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quarta-feira, 10 de outubro de 2012

LEMBRANÇAS DE LORA,A PROSTITUTA POLITIZADA DE TEÓFILO OTONI

Conheci, nos meus tempos de juventude, uma prostituta chamada Lora. Confesso que muitas vezes dormi com Lora que além de ser uma bela mulher com um corpo exuberante, tinha uma conversa agradável e me encantava com suas lembranças de quando era mais jovem no seu Vale do Mucuri. Eu devia ter uns 18 anos. Lora já era mulher de quarenta, cabelos longos, sorriso cativante e mente politizada. Meus amigos até questionavam minha tendência em sempre estar ao lado de Lora, a prostituta politizada.
A minha vida, aliás, a vida da minha família foi marcada por situações que os mais antigos de Teófilo Otoni conhecem. Já "comemos o pão que o diabo amassou", mas, estamos ainda vivos apesar das cicatrizes e feridas que ainda brotam vez ou outra. Lora dizia sempre para mim: "as estrelas brilham Téo. Enquanto elas brilharem haverá esperança na vida".
Lora teve apenas um filho que foi assassinado com vários tiros. Ele tinha apenas 16 anos. Ela sempre guardava nos olhos lacrimejantes o semblante do filho no caixão. No enterro, ela usou um vestido preto com bolinhas amarelas e chorou sozinha, assim como muitas mulheres que ainda sofrem discriminadas nesta imensa pátria de desigualdades sociais.
Assim, convivi muito tempo com Lora. Aprendi muito, muito mesmo e tenho certeza que você que lê este texto deve estar questionando onde quero chegar. Sim, quero chegar até você para falar de amor quando lembro de uma pessoa tão desprezada pela sociedade conservadora e tinha o dom de amar, de cativar a todos com seu sorriso, ainda que com alma triste.
Ainda que vivesse na prostituição, Lora era humana, tinha sentimentos, acreditava no ser humano quando falava de esperança na vida no brilho das estrelas. Ao relembrar de pessoas humildes, a exemplo de Lora, a prostituta, chego á conclusão que a essência da vida não consiste viver no mundo da prepotência, do ego vaidoso, na discriminação.
A essência da vida pode e deve estar no engraxate da esquina, no vendedor de pipocas, na faxineira que limpa nossas casas, no trabalhador assalariado, no professor mal remunerado, no motorista de taxi ou no radialista dos humildes que pode ser meu bom amigo Élbio Pechir tocando sua música preferida nas manhãs bonitas de Teófilo Otoni.


Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado ao meu bom amigo professor Wilson Colares, membro da Academia de Letras de Teófilo Otoni-MG.

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