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quinta-feira, 10 de outubro de 2013

SUBACO FEDENDO NA UNIVERSIDADE DE TEÓFILO OTONI

Dona Maria Ferreira, mais conhecida por Maria Rabo de Galo acorda ás cinco horas da manhã. Segundo ela que já está com mais de sessenta anos, a rotina do horário é a mesma desde o tempo do seu saudoso marido Vicente que faleceu há cinco anos atrás. Vicente era chapa, uma espécie de profissão do trabalho que denominava aqueles homens que ficam nos trevos das entradas da cidade esperando que algum caminhoneiro lhes deem trabalho de descarregar as cargas dos caminhões.
Sempre que passo por aqueles trevos, sinto a lembrança da antiga favela do Subaco Fedendo em Teófilo Otoni que hoje é oficialmente conhecida por Vila Progresso. Daquele morro desciam em todas as manhãs um batalhão de trabalhadores de várias profissões. Antigamente muitos eram conhecidos por biscateiros. O biscateiro era o trabalhador que aceitava qualquer tipo de serviço que aparecia e assim o ajudava na luta pela sobrevivência.
Eram muitos, rachador de lenha, lavadoras de túmulos no cemitério municipal, engraxates, pegadores de frete na feira, parteiras de crianças, benzedores(as), curandeiros(as), amoladores de facas e tesouras, limpadores de quintais, lavadeiras de roupas e muitos outros naquele universo de excluídos numa terra onde há tempos atrás era comum alguém perguntar: "De qual família você é?".
Lembro como se fosse hoje que a tal pergunta me foi feita certa vez em uma festa no centro de Teófilo Otoni por uma certa pessoa elitizada. Respondi que eu era filho da família dos pobres e excluídos de Teófilo Otoni. Parece que a tal pessoa não gostou e perguntou a outro alguém elitizado quem era aquele cabeludo. O outro alguém disse que eu era filho do Tim Garrocho, " Aquele, aquele comunista lá dos lados do Subaco Fedendo". Então, a tal pessoa elitizada entendeu a minha resposta e passei a ser uma "pesona non grata" na sua festa. Confesso que não me abalei, tendo em vista que passei por centenas daquelas situações na minha juventude. Os motivos, todos que conhecem a história do meu pai, já sabem.
Fatos como o relatado só serviram para nosso engrandecimento espiritual e cultural. Quanto mais "batiam" na nossa família, mais crescíamos lendo diversos tipos de literatura, jornais que meu pai trazia e deixava em cima das nossas camas, além de contatos com pessoas inteligentíssimas e amigas do meu pai em sua luta pelo socialismo. Relembrando o poeta Tiago de Melo, " Nós podemos nos olhar em espelhos sem medo de nos vermos". Nunca nos dobramos e curvamos perante eventuais donos de poder e supostos poderosos de Teófilo Otoni, em Minas Gerais e na nossa pátria Brasil.
Assim, voltando á Dona Maria Ferreira que ainda acorda ás cinco horas da manhã, fica uma pergunta: "Porque tão cedo?" e ela na sua eterna simplicidade, diz que agora faz café para seu filho mais novo que estuda para ser "Dotôr" na Universidade que fica ali pertinho mesmo. "É só ele descer o morro da igrejinha, passa pelo antigo Santo Marcolino e chega na Universidade. Daqui lá dá uns vinte minutos a pé e andando devagar".
Escutando história como essa é que chego á conclusão que meu pai, ao doar muitos pedacinhos de terra na antiga Favela do Subaco Fedendo, estava certo quando dizia a todos e a nós seus filhos: "Terra não tem dono. Terra é de Deus e se todos somos filhos de Deus, todos nós temos que ter direito a um pedaço de terra". Então, vendo exemplos como o do filho de Dona Maria Ferreira que estuda para ser um mestre na sua área escolhida, acreditamos que valeu a pena habitar aqueles morros que eram chamados de Subaco Fedendo e Cataquiabo. Afinal, caminhão de mudança e contas bancárias não entram em cemitérios.

Autor:Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado ao Dr. Paulo Chaves, médico psiquiatra, nascido e criado na antiga Favela do Subaco Fedendo e meu amigo de infância e juventude. Texto escrito em 10/10/2013, Barbacena-MG.

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