Trabalhei durante oito anos no cemitério municipal de Teófilo Otoni. Exatamente de 1985 a 2003. Quando algum amigo perguntava ao meu pai ou á minha mãe sobre mim e por onde eu andava, eles respondiam que eu estava lá no cemitério municipal. "Meu Deus, tão novo, dona Laura","Téo? morreu de quê, seo Tim?", "Era um bom rapaz, que Deus o tenha". Eram frases de reação e espanto ás respostas dos meus pais em relação a mim que trabalhava no cemitério.
Trabalhando ali, confesso que aprendi muito,ou seja, amadureci minha concepção sobre a vida. Foi ali que aprendi que a morte é mesmo " como um navio de passageiros que parte deixando todos tristes e alegria quando este mesmo navio aporta em outro porto". Não me lembro do nome do rabino que fez esta profunda comparação.
Para muitos e não são poucos, a pessoa morre e acabou. Não acreditam em julgamento, paraíso ou inferno. "Aqui se faz, aqui se paga" e por ai vai. Penso e sempre pensei que não existem pessoas ruins. Penso que são os problemas íntimos, particulares, que levam milhares de homens e mulheres a possuir um coração duro. Penso também que enquanto durar o fechamento da alma, a pessoa acaba ficando sozinho na vida. Quem tem o coração magoado acaba acumulando uma ferrugem na alma. Não perdoa e jamais pede perdão pelas ofensas cometidas ou recebidas.
Lembro de um jovem assaltante que foi assassinado com apenas 20 anos e seu corpo estava em um mísero caixão para indigente no necrotério á espera de algum parente para sepultamento. Foi quando chegou uma senhora e pediu para ver o jovem morto. Notei que ela ficou alegre com a morte do jovem e até perguntou se eu tinha a cal e uma pá. Perguntei a ela o que ela queria fazer e ela respondeu-me que tinha prometido "quando aquele desgraçado morresse, ela ia jogar uma pá de cal na cara dele". Assim,por certo, aquela senhora ainda não havia conhecido a arte do perdão e por certo viveria por muito tempo com ódio no coração, impedindo até mesmo sua felicidade.
Naqueles oito anos que trabalhei no cemitério, descobri que a essência da vida é o amor. Quem ama perdoa sempre. Penso que, se Deus é perfeito e perdoa a todos nós, por qual motivo nós que somos seres imperfeitos não perdoamos? Penso que já descobri a essência da vida e você...?
Autor: Walter Teófilo Rocha Garrocho-(Téo Garrocho)- Texto dedicado a Deus, pelo perdão ás minhas fraquezas e imperfeições. Barbacena,em 22/10/2012