Sim, o mundo é assim. Pensava o aposentado Malaquias debruçado na janela do seu barraco, enquanto lá fora chovia sem parar. Toda vez que chovia forte sem parar, Malaquias tinha costume de debruçar sobre a janela e pensar. E Malaquias pensava, pensava, pensava...
Enquanto Malaquias pensava, vez ou outra, passava alguém na rua. Um barro vermelho já preocupava, tendo em vista que toda vez que chovia muito, as pessoas que estavam em cima do morro não desciam e as que estavam em baixo não subiam. Ora, pensava Malaquias, se naquela região chovesse durante um mês, os de baixo não subiriam tão cedo e os de cima não desceriam tão cedo. Assim, aquela região sofreria situações complicadas e acabou acontecendo.
Na região de baixo moravam pessoas mais estáveis financeiramente que tinham de tudo materialmente, mas ,segundo elas, viviam muito solitárias, além de dependerem das pessoas de cima que segundo elas viviam felizes apesar das carências materiais. Os de baixo tinham contas correntes milionárias e até cofres camuflados em paredes com segredos que só eles sabiam. Da turma de cima só Deus sabia. Só Deus...
E Malaquias ficou ali um mês pensando. Em cima ninguém descia e em baixo ninguém subia até que a chuva deu uma trégua e parou. Assim também Malaquias parou de pensar. Então, um passarinho passou voando, o galo de dona Efigênia voltou a cantar, o cachorro do senhor Zequinha voltou a latir e dona Candinha tentava andar pelos cantos da rua barrenta de cor vermelha.
Malaquias foi até a sala e contou para Tuninha que o mundo é assim: "Um depende do outro e ninguém consegue viver só. Os estáveis financeiramente também sofrem e se igualam aos menos estáveis financeiramente. Na dor os opostos se juntam, se unem. Na dor, sofre mais quem vive só e para saber o segredo de tudo só Deus, que sabe até o segredo do cofre. O cofre da sabedoria!!!".
Assim, Malaquias que ficou ali um mês pensando, alisa a cabeça do seu velho cachorro Bobi Ringo enquanto calça um velho sapato preto e resolve sair. Antes, passa na cozinha, come duas bananas caturra e bebe um copo com café e leite. A mulher Tuninha que tricotava uma touca de lã, ao vê-lo saindo, avisa em voz alta: " Cuidado meu velho para você não se perder no mundo".
O pensador Malaquias já está aprendendo a senha do segredo do cofre da sabedoria onde está escrito que o princípio de tudo é o temor a Deus, um ser superior. Feliz com tudo, o amigo cachorro Bobi Ringo abana o cabo e se despede de Malaquias que desce o morro pelos cantos da rua barrenta de cor vermelha, assim como dona Candinha e vai ao encontro da turma de baixo que ainda sofre por não conhecer o segredo da verdadeira sabedoria.
Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho (Téo Garrocho)- Texto dedicado ao meu amigo Magno Siqueira(Maguinho), empresário e fazendeiro em Araçuaí-MG. Em 26/08/2013, Barbacena-MG.
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