Tinha fama de benzedor e curandeiro. Naquela região era Deus no céu e belarmino na terra. Ganhou fama com apelido de Belô curandeiro. Nasceu e foi criado no meio de miseráveis de espirito e matéria abandonados á própria sorte pelos mais abastados. Belô, como a maioria, era caboclo comedor de torresmo, pirão e canjiquinha. Belô, que tinha raízes no Vale do Jequitinhonha, tinha fama também de roedor de pequi. Dizia sempre que adorava beber pinga. Dizia também que não bebia socialmente. Achava o termo muito elitizado e usado pelos bacanas da vida para disfarçar o vício.da manguaça.
O apelido Belô ganhou dos avós Nica e Fulô. Irreverente, Belô usava roupas extravagantes para o cotidiano da região, alem de vários penduricalhos pelo pescoço e tórax. Medalhinhas desde a santa de Aparecida ao neófito santo Frei Galvão. Para todos os santos de sua fé, Belô tinha uma história para contar ao povo de sua terra. Segundo ele, em suas orações o novo santo Frei Galvão havia curado um menino que pegou inflamação e febre após a retirada de 22 bichos de pé ou porco lá pelas bandas de Ribeirão das Almas, pequeno povoado entre Novo Cruzeiro e Araçuaí.
Segundo Belô, " a febre só baixou após uma semana de reza do terço e pedidos ao Frei Galvão". Assim, Belô criou prestígio. Até mesmo o velho padre Curió evitava criticar ou atacar as crendices do curandeiro. Afinal, Belô não atrapalhava a igreja do padre Curió que tinha o hábito de estar sempre alisando a vasta barba branca com manchas de nicotina, tendo em vista que padre Curió era chegado a um fumo de rolo muito apreciado naquela região.
Tudo ia dando certo até a chegada de um tal pastor Josias que fincou bandeira e doutrina no chamado território de Belô e padre Curió. Ai, Belô começou a "comer o pão que o diabo amassou" nas garras afiadas da língua do pastor Josias que a pretexto de converter o rebanho, espalhou que Belô tinha parte com o peludo e vermelho Demo, ou rabudo como queiram.
Acuado, Belô pediu proteção a todos os santos. Desde os mais requisitados até os menos invocados pelos fieis da igreja católica. Não faltaram promessas a São Benedito, São Cristovão, São João, São Pedro até chegar aos mais novos como Frei Galvão e a beata Inhá Chica.Experiente no trato com as massas populares, Belô foi mais longe e após uma viagem de romaria a Aparecida do Norte, trouxe centenas de medalhinhas, crucifixos, escapulários. Inspirado pela fé católica, construiu no terreiro da sua modesta moradia, uma pequena gruta de orações. Todos que ali passavam se benziam e pediam proteção de todos os santos, além de ganhar do velho Belô uma medalhinha milagrosa e um sonoro "vai com Deus e Nossa Senhora".
Foi ai que, para alegria do padre Curió e Belô, o pastor Josias sentiu que seus planos começaram a fracassar e "sua" doutrina perdeu terreno. Seus dizimistas já não contribuíam com os dez por cento e os bancos da sua igreja foram ficando vazios. "Um gato pingado alí, outro acolá..", comentava padre Curió em visita á casa de Belô, onde não faltava boa pinguinha da roça e o bom fumo de rolo de Araçuaí que padre Curió baforava meditando.
Pois bem, pastor Josias arrumou "as malas parecidas com ele" e foi pregar "sua" doutrina lá pelos montes do Estado de Roraima. Ao passar perto do quintal de Belô, parou em frente á gruta dos santos e fez um gesto de negação, indignação. Foi ai que Belô e padre Curió saíram á porta e juntos disseram: "vai com Deus e Nossa Senhora, pastor Josias", que, esporando o cavalo, nunca mais olhou para trás.
Belô tomou mais uma pinguinha e padre Curió preparou outro bazé de "fumo bão" da terrinha. Enfim sós!!!
Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho-(Téo Garrocho)- Texto dedicado a Dona Nirinha do Distrito de Engenheiro Schnoor, Município de Araçuaí-MG. Dona Nirinha, uma guerreira pela fé católica e cristã naquele Distrito de Schnoor. Em 01/08/2013- Barbacena-MG
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