Eu sempre fui chegado a um dedinho de prosa com alguns amigos e amigas que marcaram minha vida em Teófilo Otoni. Até um certo tempo morei ali e após 1974 fui andar pelo Brasil onde conheci povos maravilhosos e aprendi a aprimorar minha vida em convívio com diferentes culturas.
Mas, as raízes não esquecemos e quando posso retornar à minha terra natal, fico sentado na pracinha com alguns daqueles amigos ou amigas que a gente não consegue esquecer e o assunto não poderia ser outro: Lembrar de fatos passados que marcaram de alguma forma nossa convivência em Teófilo Otoni. Para ser sincero e sem muita delonga, nossa turma era irreverente para os padrões da época. Havia gente que comentava sermos nós um povo "pinel". Havia sempre, naquela turma, uma roupa diferente, sapato diferente, pulseiras de couro, cabelos longos, músicas tipo rock ou Wandré, forma de pensar diferente numa época de ditadura militar, onde os direitos individuais e liberdade de expressão foram banidos do contexto da sociedade.
Para se juntar á nossa turma, o cara tinha que assumir a irreverência e suportar as línguas afiadas de uma sociedade conservadora que, por vários motivos, ainda não estava preparada para entender aquela forma de pensamento onde o importante para nós era a contestação a grande parte de conceitos, muitos arcaicos, que tentavam nos impor nas escolas, igrejas e nas ruas.
Lembrando daqui e dali, nunca vou esquecer do meu inteligente amigo "Barracão", irmão de Dr. Walcir Costa, que fez um aparelho de rádio transmissor. Eu e Barracão sintonizávamos o aparelho na onda da rádio local e o povo da Vila Verônica só escutava o que a gente transmitia ao vivo. Meu Deus, aquilo quase deu "um bode do diabo". Teve muita gente da turma dedo duro da ditadura militar tentando nos enquadrar na famigerada e arcaica Lei de Segurança Nacional. Quanto atraso, quanto atraso...
Os cabeludos, como eu, eram muitos e uma certa vez tive que correr muito de um pessoal dali do morro da Copasa que, de pedras em punho gritavam em coro: "Olha a cabeleira do Zezé, será que ele é...será que ele é...". Cruz credo, cruz credo. Mas, depois veio o cabeludo Dida, o cabeludo Petrônio de Jupiro, Peixe Cobra, Rossine, Tadeu Franco, Paulinho e Aécio Dantas, Jadir Barbosa, Nuno Melgaço, Zé Ramiro Geoking, Jorginho Maravilha, Omar Garrocho, Fernando Taipina, Artur Guedes( Tusa). Jorge Gomes, Mauricio "Negão" e muitos outros.
Para terminar a lembrança daquela turma de "doido" para a época, nunca vou esquecer das inúmeras boites que existiam em Teófilo Otoni e algumas fascinavam nossos olhos e desejos com aquelas luzes negras, a exemplo da Boite Pilão, Boite Obaluaê, Itaoca e muitas outras. Para terminar noites de irreverência, a gente dava um pulinho ali pelas bandas do Chico Sá, a maior zona boêmia do Nordeste de Minas Gerais. Quem conheceu não esquecerá jamais. Assim como o velho trem a lenha da antiga Estrada de Ferro Bahia Minas, tudo ficou mesmo na saudade." Velhos tempos, velhos sonhos.."
Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho (Téo Garrocho)- Texto dedicado a todos aqueles que preservam a história da nossa terra natal, Teófilo Otoni. Em 23/08/2013-Barbacena-MG.
0 comentários:
Postar um comentário