"Meu filho foi assassinado com seis tiros e ninguém ficou sabendo quem matou meu filho. O assassino estava numa motocicleta e com capacete. Meu filho foi metralhado em plena via pública. Meu filho tinha 16 anos e sinto que perdi um pedaço de mim. Fiquei mais revoltada quando escutei alguém dizer:"Mataram mais um marginal."Acho que se fosse filho de um "Grandão" dessa sociedade podre, eles já teriam descoberto quem matou. Aqui no Brasil, o dinheiro vale muito mais.
Veja este vestido preto com bolinhas amarelas. Eu ganhei e usei no dia em que enterrei meu filho tão jovem. Este vestido é bonito, mas, me deixa triste pelas lembranças do meu filho. Toda vez que eu bebo cachaça, eu fico olhando para o vestido. Brinco, passando as mãos esqueléticas pelas flores amarelas do vestido. Vou, na minha louca imaginação, juntando flor por flor e faço um "buquê".
"Saio do meu corpo" físico e encontro espiritualmente com meu filho que recebe o "buquê" de flores com um sorriso. E assim vou vivendo. Sinto saudades da roça. Sinto saudades daquele tempo em que eu subia nos pés de goiaba e ali ficava pensando. Comia a goiaba com bicho e tudo. Hoje descobri que aquele bicho não me fazia mal. O bicho hoje é o mundo em que vivo." Se eu ficar o bicho come, se eu correr o bicho pega."
Na roça, no Vale do Jequitinhonha, eu tinha o dia ensolarado e as noites estreladas, igual pipoca na panela. Aqui eu nunca mais olhei para as estrelas que, na minha imaginação, parecem ter viajado para outros corações menos sofrido que o meu. Toda vez que eu fico sentada na soleira do meu barraco, dá uma saudade muito grande dos banhos no Rio Jequitinhonha. Eu tremia e minhas mãos se uniam como se eu estivesse rezando.
Hoje minhas mãos tremem devido ao alcoolismo e nem rezando elas param de tremer. Vou ao buteco. Bebo e as mãos param de tremer. Deve ser o primeiro trago de bebida que jogo para o "santo". Aprendi isso aqui na cidade grande. Olho para o dono do buteco e ele sorri. Penso que ele é o "santo" que faz minhas mãos pararem de tremer. Coisa de doida, sei lá."
Autor: Téo Garrocho. * Texto do futuro livro: " Lôra, a prostituta politizada dos vales do Mucuri e Jequitinhonha" do autor.
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