedreiro era um homem baixinho, mas, de uma sábia arte na construção civil. Ele tinha uma turma de homens que trabalhavam junto com ele. Se não me engano, Otavinho era chamado de mestre de obras pelos operários que trabalhavam com ele. Otavinho construía um tipo de casa com duas ou três janelas laterais nos lados esquerdo e direito. A entrada ou frente tinha apenas uma grande janela e ao lado uma varandinha semi aberta com pequeno portão de entrada, além de uma escada com poucos degraus.
Àquela época, os pisos eram feitos à base de cimento e logo após usavam um tipo de produto chamado xadrez que tanto podia ser na cor verde, vermelho ou amarelo. Aquele tipo de piso era luxo para a época e brilhava muito quando passavam cera relativa á cor. O brilho era conseguido com muito esforço através do antigo escovão, tendo em vista que raríssimas pessoas ou quase ninguém possuía uma enceradeira elétrica.
Otavinho pedreiro, assim como a classe operária, fizeram e fazem parte das minha lembranças de juventude, lembranças dos seus abnegados operários, lembranças do seu estilo de construção e lembranças das pipas. Sim, das pipas que alguns dos meus amigos filhos dos proprietários daquele modelo de casa, as vendiam penduradas nas sacadas das varandinhas. Eu passava pelas ruas e me encantava com as pipas de várias cores que proporcionavam aos meus olhos uma alegria imensa.
As pipas sempre tocaram em meus pensamentos. Elas sempre avivaram o sentimento de liberdade em minha vida que se fortaleceu mais ainda quando a ditadura militar e seus algozes prenderam meu pai e o torturaram nos porões da tal "redentora" que atendia unicamente a religiosos conservadores e um tal império chamado de Estados Unidos da América. Assim, quando eu perdia uma pipa, eu não sentia tristeza porque eu sabia que outro menino teria a liberdade nas mãos ao encontrá-la no topo de uma árvore ou em algum quintal da vida.
É bem provável que, assim como disse Paulo Ribeiro, sobre o imortal Darci Ribeiro, eu seja também um "passageiro da utopia", pois grande parte da minha vida foi de sonhos e tive até uma namorada que falou para mim que eu "vivia no mundo da lua". Alguns sonhos bem simples consegui realizar e a maioria foi um fracasso, uma utopia, uma "derrota" da minha parte para os que nunca acreditaram em mim e nem preciso enumerar tanto sonho bom que tive para o povo brasileiro. Penso que a minha utopia e politização veio muito precocemente e assim me perdi numa pátria para poucos onde há mais de 500 anos são basicamente os mesmos (de pai para filho, netos, bisnetos...) embalados e enebriados pelo poder, ganância de lucros financeiros, riquezas materiais, ostentação e vaidade, egoísmo, prepotência, discriminação.Toda esta vergonha juntada á corrupção e o mais degradante: se dobrar aos poderosos, ao neo império que significa tudo relatado antes e tem a mania de meter "o dedo" naquilo ou no que não lhe lhe convém como se a América Latina e o resto do mundo tivesse que se dobrar aos seus pés. Sim, não WE, nós podemos!
Ai, eu relembro do Otavinho pedreiro, dos operários e das pipas. Ai, eu relembro dos inúmeros quintais onde elas caíram e levaram não só os meus sentimentos de liberdade. Ai, eu me lembro que fui mesmo um "passageiro da utopia" com muita dignidade e me orgulho de ter sido. Ai, eu me lembro que estão neste momento batendo à minha porta e para minha surpresa na terceira idade, é um menino como eu há muitos anos atrás na minha infância juvenil que diz: Seo Téo, Posso pegar a minha pipa que caiu no quintal do senhor? Resumindo. a liberdade não tem idade e nem preço!!!
Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho-(Téo Garrocho)- Texto dedicado ao jovem vereador Thales, do Partido dos Trabalhadores em Teófilo Otoni-MG- Em 27/07/2013, Barbacena-MG.
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