Eu sou de um tempo em que tudo era pecado. Cresci, ouvindo que eu estava pecando ou prestes a pecar. Para completar, diziam que poderia passar uma temporada sobre as brasas do inferno e ainda cutucado a todo momento pelo ferrão do vermelho e chifrudo rabudo. Isto mesmo, capeta vermelho. Áquela época eu já tinha uma leve impressão que criaram a cor vermelha para demonstrar que aqueles que eram comunistas, a exemplo do meu pai, tinham parte com o rabudo.
Dona Chiquinha Ottoni dava aulas de catecismo para mim e vários companheiros de infância da antiga Vila Verônica, onde nasci. Uma certa vez , olhando para o firmamento ou céu como queiram, disse para dona Chiquinha que "o tempo tá prá chuva". Imediatamente ela puxou minha orelha e disse que "era pecado", pois só Deus sabia o tempo de chover. Assim, como castigo para o perfeito perdoar-me, eu tinha que rezar cinco pai-nosso, cinco ave maria e um credo.
Então, fui crescendo meio na dúvida em relação ao pecado. Afinal, eu era filho de um comunista e "tinha a quem puxar" segundo dona Chiquinha. Para fortalecer o pensamento dela, eu era o único a questionar aquelas penitências de carregar pedras na cabeça até o alto da igrejinha nossa senhora dos pobres e cantando orações pedindo chuva a Deus.
Meu pai, velho comunista, dizia que as melhores terras do Brasil ficaram nas mãos dos grandes latifundiários ou na mão dos imigrantes de olhos azuis. Meu pai dizia também que naquelas terras, as chuvas eram abundantes, com fartura e ai...eu perguntava a dona Chiquinha: "Deus esqueceu de nós?"
O tempo passou. Hoje, ao assistir o jornal na televisão, escutei falar que não vai chover no feriado prolongado da semana santa. Veio a lembrança de uma época em quase tudo era pecado. Meu pai, velho comunista, continua murmurando que pecado é uma pátria sem justiça social.
Autor:Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado ao meu amigo de juventude, Ivan Cavalcante, grande jogador de futebol dos anos setenta no Concórdia Atlético Clube de Teófilo Otoni. Em 06/03/2012.
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