Quando a gente pensa que já viu ou sabe de tudo na vida, aparece sempre alguma coisa nova para justificar que somos realmente eternos aprendizes. Não sei explicar o dom ou doença, mas tenho o costume ou mania de não esquecer de fatos passados. Eu tinha um tio de nome Silvio que era carinhosamente chamado pelo apelido de "Tussa" e comparado com ele sou um iniciante na arte de relembrar fatos passados. Tussa sabia de tudo e inclusive em dia de finados ele ficava no cemitério falando detalhadamente como sicrano ou beltrano havia falecido, etc.etc.
Mas, voltando á minha memória, uma certa vez ao acompanhar um candidato a deputado em visita a um pequeno povoado onde trabalhei e residi por alguns anos e já no veículo em que estávamos, comecei a falar do lugar citando nome e apelidos de quase todos os moradores como é de costume em pequenas Vilas e povoados de Minas Gerais.
Num certo momento, o então candidato perguntou-me há quanto tempo eu tinha partido daquele lugar e quando respondi, ele disse: "Olha rapaz, você está de parabéns. Sua memória é impressionante. Se fosse eu, já teria esquecido de quase todos". Acostumado ao esquecimento de políticos, nem questionei o tal cidadão.
Assim, vez ou outra, fico lubrificando a máquina da memória que me trás coisas simples, coisas alegres e a maioria coisas tristes que já presencie neste mundo tão carente de amor e fraternidade. Assim, escrevo para minha satisfação e penso, para poucos leitores e amigos que me honram com as leituras dos meus simples escritos. Confesso que não tenho pretensão de ser conhecido pelos escritos ou pelo que penso. Sou avesso a honrarias, mídia, sucesso e por ai vai. Tive tantas decepções na minha vida que não me preocupo com vaidade de ego, coisa comum em alguns seres humanos.
Gosto da escrita simples como simples fui e sou. Gosto de escrever aos simples que foram maioria na minha convivência pessoal. Gosto de escrever aos que ficam em silêncio lendo "meu coração", até porque sempre fui um carente de ombros amigos, principalmente na minha infância e juventude. E, nem preciso explicar o motivo de tanta carência...
Lubrificando daqui e dali a minha memória, lembrei de um amigo em Teófilo Otoni que se chamava Mário e tinha o apelido de Mário "Cavaquinho". Ele, assim como eu, gostava de futebol. Certa vez, o Mário cavaquinho trouxe um cara para jogar no nosso time. Tudo bem. Só que olhei para o cara e observei que o cara era "caôlho" e cheguei até o Mário e falei: "Cavaquinho, o cara é cego de um olho". E, Mário respondeu: " Olha aqui Téo, em terra de cego, quem tem um olho é rei".
Cego ou não, o tal sujeito jogava bem futebol e não gostava de ser chamado pelo nome correto. Ele jurava de pés juntos que "os pelos arrepiavam" quando a torcida feminina gritava em coro: " Vai caôi, faz mais um gol prá gente ver".
Pois bem, para encerrar lembranças de deficiência visual, comentei o caso do jogador Caôlho com meu vizinho José que mudou-se de São Paulo e reside próximo á minha casa. Sujeito de quase setenta anos, sério, boa índole e que sempre me convida para acompanhá-lo em cultos de uma igrejinha de fé distante uns 10 quilômetros via BR asfaltada e com muito movimento de tráfego de veículos.
Muito religioso, José, ao escutar meus comentários dentro do veículo, diz que "essas manifestações são coisas de Deus e quando Deus quer, até um cego dirige um carro". Confesso que senti um frio na espinha dorsal quando meu amigo José completou seu raciocínio: "Veja você Téo, eu sou cego de um olho e dirijo tranquilamente. Coisa de Deus".
Como sempre fui avesso a andar de carro, é bem provável que eu não aceite mais o convite do amigo José para acompanhá-lo. Vou continuar sendo mais um cego em terra de rei com um olho só. Cruz credo, cruz credo!!!
Autor:Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado ao meu grande e bom amigo de juventude, Marivaldo Aragão ( Maroto), um grande jogador de futebol em Teófilo Otoni. Em 12/08/2013, Barbacena-MG.
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