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quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

BATE PAPO NA PRAÇA TIRADENTES EM TEÓFILO OTONI

Conheço várias partes do Brasil. Vez ou outra alguém fala para mim que esteve em algum lugar e que lá é assim e assado de bom. Acredito, até pelo estilo de vida, que sou uma pessoa modesta, e humildemente digo á pessoa que também já estive naquele lugar assim e assado de bom referido por ela. Diversas vezes observei estampado nos rostos das pessoas um certo espanto ao saber que conheço muitas regiões da minha pátria. Interessante. Observo que no Brasil, viagens turísticas parecem ainda ser privilegio de uma classe social mais abastada. Ledo engano na minha opinião, aqueles que como eu não juntam "tesouros materiais" parecem saber aproveitar este dom maravilhoso que Deus nos proporcionou, ou seja, a vida.
Outro dia, meu amigo Chicão, um bom pedreiro que estava fazendo um pequeno serviço na minha modesta moradia, entre uma rebocada daqui e outra dali, disse para mim que vai voltar a morar no Rio de Janeiro. Segundo Chicão, o Rio de Janeiro é de fato uma cidade maravilhosa. Fiquei ali ouvindo e entre uma baforada daqui e outra dali naquele fumo "bão" do mercado de Araçuaí, disse ao meu amigo Chicão que eu, quando mais novo, visitava muito meus parentes que residem no Rio de Janeiro. Até ai tudo bem, mas, quando eu disse que meus parentes moravam na Rua das laranjeiras e na Avenida Atlântica em Copacabana onde tomei muito banho de mar e paquerei muita menina bonita, ai meus amigos o bicho pegou. Foi então que meu amigo Chicão pedreiro retrucou: "Olha seo Téo, o senhor não está enganado? Ali pelas bandas de laranjeiras e Praia de Copacabana só mora granfino e magnata que tem muito dinheiro". Pensei bem e deixei o assunto morrer ali mesmo. Afinal eu tinha que respeitar a humilde cultura do meu amigo operário que na minha opinião não é tão pequena se comparada a muitos engravatados que vivem de aparência dizendo que " são isso e aquilo", "tenho isso e aquilo", quando na verdade não passam de comedores de couve. E olha lá...
Vez em quando eu lembro de um certo político lá de Araçuaí que era (não sei se ainda é) um tremendo pão duro. Vez ou outra ele parava o carro perto do açougue e comprava uma naca de carne moída. Eu, ali dentro do carro de carona, ficava matutando comigo: O ser humano é complicado mesmo. Um homem tão rico materialmente e comendo carne moída. Nada contra a carne moída que até adoro misturada a um angu e quiabo. Como isso foi a uns 16 anos atrás, é bem provável que os bens materiais aumentaram para serem divididos aos herdeiros que na certa vão querer degustar mesmo é um bom churrasco de picanha e filé "minhom".Verdade ou mentira?
Ilustrando mais a complicação do ser humano, outro dia em meu trabalho, entreguei uma correspondência jornal do Conselho Regional de Odontologia de Minas Gerais a um odontólogo (dentista). No verso do pequeno jornal, havia uma fotografia do Arnaldo de Almeida Garrocho que foi (ou é) presidente do tal Conselho Regional de Odontologia de Minas. Com alegria e satisfação, eu disse ao dentista que o Arnaldo era meu primo. Ele, o dentista, na maior cara de pau falou: "Me engana que eu gosto seo Téo, esse cara aqui é um grande mestre na área de odontologia". Voltei a pensar que o ser humano é mesmo complicado. Caso eu estivesse engravatado e de Camaro amarelo, ele acreditaria. Ou não?
Assim, vou colecionando espantos em relação à minha modesta pessoa. Tanto é que um outro falou para mim que iria realizar um sonho de muitos anos. Ele iria conhecer o estado de Santa Catarina e participar daquela famosa festa alemã com muita música e cerveja. Pois bem, quando eu disse a ele que já morei em Blumenau, o sujeito simplesmente começou a sorrir e sorrir muito mangando da minha cara. Pensei bem e deixei para lá. Antes dele afastar, eu disse: " Se você não fizer reserva em hotel de Blumenau, vai acabar ficando hospedado em Ilhota ou Gaspar, pequenas cidades do Vale do Itajaí, antes de chegar a Blumenau". O sujeito escutou e sorriu mais ainda, na verdade o granfino não estava acreditando em mim.
E para terminar este lero lero de complicação do ser humano, lembrei de um amigo operário que era segurança do trabalho na última fábrica onde trabalhei. Certa vez, a gente estava trocando um dedinho de prosa e ele começou a elogiar o presidente Lula. Foi então que no finalzinho do dedinho de prosa, falei para ele que eu conhecia o Lula e até tinha fotografias ao lado dele.Ah! pra que! o meu amigo então disse:" olha Garrocho, vê se enxerga meu filho. Tirar fotografia ao lado de Lula não é para qualquer um". E ainda foi embora sorrindo e dizendo que eu era mesmo um grande gozador.
Á noitinha em minha casa, matutei bem e resolvi no outro dia levar as fotografias ao lado do Lula e uma papelada velha que ainda guardo dos meus tempos de militância política. Quando mostrei ao meu amigo, ele quase caiu para trás e saiu mostrando a todos os os operários da fábrica. Foi então que naquela fábrica, eu passei a ser conhecido pelo apelido de "amigo do Lula".
Ah! quase ia esquecendo. Ganhei no final deste ano, dois chaveiros. Um veio de Moscou na Rússia. Presente de uma amiga ativista social e outro veio de Blumenau. Lembram do cara que ficou sorrindo e mangando da minha cara? Pois é, ele não achou vaga nos hotéis de Blumenau. Ficou hospedado em Ilhota, pertinho de Blumenau. "Igualzinho você falou seo Téo e ai lembrei do senhor e trouxe este chaveiro como lembrança. O senhor é mesmo um cara viajado". Pois bem, ainda continuo acreditando que o ser humano é muito complicado. Ah! se eu tivesse um Camaro amarelo!!!

Autor;Walter Teófilo Rocha Garrocho(Téo Garrocho)- Texto dedicado à minha inesquecível ex.Professora Dona Dulcina Regina Molina em Teófilo Otoni. Dona Regina Molina, um ícone da cultura na cidade do amor fraterno. Texto escrito em Barbacena aos 22/01/2014

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