O senhor Juvenal trabalha há muitos anos na função de porteiro em um condomínio em Teófilo Otoni. Juvenal está próximo da sua aposentadoria e confessa que já não tem ânimo e o mesmo vigor de antes para o trabalho que executa no horário noturno. Juvenal confessa que de uns tempos para cá, "a saudade da cama à noite tem se tornado incontrolável". A verdade é que Juvenal precisa aposentar e segundo ele "tá na hora de pendurar as chuteiras" e oferecer a vaga para um mais novo. Juvenal acredita que tudo na vida precisa se renovar e " A vida é assim mesmo, Deus trabalhou seis dias e descansou no sétimo", completa Juvenal meio abatido como se fosse um boi a caminho do matadouro ou um moribundo visualizando entre nuvens a porta do Laborum Meta ou cemitério como queiram.
Sempre que passo ali pelas bandas do Bairro Marajoara, gosto de trocar um dedinho de prosa com senhor Juvenal que ficou meu amigo a partir do momento que dei atenção a ele com seus mais de sessenta anos e em silêncio escuto suas estórias e histórias de vida. Senhor Juvenal diz que gostou de mim a a partir do momento em que dei atenção a um idoso. Segundo ele, " O idoso é muito esquecido no Brasil e precisa ser olhado com mais carinho". Tenho convicção que o Juvenal porteiro é mesmo um filósofo, um observador nato de todos os movimentos da vida com uma ética de fazer inveja a muito homem diplomado em Universidade. Admirado com meu novo amigo, passo pela portaria do prédio onde trabalha e faço questão de escutá-lo. Assim aprendo um pouco mais sobre a sabedoria popular e seus inúmeros tipos que tanto engrandecem a cultura no Brasil.
Certa noite, ele convidou-me a conhecer seu ambiente de trabalho. Ele disse que são raros os que ele deixa adentrar ali. Segundo ele, "por motivo de segurança". " Não importa se ganho pouco ou muito. Preciso cumprir minha obrigação com meu patrão que tem sido justo comigo e...quem é honesto no pouco é honesto no muito", completa Juvenal que me encanta com sua tão decantada honestidade e transparência em uma pátria de inúmeros políticos que roubam o dinheiro publico.
O ambiente de trabalho é simples assim como o ocupante do horário noturno. Senhor Juvenal tem um pequeno rádio portátil e uma televisão. Segundo ele, os dois aparelhos trazem muita informação para que ele possa saber o que está acontecendo no mundo atual. Segundo Juvenal, ele gosta muito de documentários que falam de história passadas. Segundo ele, são maravilhosas as histórias dos Incas, Maias, Astecas, além das histórias de outros países milenares. Ele gosta de falar sobre a Revolução Francesa e sente emocionado quando escuta o hino francês que em certo momento diz: "Vamos filhos da pátria, o dia de glória chegou...".
Senhor Juvenal possui um rico vocabulário que às vezes se mistura com um linguajar simples de homem do semiárido mineiro. Pode-se afirmar que o mesmo é um autodidata. Pelas palavras e argumentos conclui-se que o Senhor Juvenal "entende superficialmente" da teoria de Marx e analisa em sua simplicidade de entendimento as vantagens e desvantagens do Capitalismo, Socialismo, Monarquia, Parlamentarismo, Comunismo e muitos outros "ismos".
Em relação a Teófilo Otoni, ele em sua simplicidade de análise, diz que a mesmice na política é muito visível e "é bem provável que o ciclo da mesmice esteja no final". "Deus permita e o povo conscientize que já passou da hora de mudar a mentalidade e criar novas lideranças numa terra onde é comum escutar que "fulano rouba, mas faz". Ou a famosa e antiga citação que em Teófilo Otoni "tem cabeça de burro enterrada e nada vai para frente".
Assim como o senhor Juvenal, eu também observo a política de Teófilo Otoni e da minha pátria. Confesso que sinto vergonha de ver que em Teófilo Otoni e em minha pátria existem políticos que são profissionais no engôdo ao povo. Este mesmo povo a exemplo de Juvenal porteiro que põe a cabeça no travesseiro e pensa: "será que minha cabeça é de burro e foi enterrada lá na praça Tiradentes de Teófilo Otoni?". Então, está na hora de acordar após décadas de desmandos e enganação. Que tal o povo da cidade do amor fraterno mandar a turma de mequetrefes corruptos fazer figuração no programa Zorra Total onde tem um "esperto" (como em Teófilo Otoni) em política com p minúsculo que fala: "Meu negócio é por trás". Cruz credo, cruz credo...
Qualquer noite vou visitar o senhor Juvenal. Tenho sentido sua falta. Quero analisar junto com ele os movimentos sociais que estão acontecendo na tão falada pátria de todos. Até os velhos estilingues e bolinhas de gude voltaram a ser referência e vendidos nos atos de protesto. Lembro que já participei de passeata contra a ditadura militar e soltei um saco daquelas bolinhas de gude nas ruas. Tarefa cumprida e não me arrependo. Afinal, ditadura e corrupção só se combate com povo nas ruas. Espero e acredito que o porteiro Juvenal participará dos protestos que virão em breve. Não foi a toa que observei um velho estilingue preso ao seu velho cinto e matar passarinho ele nunca matou, sempre foi um amante da natureza, da terra, da pátria.
Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho( Téo Garrocho)- Texto dedicado á jovem Wilmeia Garrocho Noronha, minha querida sobrinha e professora em Teófilo Otoni-MG- Em 23/08/2013, Barbacena-MG.
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