Zé Carrapicho era um caboclo enjoado que morava próximo ao campo de futebol do pela jegue. O dito campo de futebol ficava encravado no topo do morro do Eucalipto na cidade de Teófilo Otoni. Foi ali que nasceu José Mariano, o filho de Imaculada e Miguel sapateiro, que com o passar do tempo recebeu de todos os moradores, o apelido de Zé Carrapicho.
Os pais, assim como a maioria dos moradores não tinham um emprego fixo e viviam de fazer "bicos". A mãe, vez ou outra, arrumava umas trochas de roupa para lavar. O pai, assim como a mãe, vez ou outra, arrumava um sapato para consertar. Quando não arrumava um sapato para consertar, Miguel sapateiro passava o dia bebendo cachaça misturada com Mate Cola no boteco do Gerinha. Vez ou outra beliscava um tira gosto chamado de bucho de boi que era misturado com farinha de mandioca. Segundo Gerinha, o dono do boteco, aquele era o tira gosto preferido dos cachaceiros do morro do Eucalipto.
A mistura de Mate Cola com cachaça era muito apreciada e na falta da gloriosa Mate Cola, eles misturavam a cachaça com suco de groselha. Assim, o caboclo após uma três doses daquele "troço" vermelho, ficava num "fogão" capaz de espantar o mais feroz rabudo ou demônio como queiram. Mas, alguns cachaceiros mais elitizados gostavam mesmo era de pinga com raiz tipo; junça, carqueja, rufão, losna ou a famosa jatobá.
Zé Carrapicho, criado e vivido naquele submundo, tinha um dom que encantava a todos. O dom de jogar futebol. Mas, como existe uma teoria de que "o homem é produto do meio", Zé Carrapicho tornou-se um cachaceiro tão enjoado que a maioria dos assumidos e veteranos cachaceiros já nem deixavam que ele se aproximasse do boteco do Gerinha. O pessoal mais elitizado que gostava de uma raiz com cachaça, até faziam o sinal da cruz e batiam no balcão três vezes dizendo: Cruz credo, cruz credo!
Então, num domingo qualquer de muito sol na cidade do amor fraterno, a turma do Subaco Fedendo composta de Nego Galo, Gabriel, Geroninho, Velton, Jabuti, Jacaré, Garapa e outros mais vieram enfrentar o time do morro do Eucalipto no campo do pela jegue. Assim o pau comeu e comeu feio naquele domingo ensolarado.
Naquele dia ensolarado, só deu Zé Carrapicho. Vitória do morro do Eucalipto com três gols de Carrapicho e uma festa que só os mais humildes entendem. Zé Carrapicho foi carregado nos ombros por todos e até mesmo a turma elitizada fez questão de abraçar aquele que era tão abandonado. Dizem que após um tempo, Zé carrapicho se tornou ajudante em obras sociais da irmã Arcângela que fez um lindo trabalho social no morro do Eucalipto em Teófilo Otoni.
Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho-(Téo Garrocho)_ Texto dedicado à saudosa amiga, Irmã Arcânjela, que fez um trabalho social muito valioso no Morro do Eucalipto em Teófilo Otoni-MG. Texto escrito em Barbacena-MG aos 18/12/2013.
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