Eu não sabia a denominação e de que material era feito aquelas urnas funerárias imensas, lustrosas, com um tipo de colchonete e toda enfeitada de rendas brancas em suas laterais. Foi quando há uns vinte anos atrás ou mais, trabalhei no cemitério municipal de Teófilo Otoni. Com o conhecimento adquirido na "profissão temporária", descobri que aquelas urnas eram caríssimas e eram chamadas pelos coveiros de "boca de leão". Talvez devido ao tamanho ou tamanho do bolso de quem preferiu ou teve condições de pagar. Cada um tem seu gosto e precisamos respeitar o sonho de consumo das pessoas, principalmente em países que mede a grandeza da pessoa pelo que veste, pelo carro luxuoso, pela casa de moradia, pela conta bancária, pelo clube que frequenta e finalmente pelo caixão mortuário que na certa será muito apreciado no velório.
Meu amigo Ângelo dos Prazeres, o Anjinho da saudosa dona Fiota que morava na favela do Cataquiabo em Teófilo Otoni era mesmo um questionador quando encontrávamos ali pela subida do morro do cemitério no barzinho do senhor Mané vaqueiro. Entre uma cachacinha boa e outra, eu falava com ele sobre as coisas caras compradas por pessoas da alta sociedade ou ricas materialmente. Anjinho, como era chamado, falava para mim: " Olha aqui Téo, tudo que eles compram não é para seu bico e nem para o meu. Vê se entende a realidade meu amigo e para de pensar. Senão você vai ficar doido. Aqui na terra, Téo, os homens só são iguais na horizontal, ou seja, quando morrem". Verdade ou não, tem fundamento a reflexão do filósofo Anjinho.
Nunca me esqueço que após mais uma rodada de cachaça da boa e alguns torresmos, eu abria a boca para comentar sobre apartamentos luxuosos, fazendas com milhares de cabeça de gado, passeios em "maiame", férias na Flórida, contatos bancários na Suíça e o amigo Anjinho entrava na conversa para dizer que " não era para meu bico" e "vamos pagar a conta porque seu bico já está ficando torto de tanto tomar pinga". E assim voltávamos para casa. E, eu ainda tinha que escutar o Anjinho com aquele bafo de onça dizer bem perto do meu ouvido: "Acostuma meu filho com seu feijãozinho com arroz, um angu com quiabo e uns pedacinhos de carne seca (Jabá)".
Pois bem, estou relembrando tudo isto para retratar mais ou menos a vida de milhares de brasileiros há uns anos atrás. Um feijãozinho com arroz e mal mal uma naquinha de carne seca. O brasileiro andava angustiado, irritado, alma ferida. Lembro até que tinha um tal partido político que ia para as ruas, manifestava junto com o povo a insatisfação geral e etc. etc. O tempo passou, aquele partido se tornou governo e confesso que tanto eu, como anjnho e o povo, até melhoramos um pouco nossas vidas. Um puchadinho aqui, outro acolá, um piso florido na casa, um iogurte para os catarrentos, um celular de 80 contos, uma roupinha da 25 de março para a patroa, uma TV melhorzinha para assistir o Gugu e o Silvio Santos, um terninho simples com gravata da China e por ai vai.
Mas, ultimamente tenho notado o povo meio carrancudo. Há muitos anos não vejo meu amigo Anjinho e fui conversar com meu amigo Sabará para saber o motivo de tanta irritação do povo. Sabará, beirando já os sessenta anos, em sua sabedoria diz que "o povo tá assim porque ele quer mais qualidade de vida, mais saúde, hospital, médico, estradas federais melhores, menos corrupção, transporte coletivo mais barato e melhor, melhor atendimento no oferecimento de serviços como bancos privados, telefonia melhor, fim do fator previdenciário ( aquele partido, lembra? era contra e agora...), altos salários dos políticos, cadeia para corruptos e bandidos da política, polícia sem ranço da ditadura, mais educação, melhores salários para professores, polícia, servidores públicos, menos gastos com mídia, menos cargos comissionados( Uma vergonha o cabide de empregos e apadrinhamentos políticos), mais segurança, menos impostos ( ou então fazer alguma coisa com tanto imposto cobrado), gasolina mais em conta, energia elétrica mais em conta. Afinal, diz-me Sabará, " O que a gente faz com apenas 678 reais de salário? Tá ficando igual antigamente e a mulher e aquele partido, aliás, "a vaca tá indo pro brejo e só falta um ano". Sabará, meu amigo, está certo. É a voz do povo.
Aqui para nós, eu e acredito que você também nunca visitou Brasília, Eu, pessoalmente, enquanto reinar ali em sua maioria aquela cambada de políticos corruptos, prefiro ficar aqui embaixo do meu pé de pitangas. Aquele lugar, Brasília, foi infestado desde a sua fundação, com raríssimas exceções, por uma corja de corruptos, ditadores, torturadores e mentirosos que vivem ás custas do suor do trabalhador brasileiro. E, não é só eu que falo, é uma multidão de brasileiros que não vê a hora de "derrubar a bastilha brasileira". A francesa caiu devido ao aumento do pãozinho. Sim, do pãozinho!!!
Para minha alegria, acabo de receber telefonema do amigo Anjinho. Para minha surpresa, ele mudou de Teófilo Otoni e está morando em Brasília. Diz que montou uma pequena fábrica de urnas funerárias por aquelas bandas e "perto do congresso". Segundo ele, serão fabricadas urnas para "o bico dos políticos". As urnas serão denominadas de "boca de jacaré" e confeccionadas em madeira forte tipo peroba e jacarandá.
Perguntar não ofende e questionei ao amigo Anjinho sobre gastar madeira tão boa para enterrar defunto corrupto e Anjinho com sua sabedoria ímpar diz: "Olha Téo, caiu naquela urna não volta mais. Nem cupim abre o lacre ou "come" a madeira. Assim, o caboclo não volta mesmo e o povo brasileiro agradece".
Realmente. Meu amigo Anjinho tem razão. É preciso urgente que acabemos de vez com este bando de vândalos ( não é assim que chamam quem quebra o patrimônio?) acampados em sua maioria no cenário político brasileiro a nível municipal, estadual e federal. Tudo indica com certeza que o povo está mesmo se organizando. Como dizia Leonardo Boff : "Sonho que se sonha só é ilusão. Sonho que se sonha junto é realidade". É verdade!!!
Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado ao meu bom e humilde amigo de juventude, Vereador Rômulo Barreiros, um exemplo de honestidade e transparência em Teófilo Otoni-MG, em 13/07/2013, Barbacena-MG.
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