Mustafá, um verdadeiro muquirana, tinha ficado viúvo há um ano. Dona Sofia "bateu as botas" e deixou Mustafá, um descendente de libaneses numa situação complicada. Dona Sofia fazia de tudo: Lavava, passava, cozinhava, arrumava e á noite tinha ainda que ter fôlego para atender Mustafá na cama. Assim, no batidão de vida(?) que levava, Dona Sofia não resistiu e se foi para o cemitério que ficava ali pertinho. "A pobrezinha descansou", dizia a amiga Dona Filó que através da janela conhecia e sabia da vida de todo mundo na turbulenta região da Vila dos Carrapatos encravada entre as antigas favelas do Subaco Fedendo e Cataquiabo em Teófilo Otoni. Carrapatos eram comuns, diziam os moradores mais antigos, tendo em vista que um senhor de nome Tibúrcio criava mais de trinta cachorros por aquelas bandas.
Dona Filó, aquela que sabia de tudo através da janela, retrucava e dizia que ali era conhecido por Vila dos Carrapatos "devido á falta de banho, higiene e limpeza pessoal dos moradores". "Tem gente que toma banho uma vez por mês e põe culpa nos carrapatos". Certa ou não, a língua afiada de Dona Filó tinha algum fundamento tendo em vista que nasci praticamente na região do Subaco Fedendo e já presenciei in loco muita gente sem um pingo de água antigamente. Tomar banho era luxo..., mas tinha pertinho a Lagoa da Alegria e Rio de Santo Marcolino atrás da igrejinha de Nossa Senhora dos Pobres.
Mustafá, um mão de vaca, era daquela região onde o judas perdeu as botas ou de uma região onde inúmeros prefeitos perderam as botas de tanto ir ali de quatro em quatro anos fazer promessas em época de eleições. Aquelas promessas não cumpridas levaram o povo a juntar ovos podres para tacar nos políticos e colocou muito político branco e negro para correr com botas ou sem botas cuspindo marimbondos. Pedrinho jacaré, um ativista social que morava por aquelas bandas era exímio na pontaria, mas ele sempre jurou de pés juntos que ele não foi o atirador de ovo da tropa dos excluídos na tropa da elite de Teófilo Otoni.
Viúvo e meditabundo pelos cantos, Mustafá andava de cabeça baixa até que de uma hora para outra resolveu arrumar uma nova costela para substituir Dona Sofia, a falecida. Seguindo conselhos do Waldemar, amigo de copo, que tinha um cabaré de mulheres assanhadas conhecido por "Cabaré do Bigodeira", Mustafá passou a frequentar o prostíbulo onde a mulherada era bem chegada a um forró tipo relabucho todas santas noites. Era tanta mulher que Mustafá acabou arrumando duas e assim, dito e feito, a desgraça caiu na vida do infeliz que o levou até a acreditar que foi macumba que fizeram para ele ou então olho gordo e mau olhado de Dona Filó. Aquela, aquela da janela.
Diferentes de Dona Sofia, a mulher de verdade, as duas novas mulheres de Mustafá em pouco tempo tomaram tudo que ele possuía. Uma casa, dois barracões de aluguel, trinta porcos criados num chiqueiro ao fundo da casa, três relógios folheados de algibeira, duas alianças de ouro(uma da falecida), dois escapulários de prata pura do menino Jesus de Praga e grande quantidade de dinheiro em espécie que ele guardava embaixo dos colchões.
Dona Filó, aquela da janela e da língua afiada via Mustafá andando feito um mendigo pelas ruelas da Vila dos Carrapatos e relembrava da amiga Dona Sofia com uma citação bíblica que diz: " A mulher sábia edifica seu lar". Língua afiada ou não, Dona Filó tinha razão. Tem homens que só valorizam as mulheres de verdade quando as perdem.
Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado á Dona Didinha, minha inesquecível professora no Colégio Estadual em Teófilo Otoni-MG. Em 17/09/2013, Barbacena-MG.
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