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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

PASTOR EVANGÉLICO ENGANADO EM TEÓFILO OTONI

Salustiana dos Anjos era costureira ali pelas bandas da antiga zona boêmia do carrapatinho em Teófilo Otoni. Dona Salu,como era mais conhecida, era esposa de Clarismundo Silveira ou pastor Mundão como era mais conhecido o neófito missionário da obra do senhor Jesus Cristo. Antes de se aventurar na missão de Pastor, nosso aguerrido Clarismundo era um humilde camelô. Mantinha uma pequena banca ali pelos arredores da antiga feirinha, vendendo farinha de mandioca oriunda da região dos "Porfiro" que fica no município de Catuji, Vale do Mucuri. Sem muita leitura, Clarismundo, ainda assim tinha o dom da oratória quando clamava por fregueses da sua famosa farinha. Então, como em feira tem de tudo, apareceu um cidadão pregando em praça pública a palavra de Deus. O aguerrido Mundão prestou muita atenção, não na palavra de Deus, e sim no bornal que recebia as ofertas do povo. Não deu outra e Mundão foi invadido pelo pecado da cobiça. Foi a um brechó, comprou paletó e gravata. Arrumou um velho caixote para pedestal e se auto intitulou Pastor Mundão, missionário da obra de Deus. Dito e feito, em uma semana ganhou mais dinheiro que um mês vendendo farinha naquele sol escaldante de Teófilo Otoni.
Em pouco tempo fundou sua própria igreja denominada de "Império dos aflitos por Jesus". Um fiel aqui, outro acolá e segundo estatísticas do mesmo, a "Império" já passava de mil seguidores fieis nas suas pregações e fiel nos dez por cento. "Uma oferta para Deus. Está escrito nas escrituras", rebatia ele quando era questionado por algum "satânico" que desconfia da reviravolta em sua vida.
Entre uma pedalada e outra na antiga máquina de costura marca Singer, Dona Salu observava vez ou outra o namoro de sua única filha que se enrabichou com um playboy cabeludo conhecido por Tico Preguiça. Segundo o tal cabeludo, ele era filho de um grande empresário do ramo de pedras preciosas que são muito comercializadas naquela região. Dona Salu, sábia mulher, desconfiava até mesmo do marido e suas pregações, pensava solitariamente: " Esse cabeludo não me engana. Ele vai dar o bote a qualquer hora na minha Guidinha". Só o pastor Mundão não via ou fingia não ver. fazia a tal "vista grossa" pensando nos milhões do futuro sogro de Margarida.
A vizinha Clotilde, obreira fiel da igreja do Pastor Mundão, vez ou outra dizia que daquela moita iria sair coelho. Clotilde era de fato uma esquentadora de bancos da igreja e não perdia um só culto. Para os seguidores da "Império", ela era uma mulher santa. Mas, assim não pensavam os moradores vizinhos da zona boêmia do carrapatinho que chamavam Clotilde de fofoqueira e possuidora de uma língua afiada. Quando ela passava na rua, as pessoas se benziam e colocavam as plantas de "Comigo ninguém pode" e "Espada de São Jorge" para espantar o "olho ruim da fofoqueira". Alheia aos comentários e de Bíblia colada aos seios, Clotilde dizia em voz alta: " Ô mundo cão".
Meditabundo, Pastor Mundão ficava em quartinho tipo escritório em sua residência. Passavas horas contabilizando as ofertas dos dizimistas. Assim, deixou Guidinha, sua filha, se esbaldar nos braços de Tico Preguiça que se sentia o dono da moita. E o barco rolou, aliás o pau rolou tanto que uma certa noite, Dona Salu em prantos, deu a noticia prevista por Clotilde de que iria sair coelho da moita. " Mundão meu nego, Guidinha tá embuchada".
Bem cedinho, após o galo ter cantado três vezes na madrugada, Pastor Mundão ligou seu fusca 79, comprado segundo ele, com árdua tarefa de pescar almas pecadoras e seguiu para o Bairro Ipiranga onde moravam os supostos pais do tal Tico Preguiça. Amante da cobiça, Pastor Mundão só pensava no grande casamento da filha com o tal playboy milionário. Já até se imaginava trocando de carro. Sonhava com um tal famoso Camaro amarelo. "Guidinha embuchada? Ora bolas, a carne é fraca", dizia para si mesmo.
Ao chegar no endereço, veio a decepção e o mundo cão profetizado pela obreira Clotilde. Aquela, sim, aquela fofoqueira próxima á zona boêmia do carrapatinho que dizia sempre: " Daquela moita, iria sair coelho". Tico Preguiça não era filho do tal empresário. Tico Preguiça, era na verdade o que dava banhos nos cachorros Bob e Lupi do grande empresário. Ainda que digno o seu trabalho, ele recebia apenas o salário mínimo. O mundo rodou na cabeça de Mundão. O pecado cobiça dava gargalhadas e parecia balangar na consciência: " Eu posso até te dar, mas, quando eu quero, eu também posso tirar". E,Mundão voltou arrependido para sua vida simples E, num sábado ensolarado de muito calor, a feirinha de Teófilo Otoni ganhou mais dois vendedores de farinha: Mundão e Tico Preguiça.
Dona Salu continuou suas costuras. Vez ou outra, ela dá um tempo para ajudar Guidinha a dar banho no Jacozinho, seu netinho, que, alheio aos comentários de moita, está todo feliz. A vida continua. Clotilde, aquela da língua afiada, mudou daquelas bandas para alegria de muita gente. Existe até hoje rumores que ela fundou uma igreja lá pelas bandas da antiga zona boêmia do Chico Sá. Mais ou menos pertinho do Buraco doce. Será???

Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho (Téo Garrocho)- Texto dedicado ao meu grande amigo Tião "Seleiro" em Araçuaí-MG. Tião,um grande artista na arte de fazer selas para cavalos. Tião, meu bom amigo trabalhador do Vale do Jequitinhonha. Texto escrito em Barbacena-MG, aos 27/02/2014

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