Joaquim da Silva, mais conhecido por Quincas, começa seu trabalho às 19 horas da noite e sai ás 7 horas da manhã seguinte totalizando 12 horas de serviço. Do seu posto de trabalho, percorre a pé uns 15 minutos até o ponto de ônibus e mais ou menos às 8:30 horas, ele chega em sua modesta residência. No frigir dos ovos, o operário Quincas passa mais tempo trabalhando que ao lado da sua esposa e filhos.
O operário Quincas recebe dos seus patrões os vales transporte que ao final do mês são descontados em 6% do seu parco salário mínimo. Quincas, assim como a maioria dos operários brasileiros estão neste patamar salarial ou até menos dependendo da região onde residem e trabalham. A gente se conheceu em um banco de praça. Ele sentado em um solitariamente assim como eu. Senti que iriamos trocar um dedinho de prosa quando observei, assim como ele, atentamente uma manifestação popular. Tais manifestações ainda fazem antigos militantes sentirem o coração pulsar mais forte.
Num certo domingo ensolarado de Teófilo Otoni, aproximei-me do operário Quincas e nos conhecemos naquele jeito de mineiro desconfiado muito comum ali pelas bandas do nordeste mineiro. Quincas confessou que foi um antigo ativista social e militante de partido de esquerda. Segundo ele, há mais de 15 anos decidiu mudar sua trajetória de vida. Confessou que ficou decepcionado com antigos companheiros que de um momento para outro rasgaram a cartilha da dignidade, honestidade, coerência e transparência que eram tão decantadas nas reuniões do seu partido até então qualitativo nas escolhas de seus filiados e ultra transparente com seu telhado de vidro.
De " tanto ver prosperar nulidades" em seu partido, Quincas acredita, assim como milhares de companheiros, que fez a coisa mais certa da sua vida. Quincas, acostumado e doutrinado em princípios de honestidade e transparência, não admite e nem tem mais motivos para lutar e viver dentro de uma organização maquiada de enganação. Quincas diz com um olhar distante e vazio que somente os baba ovos mais graúdos conseguiram e ainda conseguem viver mamando nas tetas do lamaçal da corrupção. Segundo o operário Quincas, é bem provável que nunca suaram o rosto como os cortadores de cana do Vale do Jequitinhonha ou calejaram as mãos como os nordestinos brasileiros que trabalham na construção civil em São Paulo.
O operário Quincas, ainda com olhar vazio e distante, diz que de quatro em quatro anos a boquinha é mantida através de um nepotismo disfarçado. Quando são derrotados em uma cidade, eles são acolhidos em cidades próximas onde são vitoriosos. Segundo o operário Quincas, esta prática viciosa vem causando estragos irreparáveis na política do seu antigo partido. Nepotismo tão combatido em épocas passadas e hoje tão comum no lamaçal da corrupção do seu antigo partido.
Confesso que me encantei com meu novo amigo Joaquim da Silva, o Quincas operário. Antes de nos despedirmos, ele me diz que está orgulhoso e feliz com a vida digna que vive atualmente e consegue " olhar no espelho sem medo de se ver". Segundo Quincas, ele já não sente saudade de "fazer cama" para tanto safado e corrupto. Que tenham um bom sono na penitenciária da Papuda em Brasília!!!
Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado a todos aqueles que ainda acreditam em ícones de honestidade e dignidade a exemplo de Luther King, Nelson Mandela, Darci Ribeiro, Dimas Perrin, Ghandi, Tim Garrocho, João Rosa de Souza, Paiada de Araçuaí, Nestor Medina e muitos outros " Guerrilheiros que não se corrompem". Texto escrito em Barbacena_MG aos 7/12/2013.
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